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O ACERVO DE OBRAS DE ARTE DO IFES E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO ESTÉTICA E CIENTÍFICA

Por:   •  4/7/2018  •  4.473 Palavras (18 Páginas)  •  372 Visualizações

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Outro ponto enfático de aproximação entre o conhecimento científico e artístico, no que se refere ao processo histórico, pode ser notado em vários movimentos da arte moderna do século XX, como cubismo, abstracionismo e surrealismo. No cubismo, percebemos que o encontro entre arte e ciência não se processou pela utilização da perspectiva, mas, ao contrário, pelo rompimento com essa técnica (REIS et al., 2006).

O pintor Pablo Picasso (1881-1973) passa a fazer a representação fragmentada e geometrizada das imagens, que podem ser vistas de diferentes pontos, confluindo para a nova ideia de tempo que estava sendo postulada pela teoria da relatividade de Albert Einstein (1879-1955). Incluía-se na pintura, a ideia da quarta dimensão da realidade, ou seja, o tempo necessário para desfragmentar, fragmentar e analisar as partes da imagem, confluindo para a proposta de substituição do tempo absoluto pelo tempo relativo, principal abordagem da teoria da relatividade (OSTROWER, 1998).

No movimento surrealista, a influência das teorias psicanalíticas de Sigmund Freud (1856-1939) passa a ser destacada nas produções em arte, enfatizando o papel do inconsciente na atividade criativa. Com a publicação do Manifesto Surrealista de André Breton (1896-1966), os surrealistas buscam a superação das contradições entre objetividade e subjetividade e, expressam o rompimento com as exigências impostas pela lógica científica ao proclamarem a ideia do “pensamento com ausência de toda fiscalização exercida pela razão, alheio a toda a preocupação estética ou moral" (BRETON, 1985).

No abstracionismo, a representação da composição por meio de formas abstratas, passa a refletir as novas concepções sobre os estados da matéria e da energia propostos pelo conhecimento científico no século XX. Essa concepção é caracterizada pela passagem do movimento estático, presente nas obras figurativas, para um estado dinâmico da composição abstrata. Dessa forma, a abstração surge como crítica ao racionalismo instrumental, e a percepção das composições passa a ser direcionada mais para a percepção do sensível do que para a percepção racional, possibilitando, como observou o pintor Vassily Kandinsky (1866-1944), a associação pelo observador de ideias mais livres e, portanto, mais sensíveis (KANDINSKY, 1987).

Frente ao percurso delimitado, arte e ciência partem de elementos comuns para compreender e expressar a realidade ao longo da história, demonstrando propostas de discussão não segmentadas sobre o conhecimento. Essa convergência também pode ser ressaltada quando a ciência é apresentada como tema de uma obra de arte.

2.2. A ciência como tema da obra de arte

A abordagem da ciência como tema da obra de arte é direcionada pela apropriação de conteúdos de caráter científico, expressando nas produções dos artistas suas escolhas, influências e concepções artísticas. Dessa forma, os temas científicos, presentes nas obras de arte, apresentam-se como narrativas do conhecimento presente no universo do artista.

Como aponta Duarte Júnior (2000), a apropriação da temática científica pelos artistas parece ganhar força a partir dos movimentos de arte moderna do século XX, demonstrando a influência das descobertas científica, industriais e tecnológicas nas produções em arte. A descoberta da molécula de DNA, por exemplo, passa a ser tema das representações artísticas de pintores como Salvador Dalí (1904-1989) e reforçam essa apropriação.

De maneira geral a apropriação desses temas não tem a função de explicar a ciência, uma vez que tanto a arte como a ciência são formas de conhecimento e refletem a singularidade das leituras de mundo, originadas a partir de um ato criativo (HACKING, 1988). Nessa perspectiva, é importante refletirmos a delimitação da arte e da ciência como formas de conhecimento, para entendermos suas relações a partir da criação como base comum.

2.3. A criação com base comum da ciência e da arte

Na perspectiva de alguns autores, a arte e a ciência são entendidas como formas de conhecimento que utilizam linguagens diferentes para explicar a realidade (REIS et al., 2006). No entanto, mesmo delimitando suas diferenças, os teóricos direcionam-se para as possíveis relações entre os campos do saber artístico e científico, considerando que a origem do ato da criação científica e artística não se diferencia. A divergência está nos materiais que são utilizados nessa criação (FLUSSER, 1998; ZAMBONI, 2006).

A ciência e a arte são pensadas por esses teóricos como visões de mundo, diferenciando-se nos elementos de linguagem utilizados. Em alguns momentos há encontros entre seus discursos: os cientistas utilizando as linguagens artísticas em suas narrativas ou os artistas que descrevem suas criações apropriando-se das produções científicas.

Para Flusser (1998) o enlace entre o artístico e o científico está no processo de criação. A criação científica é obra de arte, da mesma forma que a criação artística é articulação de conhecimento, rompendo, assim com a visão dicotômica entre elas. Enquanto conhecimento humano, não existe diferença entre arte e ciência, Zamboni (2006, p. 21), ainda complementa:

A arte e a ciência, enquanto faces do conhecimento ajustam-se e se complementam perante o desejo de obter entendimento profundo. Não existe a suplantação de uma forma em detrimento da outra, existem formas complementares dos conhecimentos, regidas pelo funcionamento das diversas partes de um cérebro humano e único.

Compreendemos, portanto que a arte e a ciência preservam suas delimitações, mas aproximam-se por serem modos de produção de conhecimento que ocorrem por meio da criação. A interação dessas áreas caracteriza-se por dois aspectos que serão analisados posteriormente: a dimensão estética da ciência e a dimensão científica da arte.

2.4. Dimensão estética da ciência e a dimensão científica da arte

Alguns autores compreendem a dimensão estética da ciência por meio de explicações das criações científicas. “A dimensão estética da ciência reside no modo, ou seja, no como o cientista representa seu objeto e não no quê representa” (PLAZA, 2003, p. 42-43).

Um exemplo dessa visão é o trabalho desenvolvido pelo Museu de Ciências da Vida da Universidade Federal do Espírito Santo. Com a finalidade de difundir e popularizar o conhecimento científico esse museu diversifica seu trabalho promovendo exposições em parcerias com galerias

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