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Resenha crítica filme Americqanah

Por:   •  22/10/2018  •  2.813 Palavras (12 Páginas)  •  363 Visualizações

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A relação do cabelo na obra é uma questão muito forte, pois retoma a identidade de uma pessoa negra que, durante toda a construção histórica, tem seu cabelo como marca, principalmente quando se refere ao racismo.

A identificação com a nacionalidade e a cultura sempre foi um dos aspectos mais

fortes na constituição das identidades. De fato, a busca pela identidade nacional e, muitas vezes, pela “pureza étnica e cultural” foi, e mesmo ainda hoje é, uma realidade entre diversos países que buscam a homogeneização da cultura e acabam ignorando os efeitos negativos que isso causa sobre povos de diferentes origens e culturas que habitam o mesmo local. Onde, a partir dessas conclusões, percebe-se que Ifemelu se constitui nesse espaço novo, nas novas ramificações criadas pelo fluxo de afirmar a verdadeira identidade. Um exemplo claro é quando se refere à língua materna. A jovem nigeriana está ciente de como é importante manter a todo o momento sua identidade africana, sem causar o apagamento de suas origens quando se muda para os Estados Unidos. O primeiro passo para isso é não esquecer o inglês nigeriano, a sua pronúncia, “o seu falar de casa”, pois assim que chega à América, ela sente que naquele lugar novo e estranho vai ser preciso, antes de mais nada, manter algo que lembre as suas origens, sem que ela se perca.

Todavia, a primeira imposição que Ifemelu encontra ao chegar à América não é apenas a sua cor e origem, mas também a língua, pois mesmo que saiba falar inglês, o nigeriano não pode expressar as marcas linguísticas que aprendeu no seu país. Mesmo ao perceber a repressão sociolinguística, a nigeriana resiste de muitas formas para que não se esqueça de sua língua e a mantenha como uma forma de lembrança nacional. Sobre este ponto, Barzotto (2011, p. 38) aponta: “Evidencia-se essa inversão explicitamente na troca de idiomas, pois os europeus obrigam os sujeitos colonizados a falarem língua do colonizador, apagando séculos de vida e de história, muitas vezes renomeando pessoas, lugares e costumes.”

A partir disso, Ifemelu começa a sentir o peso de sua origem nigeriana, não consegue se encontrar em nenhum espaço, com o pensamento sempre no país de origem e na busca de respostas para solucionar os problemas, que agora se estendem pela falta de dinheiro, porque mesmo com alguns amigos que também se mudaram para os Estados Unidos, ela sente que em meio a tamanho choque cultural e o “sonho americano”, está de fato sozinha. Esse sentimento de não pertencimento ao lugar que está, pode ser uma das consequências da diáspora. Muito embora esse fenômeno venha sempre em ondas ou grupos de pessoas, Ifemelu de certa forma se enquadra nessa ação.

A personagem Ifemelu, por ser mulher, negra, africana, imigrante nigeriana estereotipada e subjugada durante vários momentos da narrativa como empregada doméstica, prostituta, entres outras profissões que são consideradas como inferiores pelos norte-americanos. Existe uma imposição para que ela não use o sotaque do inglês nigeriano, mas tente de todas as formas falarem de acordo com a pronuncia americana, posto que o inglês nigeriano e extremamente marcado pelos aspectos culturais da Nigéria, sendo uma língua altamente hibridizada, devido ao alto numero de distintas etnias naquele país. Mas mesmo nesse contexto, Ifemelu vai se destacar dentro do espaço do colonizador por sua posição “neutra” com as ofensas, discursos xenofóbicos, raciais e contra sua nação, ate começar a responder a denuncia do colonizador através de um blog.

Ao mesmo tempo em que se torna uma aluna exemplar, ela começa a perceber como pode ser difícil a vida para um imigrante, tendo que lidar com a questão racial e de gênero, além de precisar aprender uma nova rotina, com outro ritmo e novos costumes. Em paralelo, acompanhamos a vida de Obinze, seu namorado da adolescência, que também passa por problemas parecidos ao sair da Nigéria para viver na Inglaterra.

É terrível perceber a atitude das pessoas em relação aos negros nigerianos e também de outras nacionalidades, onde são tratados como pessoas “exóticas”, Chimamanda ironiza a superioridade norte-americana em relação aos imigrantes e também discute a questão da estrutura de classes. Ifemelu é sempre tratada como se fosse inferior, ou não merecesse o que os brancos acham que são merecedores.

Um dos pontos que me marcou nesse livro foi como foi difícil para a personagem aceitar seus cabelos crespos. Depois de passar por vários relaxamentos, cortar curtinho, tentar alisar, trançar, esconder seu lindo cabelo, chorar e nem querer sair de casa por vergonha dos fios, é aterrorizante perceber como a sociedade machuca pessoas que não se encaixam no padrão do corpo magro, pele branca e cabelo liso. Ifemelu é inteligente, de personalidade forte, corajosa, divertida, mas sempre é rebaixada e, no começo de sua empreitada americana, não conseguia arranjar emprego em lugar nenhum, chegando a ser desesperador.

O estranhamento cultural também é recorrente, Ifemelu está sempre indignada com atitudes dos norte-americanos, a forma como se alimentavam, os valores que têm intrínsecos e seu modo de tratar pessoas de outros países. Mas apesar desse contexto, o jeito que Ifemelu encara o mundo, a forma como enxerga as pessoas, é de se impressionar, pois demonstra ter um olho clínico e muita convicção do que observa.

É interessante como a ficção é tão realista, o que nos leva a pensar a quantidade de pessoas que enfrentam atitudes machistas, racistas e arrogantes todos os dias e em todos os lugares do mundo.

Permeando assuntos polêmicos que fazem parte da vida da personagem Ifemelu como uma negra imigrante nos Estados Unidos, e até mesmo questões próprias de cada país, a narrativa acompanha a sua infância, a sua adolescência e os seus treze anos nos Estados Unidos de uma forma íntima, crua e honesta.

Além disso, o livro aborda a vida de Obinze, o namorado nigeriano do colegial que Ifem precisou deixar para trás para tentar viver uma vida digna noutro país. As greves acadêmicas devido à ditadura militar colocavam em risco a formação universitária dos jovens nigerianos, e aqueles que conseguiam visto para outros países se sentiam com sorte. Ela foi morar com sua tia e primo que já residiam na América, mas, depois do episódio de 11 de setembro, tornou-se impossível para Obinze voltar a ver Ifemelu. E o amor que construíram com base numa cumplicidade encantadora, é consumido pela distância de uma forma desumana.

Daí por diante, os antigos amantes se desencontram, seguindo as suas vidas, Ifemelu se adaptando aos Estados

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