Terapia Focal: psicoterapia breve psicodinâmica
Por: Hugo.bassi • 17/12/2017 • 8.637 Palavras (35 Páginas) • 501 Visualizações
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A “segunda geração de PBP” surgiu com as propostas de Malan (1979, 1981), Mann (1973), Sifneos (1972, 1989, 1993) e Davanloo (1982). Ainda de acordo com os critérios de Crits-Christoph e Barber, a “terceira geração da PBP” corresponderia às abordagens psicodinâmicas que desenvolveram manuais de tratamento, especificando os detalhes do processo terapêutico. Esse tipo de manual foi originalmente criado para as terapias comportamental cognitiva. Os primeiros manuais com abordagem psicodinâmica foram o de Luborsky, como uma espécie de codificação dos princípios básicos da sua técnica de apoio-expressiva (1984), e o de Strupp e Binder (1984).
Fundamentos Teóricos
A PBP está embasada em conceitos psicodinâmicos oriundos da teoria de desenvolvimento da personalidade elaborada por Freud. Aspectos importantes da metapsicologia freudiana, tais como processos mentais inconscientes, sintomas como expressão de conflitos internos, mecanismos de defesa e relação entre paciente e terapeuta como fator de tratamento são até hoje elementos fundamentais para a compreensão do paciente e para o manejo das técnicas de PBP.
Porém, para evoluir no conhecimento da dinâmica do funcionamento do psiquismo, após mais de um século decorrido desde a criação da psicanálise, torna-se essencial agregar às informações dos trabalhos de Freud e seus seguidores, do final do século XXI, os dados de pesquisas da neurociência do início do século XXI. Nem sempre os novos modelos precisam substituir os antigos, mas sim ampliá-los, agregando-lhes valor. Freud mesmo havia sido um dos primeiros a enfatizar que a natureza humana poderia ser submetida à investigação científica sistemática à procura de leis que regessem a mente: “Podemos esperar que a biologia nos dê as mais surpreendentes informações e não podemos imaginar quais respostas, daqui a dezenas de anos, ela dará para as questões que agora lhe fazemos. Elas podem ser de um tipo que venham a destruir toda a estrutura artificial de nossas hipóteses” (Freud, 1978).
Teoria neurocientífica das emoções
A PBP vem absorvendo os conhecimentos obtidos por meio dos dados da moderna neurociência e da teoria evolutiva, desenvolvida por Darwin no final do século XIX, que vem sendo confirmada pelos resultados do Projeto Genoma. A revolução molecular do Projeto Genoma comprova a relativa autonomia em relação ao destino que os seres humanos têm e, também, comprova que temperamento e caráter são variáveis, em parte determinadas geneticamente, em parte pelo meio ambiente. Portanto, em relação ao antigo dilema nature x nature, os estudos de biologia genética demonstram que há flexibilidade e que o ser humano nasce equipado com uma espécie de setup neuroquímico, passível de modificação pelo meio ambiente em seus neuromoduladores, comprovando-se, assim, a plasticidade neuronal do cérebro humano.
A teoria das emoções (Tomkins, 1962, p. 3) ressaltou a tendência dos seres humanos à adaptação ao meio por intermédio de suas emoções. Define essa espécie de “kit de sobrevivência afetivo” como um conjunto de afetos naturais do ser humano, o qual nasce com uma grama variada de afetos com o objetivo de facilitar sua adaptação ao meio ambiente. É uma visão mais próxima do conceito de darwiniano sobre o papel das emoções no processo de adaptação dos homens e dos animais, ampliando o modelo freudiano dual de motivação humana (duas pulsões opostas: amorosas e agressivas). Neurocientista premiado com o Nobel de medicina em 2000, Kandel verificou que experiências ocorridas na fase pré-verbal ficam registradas no cérebro humano sob a forma de memória processual ou implícita, mecanismo de registro de memória inconsciente (Kandel, 1998). Com base em resultados de pesquisas, Soussumi (2001) indica que experiências traumáticas ocorridas nos momentos precoces da vida determinam perturbações nas formas básicas de funcionamento orgânico e podem estar presentes por toda a vida. Estudos sobre neuropsicobiologia realizados por Schore (2003) demonstraram que a interação feita pelo olhar entre mãe e bebê representa a forma mais intensa e benéfica de comunicação interpessoal, aumentando o grau de afeto e engajamento mútuo. A visão do rosto da mãe desencadeia altos níveis de opiáceos endógenos no cérebro infantil, e essas endorfinas são bioquimicamente responsáveis pelas características agradáveis da interação social e dos relacionamentos afetivos, agindo diretamente nos centros de recompensa subcorticais dos cérebros infantis. Em função desses dados, foi dito que, em um certo sentido, “mãe é droga” (Lemgruber, 2004). Van der Kolk (1997), por meio de estudos com crianças que sofreram maus-tratos ou foram abandonadas, mostrou que a mãe não só age como modulador do estado afetivo da criança como também regula a produção dos neurohormônios, ativando o sistema de ação dos genes e programando, assim, o crescimento estrutural de regiões cerebrais essenciais para o futuro desenvolvimento socioemocional da criança. Trabalhos da Amine e colaboradores (1996) mostraram evidências de que, ao nascer, o bebê está equipado com um sistema de memória funcional e que, nesse estágio de desenvolvimento, a memória está mais apta à aprendizagem implícita do que à aprendizagem explícita.
Pesquisas recentes com imagens cerebral demonstram que qualquer mudança no comportamento do indivíduo provoca alterações em seu cérebro. As novas tecnologias de imagem funcional (principalmente os atuais estudos de tomografia cerebral computadorizada por emissão de pósitrons e ressonância magnética funcional), que propiciam a visualização do cérebro em plena atividade e medem o fluxo sanguíneo local inferido pelas variáveis do consumo de oxigênio e metabolismo da glicose, estão sendo usadas para aliviar a eficácia da psicoterapia. A primeira pesquisa foi feita por Baxter e colaboradores (1992), demonstrando que pacientes com transtorno obsessivo compulsivo (TOC) apresentavam modificações no metabolismo da região do núcleo caudato após tratamento com terapia comportamental, de forma análoga aos pacientes com TOC tratados com medicação serotoninérgica.
Experiência emocional corretiva
O conceito de EEC foi considerado por Malan (1981) como o aspecto central do processo psicoterapêutico. Para Alexander (1946), a EEC pode ocorrer sem haver conhecimento completo das causas determinantes da problemática por parte do paciente.
Cordioli (1998) cita trabalhos de Strup que explicam as mudanças ocorridas tanto na psicanálise como na TF por meio de mecanismos de aprendizagem. Sifneos
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