Resenha do livro Autonomia e Desigualdades de Gênero - Flávia Biroli
Por: Rodrigo.Claudino • 29/3/2018 • 4.068 Palavras (17 Páginas) • 415 Visualizações
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Contrariamente ao liberalismo que pretende levar a autoderterminação como valor fundamental, e que as preferencias e escolhas dos indivíduos são legitimas pois são por eles validadas (foco no individuo como fonte de legitimidade); deve-se reconhecer que não há igual reconhecimento dos indivíduos como agentes morais capazes , mas essa condiçãose aplica apenas a parte desses indivíduos. (57-58)
“ é interação emtre diferentes aspectos que caracterizam os indivíduos socialmente, diferentes “traços” e diferentes elementos das suas trajetórias e pertencimentos, que define suas identidades , com as vantagens e constrangimentos que poderão estar a elas associados em contextos específicos.” – vulnerabilidade socialmente causada (Okin) – p 61
Desafios: (61)
- “como conciliar a analise critica dos limites efetivos ao exercício da autonomia que correspondem entre outras coisas ao “treinamento” social (ainda que difuso) de determinados indivíduos para a subordinação, com a manutenção do igual respeito pelos indivíduos, como agentes capazes de decidir sobre sua própria vida?”
- “como conciliar a defesa filosófica e politica da autonomia como valor fundamental para a democracia com a manutenção do respeito pelas identidades já constituídas – pelo respeito que confere valor, segundo os próprios indivíduos, a sua vida?”
- “como conciliar a defesa da vocalização das perspectivas, interesses e vivencias dos indivíduos, na contramão de um dos aspectos da dopminação que é justamente o seu silenciamento, sem abrir mao do escrutínio critico das preferencias e interesses já constituídos, da critica as escolhas e formas de vida que colaboram para reproduzir a dominação e para corroer as bases necessárias a construção da scondições para a agencia autônoma?”
Questão da maternidade:
a valorização da maternidade: “a sobreposição entre mulher e maternidade colaborou, historicamente, para limitar a autonomia das mulheres. .... restrição a determinadas atividades e formas de vida que foram consideradas conflitivas com a divisão sexual do trabalho, assim como o controle da sexualidade, e da capacidade reprodutiva das mulheres. Mas tão importante quanto as restrições, é a construção da maternidade como valor positivo em um quadro que promove identidade de gênero convencionais, (Badinter, 1985) naturalizando a divisão sexual do trabalho dentro e fora de casa e afirmando uma posição especial e mesmo exclusiva para as mulheres no cuidado com as crianças e na gestão da vida domestica” (63)
não há, no entanto, “como dissociar as formas de dominação ativadas pela naturalização da representação das mulheres como mães e o que há de singular e significativo na vivencia da maternidade pelas próprias mulheres” (64)
A identidade associada à maternidade, apesar de ser socialmente produzida, que propicia a permanência e naturalização de um lugar desvalorizado e de submissão (desvantagem e subordinação) atribuído à mulher, desfavorável ao exercício da autonomia, pode ser cara a muitas mulheres que se indentificam e se dedicam a ser mães. Deve se ter o cuidado de não tomar a experiência dessas mulheres, como de menor valor e cujas vidas poderão ser tratadas instrumentalmente. Não pode de se deixar legitimas as motivações dos indivíduos apesar de compreender e reconhecer as condições opressoras e estruturais que definem o exercício da autonomia e sua restrição. Deve-se valorizar a experiencia das mulheres, narradas por elas mesmas, ainda que essas se definam em meio a redes intricadas de incitações e constrangimentos sociais. (61-62)
“ganha importância a observação simultânea da permanência de relações opressivas e das ressinificações das normas e convenções sociais ao longo do tempo, com seu impacto para a vivencia dos indivíduos e a contrução das identidades (Fraser, 1997)” (62-63)
A ênfase apenas nas relações de opressão a qual a identidade relacionada a maternidade aparece, na maioria das vezes, sem desconstruir mas para naturalizar essas relações, pode levar a desvalorização (politica e cognitiva) das opções feitas pelos indivíduos, assim como de sua vivencia concreta e especifica. (63)
Isso sem cair numa positivação da maternidade (maternalismo*)e da família associadas a um valor ético do cuidado (ética feminina diferenciada – biroli p 76) que cabe às mulheres exercer e se valorizar a partir desse valor. Por isso, deve-se sempre levar em consideração as “contribuições importantes das abordagens que focam as amarras do sexismo e em como elas impedem a ampliação das condições necessárias a autodeterminação das mulheres. “ (63)
*”na contramão das criticas feministas a naturalização do pertencimento das mulheres a esfera privada e de seu papel como mães, o maternalismo inverte o sinal e positiva – em vez de propriamente politizar – as relações e competências que assim se definem, mas também valores que colaboram para justificar a divisão dos papeis de gênero”
Conclusão: “ A naturalização dos papeis de gênero, na qual a maternidade é um dispositivo fundamental, colabora para a reprodução dos obstáculos a atuação das mulheres nas esferas profissionais e politica ..., na esfera doméstica e familiar .... e, de modo mais amplo, a ampliação das condições para sua autonomia. Mas as experiências – bastante distintas – das mulheres como mães e as vivencias que estão relacionadas à divisão sexual do trabalho tem relação direta com o modo como percebem a si mesmas.” (64-65)
A exclusão e ignonorancia dessas narrativas (sinificadas pelas próprias mulheres que se indentificam com a identidade de mães – a maioria da classe trabalhadora) significa reforçar a lógica de silenciamento e instrumentalização. (65)
“corpo vivido” – Iris Marion Young (on female body experience) - p 69 - 77:
Esforços: 1. Analisar criticamente os discursos normativos sobre o corpo. 2. Analisar as singularidades das experiências vividas e corporificadas
Por Beauvoir e Merleau-Ponty (tradição fenomenológica existencialista) – o conceito é definido como “ideia unificada de um corpo físico agindo e tendo experiências em um contexto sociocultural especifico”, “corpo-em-situação” – corpo: convergência entre facticidade e situação. “ O corpo é o que as relações concretas e o ambiente social permitem que seja, mas ganha existência também a luz dos projetos e formas de atuação
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