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O PROFISSIONAL DOCENTE E SUAS CRISES: UMA PROBLEMATIZAÇÃO DAS DIFICULDADES E DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS PROFESSORES

Por:   •  14/8/2018  •  4.811 Palavras (20 Páginas)  •  394 Visualizações

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Portanto identificaremos adiante quais as dificuldades que sofrem os professores da língua materna no processo de ensino nas salas de aula, bem como de, com embasamento teórico, mostrar os motivos que provocam uma crise de identidade nos professores de português.

O profissional docente e sua crise de identidade

Entendendo a língua como um fenômeno social, que depende da cultura de seus usuários, que assume um caráter político, histórico e sociocultural e não apenas como um conjunto de signos, é importante identificar que a não valorização desses elementos contextualizados pode causar sérias dificuldades para o indivíduo que está em fase de alfabetização.

Nóvoa (1991, p. 17) diz que que “a identidade não é um dado adquirido, não é uma propriedade, não é um produto. A identidade é um lugar de lutas e conflitos, é um espaço de construção de maneiras de ser e estar na profissão”. Isto significa que o professor forma sua identidade com suas práticas, necessidades e com base também naquilo que não pratica. O contexto histórico, social e político também faz parte da formação da identidade do professor.

É muito preocupante ver que muitos professores passam por uma crise de identidade. Guedes (2008) relata, porém, que esse problema não é atual, e tem origem nos primórdios da colonização portuguesa. Os jesuítas monopolizaram a educação e utilizando o manual de estudos, a Ratio Studiorum, faz dos professores um reprodutor, impossibilitando-o de produzir algum conhecimento. Na Ratio Studiorum, havia 467 regras, e recomendava que o professor nunca se afastasse em matéria filosófica de Aristóteles, e teológica de Santo Tomás de Aquino, isto significava que o professor teria que reproduzir estes conhecimentos. Hoje em dia não está muito diferente do início da colonização. A Ratio Studiorum foi substituída por livros didáticos e o professor continua reproduzindo o que consta nestes livros.

Guedes (2008), completa:

[...] já não tínhamos tido o mestre, pois para os jesuítas tudo já estava pronto em Aristóteles, por causa disso, também não tivemos o professor atualizado, pois a regra era combater o novo. Tivemos desde o começo, o professor submetido ao livro, ignorante e aterrorizado. (GUEDES, 2008, p.18)

Tentando, contudo, justificar os motivos que geraram a “crise” de identidade do professor de língua materna, Guedes (2008), faz um breve histórico sobre o processo de desqualificação que sofreu este professor. Segundo ele, desde 1964 até o ano de 1984, período em que o Brasil foi tomado por um golpe militar e ficou sob este governo, ao invés do professor ser um formador de opiniões e um produtor de conhecimentos, o regime ditatorial impunha que ele deveria apenas repassar o conhecimento, ser um reprodutor, obrigando-o a seguir os conteúdos impostos em livros didáticos.

Segundo Guedes (2008) a ditadura militar formulou um projeto educacional que massificou e desqualificou o professor e consequentemente o aluno. Isso é fácil de se observar ao analisar uma sala de aula. Percebe-se o grande número de alunos, que superlotam um espaço, muitas vezes com pouca estrutura. Do outro lado está o professor, que tem que sair de uma sala para outra, ou até mesmo para uma outra instituição na tentativa de cumprir uma carga horária bastante cansativa, que consome todo o seu dia. O professor fica sem tempo de estudar, de se qualificar. E o que isso causa? Professores e alunos desqualificados.

Geraldi (2003) é muito direto ao dizer que a crise da escola está na crença do professor de que, quando ele se forma, não precisa mais estudar. Ciente das dificuldades que enfrenta, o professor tem que, em primeiro lugar, se qualificar e não ser apenas ser mais um profissional acomodado com a difícil realidade de má estrutura escolar, mal salários. Tem-se que buscar o conhecimento e não se acomodar com um diploma.

Guedes (2008) afirma que o professor passa por uma crise de identidade e que essa crise se origina da desqualificação deste, que não busca cursos de reciclagens por diversos motivos: um deles é a acomodação, outro é a falta de tempo que este professor tem para cumprir uma longa e cansativa carga horária. Enfim, Geraldi (2003) e Guedes (2008) discursam sobre o mesmo assunto, mostrando-nos que a crise da educação está estritamente ligada à crise de identidade do professor.

Na realidade, o que se observa é que o profissional docente está sendo desvalorizado com o passar dos anos. Apesar de toda importância que o professor tem para a sociedade, isto é, os benefícios que esse profissional trás para toda uma nação, ele ainda não recebe o valor merecido.

Nóvoa (1991) então, diz que a identidade do professor entra em crise, e que existe uma nova maneira de se enxergar o ofício do professor:

a imagem do docente ‘fonte e fornecedor do conhecimento’ torna-se caduca; ela é substituída por uma concepção multifuncional do docente, em que diferentes papéis se misturam: formador, animador, organizador, mediador do encontro, etc. A partir do momento em que a função docente tradicional se desagrega, os docentes são obrigados a ir em busca de uma nova relação com a profissão, de uma nova maneira de olhar seu trabalho profissional e sua ação educadora. (NÓVOA, 1991, p. 133)

Pimenta e Anastasiou (2002, p.77) diz que

uma identidade profissional se constrói, pois, com base na significação social da profissão; na revisão constante dos significados sociais da profissão; na revisão das tradições. Mas também com base na reafirmação de práticas consagradas culturalmente que permanecem significativas.

Para Geraldi (2003, p. 15) o sistema escolar forma dois tipos de recursos humanos: os “profissionais” e os “professores”. O primeiro é o bacharel, que se forma e tem o domínio das evoluções cientificas, este sai da faculdade com a ideia de que deve ter seus direitos de trabalho respeitados e condições de espaço físico para os estudos (que é contínuo). O segundo é o licenciado, que em suas disciplinas de estudo já conhece a situação do descaso com a educação e a deficiência desta, por isso já sai “preparado” para uma árdua atividade e possui dificuldade de especializar-se e de fazer cursos de reciclagens.

Pimenta (2002, p. 07) diz, ainda, que a identidade desses profissionais é construída pela socialização da profissão e

[…] também, pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor, confere

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