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A Avaliação II de História Econômica, Social e Política Geral

Por:   •  19/12/2018  •  1.790 Palavras (8 Páginas)  •  484 Visualizações

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P: conte-nos um pouco mais sobre as diferenças que você aponta entre as ditaduras e tiranias e o totalitarismo do século XX.

R: de forma mais geral posso dizer que as ditaduras e tiranias têm um aspecto mais legalista. Elas se fundamentam na supressão e alteração de leis que visam legitimar o sistema político vigente. O totalitarismo é algo mais interior, mais presente no comportamento e não somente na letra da lei. Violência, tortura, caçada aos opositores do regime, valorização do exército, entre outras características são comuns entre as três formas – ditadura, tirania e totalitarismo – porém, no totalitarismo há característica que o diferencia das demais experiências não democráticas: a supressão da individualidade que não permite que o individuo enxergue as particularidades da sua realidade. Neste sistema, as leis a serem seguidas são as leis naturais ou históricas, o que justifica, no discurso totalitário, por exemplo, a eliminação imediata de qualquer um que não siga tais leis históricas ou naturais, que no final do dia assumem um caráter ideológico. Além do mais, o combate contra quem não segue as leis históricas/naturais e a ideologia advinda desta, não ocorre somente no front, este combate é diário e presente em todos os níveis: na politica, na propaganda ideológica, na ação das polícias secretas que caçam e eliminam os seus opositores. Nada e nem ninguém passa incólume ao totalitarismo.

P: o nacionalismo é uma forte característica do totalitarismo. No século XIX, houve no Brasil, por exemplo, um movimento de busca de uma identidade nacional, pautada pelo IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro). Em sua opinião, por que a experiência nacionalista brasileira não tomou as mesmas dimensões do nacionalismo europeu?

R: o caso brasileiro é bastante interessante e diferenciado. A narrativa adotada para contar a história pouco se ligava a verdadeira história do Brasil. A adoção dos modelos históricos europeus para criar a sua identidade refletia apenas, e em pequena medida, a história das elites para as quais os estudos do IHGB eram direcionados. Quando você exclui da narrativa, ou relega pouco espaço, a maioria da população, a narrativa proposta não se massifica. Na Alemanha, por exemplo, o discurso de Hitler não somente chegava a toda população, como era amplamente divulgado e defendido pela maioria dela (sabemos que existia oposição ao regime, entretanto a maioria da população apoiava o discurso nacionalista de Hitler). No Brasil, houve condições para a massificação do discurso nacionalista, contudo, este foi mais forte em alguns aspectos. A fundamentação política do nacionalismo brasileiro ficou restrita as elites, que por algum motivo não conseguiram transpor o seu discurso para a realidade. Em outros termos, a população até que comprou o discurso nacionalista, entretanto, não o praticou de forma ideológica e política como no caso da Alemanha. Isto nos remete ao fato de que não basta somente a importação de um discurso ou pensamento político/ideológico. Deve haver identificação da população com este discurso. A sociedade deve estar atomizada, o que não ocorreu no caso brasileiro.

P: vivenciamos hoje a ascensão de uma “nova direita”, em inglês a out right. A eleição de Donald Thrump nos EUA, a virada conservadora na Europa e tantos outros exemplos de pensamentos e manifestações políticas que nos remete as práticas totalitárias do século XX. Estamos na iminência de um retorno ao totalitarismo experienciado no início do século passado?

R: acredito que não e sou bastante otimista quanto a isso. É claro que os eventos recentes são muito preocupantes e não podem ser negligenciados como se a experiência do nazismo nunca mais fosse se repetir. Contudo, o que vejo ocorrendo é nada mais do que o principio físico de ação e reação. Ao longo dos últimos anos passamos por transformações culturais e sociais que abalaram os alicerces do conservadorismo: a liberdade sexual feminina e homossexual, a luta e ganhos de direitos políticos e sociais das minorias étnicas, a inclusão das camadas mais pobres da sociedade na lógica de consumo, entre outros. A nova direita está tentando retomar os espaços ideológicos e mesmo político que perdeu ao longo dos anos. Os avanços sociais ocorridos no Brasil, por exemplo, tiram a elite do protagonismo histórico que sempre teve. O mesmo ocorre nos EUA e na Europa, guardada as devidas proporções e particularidades de cada contexto. A reação é a mais óbvia: a tentativa de retomada destes espaços. O que diferencia este momento histórico do momento vivenciado no século XX é a voz conquistada pelas minorias, que mesmo não tendo o mesmo poder político das elites não se calam frente aos ataques que sofrem, muito pelo contrário, são vozes combativas, que de uma forma ou de outra são ouvidas, mesmo que ainda não compreendidas em certa medida. Ainda existe uma série de barreiras a serem quebradas, contudo, é importante observar que para cada voz que se levanta com um discurso totalitário existe outra que responde com um discurso progressista. Não é como se não houve oposição ao totalitarismo no século XX, mas os avanços tecnológicos na área da comunicação permitiram que as vozes opositoras que antes eram caladas pelo regime se manifestem. É uma batalha diária, diferente da que ocorria nos regimes totalitaristas, mas que por outro lado, compete com os discursos conservadores em voga hoje em dia, o seu alcance é maior, entre outros elementos que não permitirão que a experiência totalitária como conhecemos no século XX não se repita. Como disse no inicio é o principio de ação e reação.

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