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A ANTROPOLOGIA CULTURAL

Por:   •  2/10/2018  •  3.512 Palavras (15 Páginas)  •  647 Visualizações

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E aí entra a relação com o livro lido na matéria de Antropologia Cultural, em que através dele, é possível ver que esse contato com a alteridade, com o estranho, com o diferente, esteve presente desde os primeiros registros da nossa história.

Na Pré-história da Antropologia, por exemplo, podemos ver o primeiro contato do homem europeu, com a descoberta de novos continentes e seus habitantes, e os questionamentos surgidos ao se deparar com essa cultura tão diferente.

O questionamento inicial se daria à “aqueles que acabaram de serem descobertos pertencem à humanidade?”. E a partir daí começam a nascer duas ideologias a respeito, em que uma seria a recusa do estranho, afirmando que quem havia sido descoberto não fazia parte da humanidade, e a oura a fascinação pelo estranho, incluindo, aqueles que haviam sido descobertos, aos humanos e considerando que eles poderiam obter uma “salvação” do modo de vida retrógado que levavam.

Até o século XIX, os estereótipos de mau selvagem e bom civilizado ganharam força, com o desejo de expulsão da cultura todos os que não participavam da faixa de humanidade à qual pertencemos e com qual nos identificamos. Os índios, por exemplo, foram julgados por causa de suas crenças religiosas, aparência física, comportamentos alimentares e língua.

Porém em contra partida, haviam também os especialistas que defendiam a ingenuidade dos povos, comentando que os mesmos cometiam, muitas vezes, menos barbáries do que nós mesmos.

Pode-se perceber em um determinado trecho do capítulo, a imagem que o ocidental fez da alteridade, que não parou, portanto, de oscilar entre polos de um verdadeiro movimento pendular.

Pensou-se alternadamente que o selvagem:

• era um monstro, um “animal com figura humana” (Léry), a meio caminho entre a animalidade e a humanidade mas também que os monstros éramos nós, sendo que ele tinha lições de humanidade a nos dar;

• levava uma existência infeliz e miserável, ou, pelo contrário, vivia num estado de beatitude, adquirindo sem esforços os produtos maravilhosos da natureza, enquanto que o Ocidente era, por sua vez, obrigado a assumir as duras tarefas da indústria;

• era trabalhador e corajoso, ou essencialmente preguiçoso;

• não tinha alma e não acreditava em nenhum deus, ou era profundamente religioso;

• vivia num eterno pavor do sobrenatural, ou, ao inverso, na paz e na harmonia

• era um anarquista sempre pronto a massacrar seus semelhantes, ou um comunista decidido a tudo compartilhar, até e inclusive suas próprias mulheres;

• era admiravelmente bonito, ou feio;

• era movido por uma impulsividade criminalmente congênita quando era legítimo temer, ou devia ser considerado como uma criança precisando de proteção;

• era um embrutecido sexual levando uma vida de orgia e devassidão permanente, ou, pelo contrário, um ser preso, obedecendo estritamente aos tabus e às proibições de seu grupo;

• era atrasado, estupido e de uma simplicidade brutal, ou profundamente virtuoso e eminentemente complexo;

• era um animal, um “vegetal” (de Pauw), uma “coisa”, um “objeto sem valor” (Hegel), ou participava, pelo contrário, de uma humanidade da qual tinha tudo como aprender.

E mesmo que isso tenha sido um retrato de séculos passados, é ainda hoje, diante do século XXI, muito semelhante quando nos deparamos com uma sociedade diferente daquela que vivemos. Sempre tendemos a julgar e criticar, seja de forma positiva, ou negativa. Isso acaba nos permitindo uma reflexão bastante relevante de até quando, ou se haverá um momento na história, que conhecer a alteridade seja passado de uma forma neutra e “normal”, entrando apenas como conhecimento.

RITOS CORPORAIS ENTRE OS SONACIREMA

Horace Miner In: A.K. Rooney e P.L. de Vore (orgs) YOU AND THE OTHERS - Readings in Introductory Anthropology (Cambridge, Erlich) 1976

O antropólogo está tão familiarizado com a diversidade das formas de comportamento que diferentes povos apresentam em situações semelhantes, que é incapaz de surpreender-se mesmo em face dos costumes mais exóticos. De fato, se nem todas as combinações logicamente possíveis de comportamento foram ainda descobertas, o antropólogo bem pode conjeturar que elas devam existir em alguma tribo ainda não descrita.

Deste ponto de vista, as crenças e práticas mágicas dos Sonacirema apresentam aspectos tão inusitados que parece apropriado descrevê-los como exemplo dos extremos a que pode chegar o comportamento humano. Foi o Professor Linton, em 1936, o primeiro a chamar a atenção dos antropólogos para os rituais dos Sonacirema, mas a cultura desse povo permanece insuficientemente compreendida ainda hoje.

Trata-se de um grupo norte-americano que vive no território entre os Cree do Canadá, os Yaqui e os Tarahumare do México, e os Carib e Arawak das Antilhas. Pouco se sabe sobre sua origem, embora a tradição relate que vieram do leste. Conforme a mitologia dos Sonacirema, um herói cultural, Notgnihsaw, deu origem à sua nação; ele é, por outro lado, conhecido por duas façanhas de força: ter atirado um colar de conchas, usado pelos Sonacirema como dinheiro, através do rio Po- To- Mac e ter derrubado uma cerejeira na qual residiria o Espírito da Verdade.

A cultura dos Sonacirema caracteriza-se por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que evolui em um rico habitat. Apesar do povo dedicar muito do seu tempo às atividades econômicas, uma grande parte dos frutos deste trabalho e uma considerável porção do dia são dispensados em atividades rituais. O foco destas atividades é o corpo humano, cuja aparência e saúde surgem como o interesse dominante no ethos deste povo. Embora tal tipo de interesse não seja, por certo, raro, seus aspectos cerimoniais e a filosofia a eles associadas são singulares.

A crença fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano é repugnante e que sua tendência natural é para a debilidade e a doença. Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é desviar estas características através do uso das poderosas influências do ritual e do cerimonial. Cada moradia tem um ou mais santuários devotados a este propósito. Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm muitos santuários em suas casas

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