RESENHA RESTAURO CARTA DE VENEZA
Por: Hugo.bassi • 23/3/2018 • 2.471 Palavras (10 Páginas) • 1.015 Visualizações
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Nota-se que a noção de monumento intencional está associada ao desenvolvimento de memórias artificias por instrumento da escrita, primeira memória artificial da humanidade.
Diferentemente do monumento, o monumento histórico não é um artefato intencional; refere-se à uma construção intelectual que um valor abstrato de saber. O conceito de monumento histórico tem suas gêneses em duas etapas: a Revolução cultural (renascença) e a Revolução cultural inglesa do fim do século XVIII.
No período que corresponde à Renascença houve um princípio de preocupação com a preservação. Surge um interesse pelos vestígios da Antiguidade (conjunto das produções antigas – língua, usos, tradições-) da romanidade. Os eruditos e sábios que se dedicam aos estudos desse domínio são chamados de antiquários. Esses, entre o século XVI, realizam um importante trabalho de coleta inventariando e coletando todas as categorias de antiguidade.
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CARTA DE VENEZA
A Carta de Atenas – texto em 16 artigos aprovado no II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos, em Veneza, no período de 25 a 31 de Maio de 1964 - ao expressar pela primeira vez os princípios, contribuiu para o desenvolvimento de um amplo movimento internacional, traduzido na elaboração de vários documentos nacionais, na atividade do ICOM e da UNESCO que resultou na criação, por esta última entidade, de um Centro Internacional para o Estudo da Preservação e do Restauro do Património Cultural.
O documento começa por definir monumento como sendo não só a criação arquitetônica mas também o meio envolvente, desde que nele estejam contidas manifestações de uma civilização particular ou acontecimento histórico. Refere, também, que na sua conservação e restauro devem ser usadas todas as ciências e técnicas que possam contribuir para o estudo e proteção do patrimônio.
No ponto seguinte, diz da essência do monumento, que não deve ser alterada em detrimento das operações de conservação, razão pela qual não deve ser desconfigurado, nem suprimido mesmo que em alguma das suas partes.
Com relação a temática do restauro, a restauração deve ser feita respeitando os materiais originais e a documentação existente, devendo ser precedida e acompanhada por um estudo arquitetônico e histórico do monumento.
Devem também ser tidas em conta todas as contribuições das várias épocas para o monumento. Neste campo, o documento diz ainda que todos os elementos necessários acrescentar devem integrar-se na essência do monumento mas, ao mesmo tempo, ser passíveis de distinção para que não "falsifiquem" a obra.
Quanto ao item das escavações arqueológicas, o documento diz-nos que estas devem ser feitas de acordo com os princípios internacionais a aplicar em matéria de escavações arqueológicas da Unesco de 1956.
Por fim, o documento diz que todos os trabalhos de conservação, restauro ou escavações devem ser acompanhados de um registo sob forma de relatório e ilustrados com desenhos e/ou fotografias e ser sempre que possível publicado.
Neste documento está visivelmente presente a preocupação não só com o monumento, mas, também, com o seu meio envolvente como parte integrante deste, para além da necessidade de documentar todo o processo de conservação ou de estudo do monumento para eventuais futuras intervenções.
É fundamental que os princípios orientadores da conservação e do restauro de edifícios antigos sejam acordados a nível internacional, sendo cada país responsável pela sua aplicação no âmbito específico do seu contexto cultural e das suas tradições. Através da carta de Veneza entendeu-se que devem ser asseguradas as manutenções das ruínas e as medidas necessárias para assegurar a sua proteção e conservação.
No artigo Notas sobre a Carta de Veneza, Beatriz Kuhl propõe uma leitura mais aprofundada da Carta de Veneza, documento produzido no congresso de 1964.
A carta de Veneza faz parte do conjunto de cartas patrimoniais, base fundamental para o tratamento de bens culturais na metodologia atual. O documento, amplamente debatido, e frequentemente interpretado na sua superficialidade. Para tanto, através do texto, Kuhl propõe uma análise cítrica fundamentada do documento de modo a poder utilizá-la na prática a partir da compreensão de 3 temas: o papel das cartas patrimoniais e seu caráter, as formulações da Carta de Veneza em relação aos postulados teóricos da época em que foi produzida, comentários e notas de artigos da Carta. Através desse texto objetivou-se, também, desconstruir a leitura homogênea que se faz frequentemente das cartas patrimoniais, colocando-as como um conjunto em que suas especificidades são ofuscadas.
Primeiramente é preciso destacar o papel das cartas patrimoniais nas organizações internacionais de preservação. As cartas patrimoniais são fruto de um pensamento de um determinado período e tem por objetivo servir de objeto indicativo /no máximo prescritivo.
A carta de Veneza – centrada em monumentos e sítios históricos - destaca que não é possível restabelecer um estado original ou uma etapa anterior de um bem. Desde o século XIX reconstruções ao idêntico foram gradualmente sendo abolidas e admitidas como ações que não avançam ao encontro da preservação do bem. O caráter de documento histórico dos bens culturais é enfatizado e, por isso, não é possível reproduzir um bem. Refazer um bem desaparecido equivale a falsificar um documento.
Aponta-se, na atualidade, em uma objeção a carta de Veneza, considerada como “ultrapassada”, que teria sido substituída por documentos posteriores como a “Carta” de Nara e a Carta de Burra. Entretanto, não foi feita outra carta substituir a Carta de Veneza já que seus princípios são, ainda, considerados fundamentalmente válidos para o trato de edifícios de interesse para a preservação, continuando a ser o documento‑base do Icomos. O que se fez ao longo dos anos foi elaborar documentos que se somam à Carta de Veneza, reinterpretando para um contexto mais amplo os princípios da Carta de Veneza e tratando de temas não contemplados diretamente por ela (Carta dos jardins históricos (Carta de Florença), 1981; Carta internacional para a salvaguarda de cidades históricas (Carta de
Washington), 1987; Carta internacional do patrimônio arqueológico, 1990; Carta internacional sobre a proteção e gestão do patrimônio cultural subaquático,
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