Teórico Analítico I apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul
Por: Evandro.2016 • 9/10/2018 • 3.808 Palavras (16 Páginas) • 410 Visualizações
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3.1 Atenção Integral e Psicologia
A Psicologia, enquanto profissão e formação profissional se desenvolve no Brasil no contexto histórico da suspensão dos direitos fundamentais, incluídas aí as liberdades de organização e de expressão. Sendo que, os 48 anos de regulamentação da profissão, a retratam como um campo ainda em busca de maior inserção social e representatividade política (YAMAMOTO; OLIVEIRA, 2010). Conforme os autores (2010), a Psicologia instituiu-se como um saber e uma prática predominantemente conservadores, direcionando-se, muito tarde, para a construção de um projeto de transformação social.
Da mesma forma, se fizermos um retrospecto histórico, é possível verificar que o movimento em torno das mudanças no Sistema Nacional de Saúde, principalmente a partir de 1980, foi o primeiro fator determinante na entrada assumida pelo trabalho dos psicólogos no campo da saúde pública (YAMAMOTO; OLIVEIRA, 2010) .
A prática do psicólogo, desta forma, era uniformizada, pautada na atuação hegemônica da Psicologia daquela época, influenciada pela difusão de uma cultura psicanalítica. O objetivo do trabalho do psicólogo era ajustamento, adaptação, autorrealização, desenvolvimento, convivência e desempenho, almejando, em primeiro plano, um estado de normalidade (BOCK apud YAMAMOTO; OLIVEIRA, 2010).
O ingresso efetivo no campo da saúde pública, pois, ocorreu pela vinculação e participação da Psicologia na Reforma Psiquiátrica, no mesmo período em que, entidades de representação da profissão empenharam-se em debates e críticas sobre os rumos em que seguia o campo profissional dos psicólogos. Emergiu um momento de mobilização nacional em prol de democracia, justiça social e cidadania (YAMAMOTO; OLIVEIRA, 2010 ).
Segundo Yamamoto e Oliveira (2010), tendo em vista que, a regulamentação do Sistema único de Saúde previa a inserção de profissionais de saúde mental nas unidades básicas de saúde e que as atividades dos psicólogos não se restringiam a saúde mental, a demanda de trabalho da Psicologia se viu ampliada. Pois, além de ampliada, a demanda foi direcionada para campos de atendimento a mulher, ao idoso, gestantes e outros. Além do que, foi impulsionada a uma demanda espontânea de usuários não tão cronificados (DIMENSTEIN apud SENRA; GUZZO, 2012).
Nos anos 2000 é que as discussões iniciadas no período de 1980 começaram a refletir no âmbito da prática da Psicologia. No mesmo sentido, Bock (apud SENRA; GUZZO, 2012 ) discute as limitações sociais do trabalho do psicólogo restrito aos consultórios particulares ou escritórios para a interferência ou a melhoria das condições de vida das pessoas atendidas. Mesmo considerando essa configuração profissional, ainda majoritariamente atuando de modo individual e com uma abordagem clínica, o envolvimento e a presença dos profissionais nos espaços públicos têm crescido, sobretudo em organizações não governamentais e no poder público.
O compromisso social da Psicologia, nesse sentido, pode assumir variadas conotações, entendendo que este deve estar articulado de forma coerente com a prática. Assim, Yamamoto (apud SENRA; GUZZO, 2012) aponta que atuar com compromisso significa não somente superar o elitismo, mas direcionar a atuação para outros rumos daqueles que tem definido a Psicologia. Para uma atuação comprometida socialmente, não basta somente deslocar práticas e modelos teóricos de outros contextos de atuação do psicólogo para espaços comunitários, ou ainda, buscar restringir a abrangência de atuação.
Neste sentido, o trabalho do psicólogo requer posicionamento e ação de cunho político e transformador frente às questões das condições de vida, também requer apropriação de conhecimento de outros campos, trabalho em conjunto com outras áreas, e principalmente, a invenção de novos conhecimentos que não se restrinjam ao ser ou não ser uma prática clínica (OLIVEIRA; AMORIM, 2012).
Podemos visualizar, com isso, que a inserção da Psicologia em uma abordagem ampliada e de uma visão integral dos sujeitos emerge com movimentos contra hegemônicos que alimentam uma série de novas formas de compreender o homem. Conforme Luna (2014)
o desafio atual da Psicologia, enquanto categoria profissional, tem sido ampliar a sua inserção na atenção primária, a fim de demonstrar o potencial da profissão para promover a saúde da população. Desta forma, o fazer psicológico em saúde pública necessita refletir o compromisso do psicólogo com práticas de promoção à saúde, assim como, com práticas de prevenção de agravos à saúde.
Esta nova representação de pensar as práticas em Saúde são impulsionadas na década de 1980, declarando a saúde, como um direito de todos e um dever do Estado, integrado-a a uma rede regionalizada e hierarquizada de serviços. A partir daí inicia-se o processo de implantação do Sistema único de Saúde (SUS), pautado por diretrizes e princípios, entre os quais encontramos a integralidade (LUNA, 2014).
Este princípio está legalmente vinculado à rede de ações e serviços de saúde, à garantia ao acesso e à continuidade deles para todos. Sua regulamentação ocorreu através da publicação das Normas Operacionais de Assistência à Saúde (NOAS 01/01 e 01/02), em 2001 e 2002, respectivamente. Tais normas propõem a regionalização da atenção à saúde, de modo a organizar as ações e serviços de saúde nos três níveis de complexidade (RODRIGUES E SANTOS apud LUNA, 2014).
A integralidade da assistência é compreendida como um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, tanto individuais como coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade. Esse princípio tem sido denominado, como medida de acesso aos serviços de saúde, ou seja, como se ela fosse sinônimo da garantia de acesso a todos os níveis de atenção à saúde, como o básico, secundário e terciário (LUNA, 2014).
Desta forma, a integralidade pode ser pensada em uma posição político-administrativa, quando diz respeito à forma de organização dos serviços na perspectiva do atendimento nos níveis de atenção, bem como, na integração com os demais setores e serviços disponíveis para a atenção integral à saúde (NOGUEIRA; FAGUNDES, s/d). Ou na esfera da atenção a saúde, quando pensa a relação entre a realidade social e a produção de saúde, considerando a necessária integração de saberes e práticas. Além disso, têm implícita a interdisciplinaridade e a intersetorialidade.
Da mesma forma a integralidade, que pode realizar-se
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