Resumo: A pesquisa - Ator e Voz

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quando se fala e respira ao mesmo tempo, pois uma vez fechada, a emissão do ar é prejudicada e consequentemente a voz.

Grotowski em seu trabalho potencializa partes do corpo no intuito de amplificar a voz, objetivando o poder de emissão do som:

“Na realidade, há um número quase infinito de caixas de ressonância, dependendo do controle que o ator exerce sobre seu instrumental físico. (...) A possibilidade mais frutífera está no uso de todo o corpo como caixa de ressonância. Isto é obtido pelo uso simultâneo da ressonância do peito e da cabeça” (GROTOWSKI).²

Para Grotowski, o ator deveria explorar toda sua capacidade vocal, envolvendo assim o público de todas as formas, fazendo com que ele associasse o espetáculo ao seu cotidiano, sendo envolvido pela voz do ator, uma voz que deve produzir sons e entonações impossíveis de serem imitadas pelo próprio espectador, diferente, nesse âmbito, de Stanislavski onde o trabalho vocal do ator se voltava para um falar cotidiano. O ator, segundo Grotowski, teria que falar em outros registros, explorando outras formas vocais, e assim, ampliando suas possibilidades de emissão vocal. Esse tipo de utilização de sons não cotidianos são fundamentais para a construção das personagens, porém, o ator deve trabalhar sua voz no intuito de extinguir barreiras pessoais e esforços em demasia, evitando com isso, possíveis lesões. Em seu treinamento do ator, Grotowski propunha que a técnica vocal fosse tratada como fator de grande importância, associando a técnica vocal com as praticas corporais, ampliando suas possibilidades e, assim, tendo maior expressividade, tornando corpo e voz complementares. Também Eugênio Barba nos fornece reflexões sobre a vocalidade do ator, apontando possíveis caminhos para um estudo prático de aperfeiçoamento da voz. Suas concepções sobre a vocalidade do ator dizem que seu vocal é a “dimensão corporal da voz, à medida que é considerada como sendo um processo fisiológico que envolve todo organismo e é projetada no espaço.” Barba nos ensina que o objetivo dos estudos vocais é o estimulo a imaginação vocal, preservando as reações espontâneas da voz. Nesse contexto, para que o ator aperfeiçoe seu trabalho vocal é importante que esqueça sua voz e se lance com todo o corpo, cedendo aos estímulos recebidos:

“O corpo é a parte visível da voz e pode-se ver como e onde nasce o impulso que, no fim, se transformará em palavras e som. A voz é corpo invisível que opera no espaço, reações que envolvem o nosso organismo em sua totalidade. (...) Na verdade, pode-se falar em ações vocais que provocam uma reação imediata naquele que é atingido.”³ (BARBA)

Analisando suas considerações sobre a questão da técnica vocal, podemos verificar que, segundo as pesquisas de Barba, o trabalho do ator deve estar associado à expressividade do corpo, eliminando hábitos corpóreo-vocais engessados, que impossibilitam a criatividade sonora do atuante. Portanto, a preparação do ator, deve partir de um processo de consciência sobre si, sobre seu corpo em sua totalidade, para que os exercícios vocais possam servir para desvendar sua voz e possibilitar então, a ampliação das suas capacidades conforme suas necessidades pessoais e cênicas. Os estudos da vocalidade do artista cênico nos mostram que ainda há muito que aprender no que concerne à voz do ator, não desmerecendo é claro, o caminho histórico já percorrido por grandes pesquisadores na ânsia de um “falar melhor” para o artista, onde pudemos ver com evidência a preocupação com toda a atividade corporal do ator, atividade que deve ser orientada a fim de auxiliar um trabalho vocal cênico. O ator é mestre em descobrir como mostrar as emoções da nossa psique. Ele desenvolve um trabalho de intensa intimidade com a vida do ser humano, e para isso, deve ter propriedade sobre todos os conhecimentos que nos revelem essa vida em sua existência. Por meio dessa amplitude de conhecimentos, a anatomia e a fisiologia têm grande importância no trabalho de composição das personagens quando trabalhadas conjuntamente com a poética, pois são recursos que ajudam no desenvolvimento do trabalho do ator. Um trabalho que não existiria sem o uso unificado do corpo, da voz e da mente, em um processo de criação infindável de personas, para fins de afetação constante entre artista e espectador.

Bibliografia

¹ STANISLAVSKI, Constantin. A construção da Personagem. p.106. ² GROTOWSKI, Jerzy. Em busca de um teatro pobre. p. 106-107. ³ BARBA, Eugenio. Além das Ilhas Flutuantes. p. 56. ALEIXO, Manoel. Corporeidade da Voz: estudo da vocalidade poética. Dissertação de mestrado, Unicamp - Instituto das Artes. Campinas, SP, 2004. FRIEDMAN, Silvia. A construção do Personagem Bom Falante. São Paulo; Summus,