SOBRE OS INVERTIDOS – SIGMUND FREUD
Por: YdecRupolo • 7/12/2018 • 2.286 Palavras (10 Páginas) • 433 Visualizações
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esse vazio agora instalado, mas jamais conseguindo tal façanha. Vale constatar que
em algumas versões desse mito, tais seres humanos não possuíam como via de regra uma
cabeça masculina e uma feminina, mas tendo variações como um corpo com duas cabeças
masculinas ou duas cabeças femininas. Tal constatação em muito faz sentido ao lembramo-
nos que a atração por pessoas do mesmo sexo era algo comum na Grécia antiga, e não visto
como anormal em diversas outras civilizações antigas, portanto a procura pelo mesmo sexo
não seria anormal.
A hipótese trazida por Aristófanes é muito interessante por apresentar um motivo para
a busca incessante que temos pela realização de nossos desejos, sendo o desejo de se tornar
completo, de preencher nosso vazio e assim não mais desejar, se tornando pleno, como o
1 FREUD, Sigmund. Obras psicológicas de Sigmund Freud: Um caso de Histeria, Três ensaios sobre
sexualidade e outros trabalhos (1901-1905). Vol. VII, Imago, 1996. p. 152.
maior deles. Além de também mostrar como o desejo pelo mesmo sexo pode ser visto como
algo de natureza normal, e não patológico como muitos acreditavam e ainda acreditam.
No final do século XIX, a sexologia se tornara uma nova ciência, empenhada em um
trabalho positivista de classificação dos “tipos” de sexualidade e seus comportamentos. Na
época, toda patologia que não possuía sua origem provinda de fontes infecciosas ou
traumáticas era rapidamente enquadrada na esfera da degeneração. Classificando assim os
invertidos como doentes degenerados. Tal estreitamento de visão é discordada por Freud que
diz que o termo “degeneração” teria sido usado de forma indiscriminada, fugindo de sua real
conceituação, e que não vê como os invertidos podem ser enquadrados em tal aspecto, sendo
que o uso de degeneração deveria ser empregado apenas quando, (1) Houver uma conjugação
de muitos desvios graves em relação a norma; (2) A capacidade de funcionamento e
sobrevivência parecer em geral gravemente prejudicada. (FREUD, Vol. VII, Cap. 1, p. 131,
1996) 2
Estabelecendo tais condições, Freud então discorre o porquê de os invertidos não se
encaixarem em tais definições sendo elas:
(1) encontra-se a inversão em pessoas que não exibem nenhum outro
desvio grave da norma. (2) do mesmo modo encontramo-la em
pessoas cuja eficiência não está prejudicada e que inclusive se
destacam por um desenvolvimento intelectual e uma cultura ética
particularmente elevada. (FREUD, Vol. VII, Cap. 1, p. 131, 1996) 3
Classificar os invertidos como portadores de algum aspecto degenerativo que não seja
os de cunho “social” empregado pelos valores e crenças religiosas do final do século XIX não
faz o menor sentido se formos olhar a questão de forma analítica e crítica. Afinal a atração
por pessoas do mesmo sexo é datada desde os primórdios da humanidade, encontrando
relatos históricos em praticamente todas as antigas civilizações. Mas aparentemente o cunho
degenerativo era/é empregado apenas as civilizações modernas, fazendo com quem o uso do
termo “degeneração” não seja apropriado para se referir conceitualmente aos invertidos, que
não apresentam nenhum aspecto degenerativo por sua escolha (desviante) de objeto sexual.
2 FREUD, Sigmund. Obras psicológicas de Sigmund Freud: Três ensaios sobre a sexualidade. Vol. VII,
Imago, 1996. p.131.
3 FREUD, Sigmund. Obras psicológicas de Sigmund Freud: Três ensaios sobre a sexualidade. Vol. VII,
Imago, 1996. p.131.
Karl Heinrich Ulrichs foi um dos pioneiros na luta pelos direitos dos invertidos, além
de ter lutado a favor da revogação das leis anti-sodomitas, que eram leis ríspidas que puniam
os comportamentos sexuais desviantes da norma da época. Em sua luta, fundou o culto ao
“Uranismo” onde dizia que seus membros, sendo todos invertidos, eram pessoas comuns,
normais, uma variação da espécie humana que possuía sua particularidade de gozo, esse gozo
que é inerente a moral ou a prática ética dos ditos bons costumes da época. Karl Heinrich
Ulrichs aproveitava seu discurso para versar a diferença, não tão visível as massas, entre os
invertidos e os pederastas e os devassos em uma tentativa de descriminalizar os atos dos ditos
invertidos, visto que os mesmos eram taxados de loucos degenerados e facilmente acusados
de atos públicos impróprios, crimes de vergonha contra os bons costumes e as pessoas de
“bem”.
Freud contribuiu imensamente para um olhar crítico quanto a questão dos invertidos,
ao levantar reflexões que tiram a patologia de sua essência, trazendo ao pensamento o tópico
de um desvio do objeto sexual, uma variação das várias variações possíveis. Mas não posso
deixar de achar intrigante e pensar
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