Leonardo da Vinci Arte e Ciência
Por: SonSolimar • 7/5/2018 • 1.811 Palavras (8 Páginas) • 320 Visualizações
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Sem dúvida, a visão era o instrumento mais importante para Leonardo. Procurando retratar fielmente tudo o que via, não se contentava em apenas observar. Sua curiosidade intrínseca o levava a querer desvendar o funcionamento de tudo, desde o crescimento de um bebê ao voo de um pássaro. Ele acreditava que entender o mundo visual refletiria na sua arte elevando-a a um patamar de prestigio e nobreza.
2 O DESENHO DE LEONARDO
Segundo Martin Kemp (2005, p. 20), “Cada ato de olhar e desenhar era, para Leonardo, um ato de análise, e é com base nessas análises que o criador humano pode refazer o mundo”. Leonardo imprimia em todas as suas obras, inclusive em sua invenções, os termos de obediência das causas e efeitos naturais, o que tornava todo o seu material uma experiência visual realista e intrigante. Leis de proporção e perspectiva eram pontos importantes em seus desenhos.
Canhoto, Leonardo adotou seu próprio modo de escrever. Fazia sua escrita da direita para a esquerda, portanto era necessário ler seus registros através de um espelho. Muitos de seus desenhos e registros escritos eram feitos com a pena e tinta marrom aguada sobre giz preto em papel. Seus desenhos do corpo humano se destacavam pela forma como retratava as articulações dos membros e a utilização de luzes e sombras.
Segundo Kemp (1996, p. 192):
Leonardo foi um dos mais inovadores e férteis desenhistas de todos os tempos. Em suas mãos, a prática do desenho tornou-se uma extensão de seu pensamento criativo, não apenas expressando uma série de novas ideias em abundante profusão, mas também tornando-se, através de uma rápida confusão de alternativas esboçadas sobrepostas umas sobre outras, um modo de permitir que as configurações ao acaso ajudassem o processo inventivo. O desenho tornou-se uma forma de pensamento visual mais do que um mero meio para desenhar uma pintura.
Sua inquieta curiosidade e sua hábil visão lhe permitiam registrar de modo minucioso e preciso tudo o que via. Ele não se restringia a apenas desenhar, ele buscava entender o funcionamento de seus objetos de registro. Acreditava que era preciso investigar e experimentar para conhecer, e não apenas se basear em estudos prontos. E por isso foi muito mais além do que o estudo anatômico que um bom artífice deveria ter.
Possuía grande habilidade para desenhar armas bélicas, e por isso era frequentemente requisitado pelo exército, muito embora fosse um pacificador. Inspirava-se na natureza para inventar máquinas engenhosas, como por exemplo uma espécie de planador com asas, inspirado nos movimentos dos pássaros. Muitas outras invenções foram criadas por ele denotando sua visão futurista.
Em busca da perfeição no desenho da forma humana e suas proporções, ele estudou profundamente a anatomia humana. Seus estudos levaram-no a desenhar o Homem Vitruviano, onde é retratado um homem proporcionalmente perfeito segundo a proporção áurea. Dissecou em torno de 30 corpos humanos, homens e mulheres, a fim de aprofundar seus estudos anatômicos. Os complexos funcionamentos de sistemas e órgãos foram fielmente desenhados, acompanhados de anotações. Impressionantes desenhos do corpo humano como um útero em plena gestação, músculos, esqueletos e outros órgãos, mostram o quão preocupado com a exatidão das informações científicas ele era.
Passado o período de estudos anatômicos, Leonardo dedica-se ao estudo da incidência de luz e sombra sobre os corpos, onde deixa um manuscrito sobre o assunto. Em seguida realiza estudos de geometria e física, a fim de aplicar na invenção de máquinas e outro manuscrito é registrado. Poucos anos depois ele retoma os estudos anatômicos, trabalhando novamente na dissecação. Nesta fase, houve importantes descobertas para a época, como quando da dissecação de um homem centenário, onde verificou-se uma alteração que atualmente conhecemos como arteriosclerose. Desenhou habilmente a musculatura em forma de fios, onde cada fio correspondia a um movimento. Em seus últimos desenhos anatômicos, ele retrata o coração e seu funcionamento e a gestação.
Muitos esboços, cadernos e desenhos foram preservados por seus alunos e admiradores. Leonardo pretendia reunir seu material para algum dia publicar seus estudos, porém muita coisa se perdeu, de acordo com Kemp, estima-se aproximadamente 6 mil páginas foram preservadas, porém esse número representa apenas a quarta parte de tudo o que Leonardo da Vinci produziu.
Grande parte de seus desenhos e registros, Leonardo legou a um de seus assistentes, Giovanni Francesco Melzi, que os preservou e repassou para seus descendentes. Da Vinci faleceu na França, em 02 de maio 1519, aos 67 anos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Leonardo da Vinci buscava através de seus desenhos científicos, trazer à luz do conhecimento respostas para sua insaciável curiosidade e genialidade. Sua mente inquieta o levou muito além de seu tempo. À frente dos anatomistas da época, ele deixou não apenas desenhos, mas estudos complexos e detalhados a partir de suas investigações cientificas e anatômicas. Suas descobertas colaboraram na época com seu intuito de elevar a categoria dos artistas a um patamar nobre e reconhecido. Em muito também contribuíram para o campo da ciência. Mais de quinhentos anos depois, ainda hoje suas descobertas, estudos e criações causam admiração, pois foram ferramentas de estudos que abriram portas para outros conhecimentos. A preocupação do artista não somente em desenhar o que se via, mas entender o seu funcionamento oferece um vasto e rico acervo de desenhos fiéis à realidade e ainda de projetos e idéias que no seu tempo pareciam insanidade, mas que séculos depois se tornariam realidade.
REFERÊNCIAS
GOMBRICH, E. H. (Ernst hans), A História da Arte; tradução Álvaro Cabral, - Rio de Janeiro: LTC, 2008
JANSON, H. W. História Geral a Arte – 2ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2001.
KEMP, Martin. Leonardo da Vinci; tradução, Maria Inês Duque Estrada. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005,
KICKHOFEL, Eduardo Henrique Peiruque. A ciência visual de Leonardo da Vinci: notas para uma interpretação de seus estudos anatômicos. Sci. stud., São Paulo , v. 9, n. 2, 2011 . Disponível em . Acesso em 22 nov. 2014.
FIGURA 01 – ESTUDO PARA UM SÃO JOÃO BATISTA
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FONTE:
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