A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE: O BACHAREL NO EXERCÍCIO DA DOCÊNCIA
Por: Lidieisa • 25/10/2017 • 9.272 Palavras (38 Páginas) • 538 Visualizações
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Apoiados nestes e em outros teóricos, partimos do pressuposto de que a constituição da identidade profissional docente demanda, portanto, a contextualização da trajetória do professor sobre a sua formação e atuação, de modo que reflita acerca do percurso do próprio desenvolvimento profissional a partir da ressignificação dos saberes que alicerçam a docência e das imagens que constrói de si e da profissão na trajetória profissional. Portanto, esta concepção de identidade pode ser instituída e sustentada em diferentes tempos, culturas e espaços construídos historicamente. Trata-se, então, de um sentimento de pertença profissional, vinculado aos aspectos subjetivos e objetivos da realidade social.
A identidade é compreendida como um processo dialético, caracterizado por mudanças e transformações através das quais o indivíduo constrói e reconstrói sua identidade pessoal. E a consolidação de uma identidade afirmadora ou negadora do ser professor pode influenciar no exercício efetivo de uma prática pedagógica de qualidade, bem como nos investimentos na formação e no desenvolvimento profissional docente.
A experiência tem nos mostrado que, geralmente, os professores que têm sua formação inicial no Bacharelado e que, normalmente, atuam em cursos da mesma especificidade de sua formação, têm uma formação técnica que o destaca como profissional naquilo que se formou e em algum momento desse desenvolvimento profissional é convidado a atuar como docente. Em poucos casos, estes professores passam por um estágio de formação, ou se é exigido algum conhecimento pedagógico básico.
Diante dessa realidade e das reflexões sobre o ser professor e a construção identitária dos bacharéis formados em Administração, observadas durante a nossa atuação profissional como professora efetiva dos Cursos de Graduação nas Ciências Humanas e Sociais desta Instituição de Ensino Superior, em especial do Curso de Administração, foi impulsionado nosso interesse em investigar a construção da identidade profissional dos Bacharéis em Administração que exercem a docência.
O nosso interesse na efetivação desta pesquisa é oriunda das diferentes experiências que vivenciamos como docente do Curso de Administração, tanto em nível de graduação como de pós-graduação. Essas experiências constituíram-se, muitas vezes, como momentos de reflexões acerca do papel da didática e demais disciplinas na formação pedagógica do professor e sua contextualização/contribuições na atividade docente. Pretendemos, ainda, contribuir com reflexões acerca dos significados atribuídos pelos professores do ensino superior sobre o que é ser professor na formação e atuação docente, e sua identificação com a profissão de professor.
Entendemos que os conhecimentos proporcionados pelas disciplinas didático-pedagógicas contribuem para a articulação teoria-prática, além de fornecerem subsídios essenciais para a produção dos saberes da docência, assim como, na construção da identidade docente. Acreditamos que apenas os saberes da experiência não bastam para a atuação docente de forma consciente e competente.
Dessa forma, acreditamos que este estudo poderá contribuir com análises e reflexões da prática pedagógica docente dos professores do Curso de Administração desta IES, por analisar aspectos constituintes da identidade profissional docente e no desenvolvimento da formação e da autoformação no processo de identificação com a sua atividade profissional.
2 A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DO PROFESSOR BACHAREL
A identidade profissional docente constitui-se um dos elementos necessários ao exercício profissional competente. Na compreensão da construção dessa identidade docente, necessário se faz a reflexão e discussão sobre a formação inicial e continuada de professores, a prática pedagógica, a relação com os pares e com os alunos e com a instituição em que exerce a sua atividade profissional.
Nesse ínterim, destacamos a construção da identidade docente do professor bacharel que ensina no bacharelado e que tem sua formação profissional para a docência lincada a um parâmetro formativo que aqui denominamos como relações experienciais na docência, cujo papel é determinado pela diversidade de atos e fatos que ocorrem em seu cotidiano de trabalho e que determina uma formação em exercício pautada nas experiências vividas e refletidas como pressuposto de formação e referência de desenvolvimento profissional.
Por essa razão, apoiamo-nos na abordagem sociológica da identidade profissional, tendo como aportes teóricos as ideias de Dubar (2005), que têm como cerne os processos de adaptação do professor ao seu meio profissional, entendendo a identidade profissional como formas de construções sociais marcados pela interação entre os percursos individuais, as relações e vínculos empregatícios, de trabalho e de formação. Segundo Dubar (2005), a identidade é produto de sucessivas socializações, apresenta-se como resultado, ao mesmo tempo, estável e provisório, individual e coletivo, subjetivo e objetivo, biográfico e estrutural de vários processos de socialização que, articulados, formam os indivíduos e definem as instituições.
Nessa perspectiva, ser professor demanda assumir a profissão reconhecendo o sentido dos investimentos nos processos de autoformação e do estabelecimento de uma relação de pertencimento à categoria profissional. E esse fato requer investimento na formação inicial e continuada, aliada a vivência de uma prática reflexiva no ser e no fazer-se professor, isto é, exige um constante movimento nos processos de construção e reconstrução da atividade docente, definindo e redefinindo os aspectos demarcadores do tornar-se professor.
É notório que, para o exercício da docência na educação superior, é exigida a formação pedagógica adquirida na formação continuada através dos cursos de pós-graduação lato-sensu e stricto sensu, oferecidos pelas instituições formadoras, no entanto, “[...] na medida em que a universidade legitima e habilita a formação de professores para a educação básica, mas contraditoriamente, não habilita a formação do professor universitário” (CUNHA, 2010, p. 127). Isto deixa margem para o entendimento de que o professor que atua no ensino superior parece “não precisar desse saber” produzido na formação inicial para sua efetiva ação docente.
A esse respeito, Souza (2010, p. 173) compreende o processo de formação de formadores como prática de iniciação e de acompanhamento:
[...] como um
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