A PROFISSIONALIZAÇÃO DO GRAFITEIRO COMO FATOR MODIFICADOR DO VALOR DA ARTE NA VISÃO DO ARTISTA
Por: Kleber.Oliveira • 24/4/2018 • 4.899 Palavras (20 Páginas) • 415 Visualizações
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Palabras Claves: Grafito; Grafiteros Profesionales; Región Metropolina De Porto Alegre; Arte.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como tema o reconhecimento do grafite como arte e, como consequência, a profissionalização desta atividade. O grafite existe desde o Império Romano, porém sua popularização deu-se na idade contemporânea, mais especificamente nos anos 70, quando um grupo de jovens começou a escrever e desenhar nos muros da Cidade de Nova Iorque. Eles tinham como objetivo protestar contra os problemas presentes na sociedade. Com o passar dos anos, o grafite, junto com o movimento Hip Hop, foi expandindo-se por diversos países e passou a ser visto nos muros das grandes cidades.
Através desta popularização, este movimento vem ganhando seu espaço na sociedade. A migração do grafite de rua para as galerias de artes é cada vez mais comum em diversas cidades. Em consequência disso, a profissionalização é uma questão que vem sendo considerada por alguns grafiteiros, porém as opiniões daqueles que fazem sua arte na rua, de maneira amadora, divergem das opiniões dos grafiteiros que estão se profissionalizando e, consequentemente, ganhando dinheiro com suas artes.
Essas ideias divergentes referem-se à possível modificação do valor da arte para o artista. Alguns questionam se essa profissionalização irá tornar o grafite um bem de consumo e levar a uma consequente massificação, fazendo com que ele perca suas características iniciais. Os efeitos da profissionalização sobre o grafite são perceptíveis, pois esta prática como hobbie está sendo cada vez rara nos dias de hoje. Assim, as características iniciais deste movimento, que é ser uma arte gratuita e espontânea (GITAHY, 1999) podem estar sendo alteradas. Com a profissionalização, o grafite passa a ser tratado como um bem de consumo e um meio de realização financeira. Assim, coloca-se em cheque a obra do artista, podendo comprometer a espontaneidade e o fazer livre. Através disso, alguns valores são perdidos, outros alterados e outros são agregados na visão do artista.
Ciente desta situação, a questão que norteou este trabalho foi definida a partir da seguinte indagação: Na visão do artista, como a profissionalização do grafiteiro pode interferir no valor artístico característico deste tipo de obra?
Para responder esta questão adotou-se como objetivos investigar as origens do grafite; examinar acultura do grafite, principalmente em
Esteio e Sapucaia do Sul; constatar quais foram os fatores determinantes para a sua profissionalização; analisar a relação entre o grafite e o mercado de trabalho e assim esclarecer os efeitos da profissionalização sobre o grafite na visão do artista.
Para cumprir com os objetivos foram realizadas pesquisas de levantamento, envolvendo questionamentos diretos com 2 (dois) grafiteiros profissionalizados e 1 (um) grafiteiro não profissionalizados dos municípios de Esteio e Sapucaia do Sul. Para o desenvolvimento teórico do trabalho, foram utilizados materiais de apoio bibliográficos como livros e periódicos.
Para o desenvolvimento teórico do trabalho Celso Gitahy foi principal autor que utilizamos. Ele nos agrega conhecimentos sobre a história do grafite e seus valores iniciais. Foram utilizados ainda, autores que discutem os conceitos que utilizaremos como norteadores deste estudo, que são profissionalização, profissionalização emergente, valor da arte e valor da arte de rua.
No decorrer do estudo são discutidas questões de como os artistas entrevistados interpretam a si e a sua arte, bem como as suas visões sobre a profissionalização do grafiteiro, a fim de construir uma reflexão e análise sobre o tema escolhido.
A busca por reflexões nesta área faz-se necessária, pois a escassez de publicações sobre o tema indica que há pouca atenção acadêmica ao mesmo. Este estudo contribuirá para a compreensão de como se deu a profissionalização do grafiteiro, através do crescimento e visibilidade do grafite nos últimos anos e de como essas questões nos remetem à modificação do valor da arte na visão do artista. É justamente no sentido de dar visibilidade a esta prática cultural e suas dinâmicas que esta pesquisa se justifica.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Em pesquisa realizada na seção de periódicos do site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), realizada no dia 15 de Agosto de 2013, não obtivemos resultados para as entradas “Profissionalização Grafiteiro”. Já a seção acadêmica do site Google apontou Oliveira, Silva e Braz (2010) como único resultado.
A pesquisa dessas autoras tem como título “A representação social de grafiteiros sobre o grafite: arte de rua ou arte institucionalizada?” e remete-nos a ideia central desta pesquisa. Na pesquisa das autoras adquirimos conhecimentos sobre a institucionalização do grafite. Quando remetem-se a institucionalização, estão falando do movimento de entrada da arte, que antes só estava na rua para a galeria. A partir deste aspecto, as autoras buscam discutir se há diferenças entre o grafite de rua e o grafite institucionalizado. Para discutir este tema elas nos trazem algumas ideias de mudança de valores.
Oliveira, Silva e Braz (2010) lembram que o grafite nasceu sob a transgressão e se potencializou ao tomar todo o campo urbano como seu espaço. Aponta que, para fazer parte do mercado de arte, é preciso sucumbir, subjugar e domesticar-se frente a massificação dos produtos culturais e, assim, atender à demanda, curadores e sua sanha.
O ponto em que o trabalho que está sendo realizado vai ao encontro com a oroposta das autoras. Segundo elas seus objetivos são:
Compreender o grafite enquanto possibilidade profissional; Compreender como o grafiteiro percebe a institucionalização do grafite, originalmente produzido e exibido nas ruas, mas que vem conquistando cada vez mais mercados; Compreender se há diferença entre o grafite institucionalizado e o grafite de rua. (OLIVEIRA, SILVA E BRAZ, 2010)
O trabalho “A representação social de grafiteiros sobre o grafite: arte de rua ou arte institucionalizada?” busca discutir a lei e também a linguagem. Já a presente buscou, através dos artistas remunerados e não remunerados, olhar para o grafite, assim, percebendo os valores que foram alterados, perdidos e agregados.
Para tratar do tema grafite, escolheu-se o autor Celso Gitahy, que em seu livro “O que é grafite”, de 1999, traz
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