Resumo do capítulo A Gestação do Espaço Psicológico no Século XIX: Liberalismo, Romantismo e Regime Disciplinar
Por: Rodrigo.Claudino • 22/2/2018 • 1.397 Palavras (6 Páginas) • 2.100 Visualizações
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e livres, que me parece ainda mais original e revelador.
Finalmente, é na versão do liberalismo de Stuart Mill, que mostra como em pleno século XIX o pensamento liberal necessitou recorrer ao ideário romântico para se fortalecer na sua luta contra os avanços do regime disciplinar.
Devemos começar acompanhando o crescimento do pensamento romântico como crítica ao iluminismo, ao liberalismo e ao individualismo. Artistas de várias áreas colocaram em questão as concepções do iluminismo como princípio civilizatório. Foram rejeitados a epistemologia iluminista – empírica e racional - como os valores liberais de independência individual, e a conjugação destes traços numa visão individual da vida social. Uma reação negativa do pensamento conservador romântico aos ideais e realizações da Revolução Francesa, que originou o termo individualismo, com este sentido pejorativo invadiu outras culturas. Ora como uma face nitidamente conservadora e tradicionalista, ora com uma face revolucionária, era assim que os movimentos românticos se apresentavam na sua dimensão política. Os românticos então, criam uma noção de individualidade ou personalidade, definido agora pelas suas capacidades de se autodesenvolver, de criar e, na própria criação, transcender-se e integrar-se às coletividades e tradições.
O romantismo substitui uma noção de liberdade negativa por uma versão moderna na liberdade positiva, implicando na transformação dos sujeitos no que de fato eles são e também na permanente perda de suas identidades convencionais. A força do romantismo vinha da condição de marginalidade que lhe era destinada numa sociedade que se pensava a partir das perspectivas liberais e que já começava a se organizar, sob a proteção do regime disciplinar.
O romantismo nunca foi mais que uma coisa de ’eleitos’. Aliás, A força do romantismo vinha da condição de marginalidade que lhe era destinada numa sociedade que se pensava a partir das perspectivas liberais e que já começava a se organizar, sob a proteção do regime disciplinar. Contudo, os artistas mantinham com o público através de suas obras uma relação contraditória, tanto a presença do escândalo e a mútua agressão como a reverência e mesmo a idolatria às grandes personalidades criativas, chamadas de gênios.
As ideias e formas românticas podem ser assimiladas pelo liberalismo, de maneira menos esmagadora, trazendo-lhe os valores e metas que vão preencher o oco deixado pela redução da vida social à dimensão puramente instrumental, racional e calculadora. Iniciativas coletivistas que emergiram no início e se expandiram na segunda metade do século XIX, devem, mais ao ideário romântico que a uma ideologia tecnocrática, consolidada quando as práticas administrativas já estavam bem instaladas. Desse modo, romantismo e disciplina unem-se contra o liberalismo.
Três pólos de ideias e práticas de organização da vida em sociedade conviveram no século XIX: o liberalismo e os romantismos em suas diversas versões e o regime disciplinar.
Ao pólo L, de liberalismo, pertencem os valores e práticas do individualismo. Ao pólo R, de romantismo pertencem os valores da espontaneidade impulsiva, com identidades debilmente delimitadas. Finalmente, ao pólo D, de disciplina, pertencem as novas tecnologias de poder, tanto as que se exercem sobre identidades reconhecíveis e manipuláveis segundo o princípio da razão calculadora, funcional e administrativa, como as que se abatem sobre identidades debilmente estruturadas e passíveis de manipulação mediante a evocação calculada de forças supra pessoais encarnadas em figuras carismáticas ou projetadas em lendas e mitos saudosistas ou revolucionários.
Estes pólos atraem-se e repelem-se. E as linhas que ligam os pólos correspondem às suas mais ou menos dissimuladas relações de afinidade e complementaridade. Teríamos, assim, uma superfície Bentham ligando o liberalismo ao regime disciplinar. A linha que liga o liberalismo ao romantismo pode ser designada como superfície Stuart Mill. E, finalmente, a linha que liga a disciplina ao romantismo poderia ser chamada de superfície Wagner.
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