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Resenha crítica do filme holocausto brasileiro

Por:   •  25/1/2018  •  1.773 Palavras (8 Páginas)  •  2.137 Visualizações

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Pelos relatos dos sobreviventes e imagens do local feitas na época, os pacientes se igualavam aos prisioneiros dos campos de concentrações nazistas, pois chegavam abarrotados nos vagões do trem conhecido como “Trem dos doidos”. Ao entrar no Colônia, os pacientes entregavam todos os seus pertences, cabendo-lhes apenas um uniforme fino e impróprio para o frio da região chamado azulão. Os homens tinham suas cabeças raspadas e não eram mais chamados pelo nome. Quem chegava lá, era deixado a própria sorte. A comida parecia uma lavagem de porco, com fezes e urina em todos os lugares, doentes com moscas no corpo e muitas vezes tendo que comer ratos e tomar a água do esgoto que percorria o pátio, além das sessões de tortura com os banhos gelados à noite e os choques elétricos. E na maioria do tempo ficavam nus ou em trapos porque não tinham roupas. Os mais fortes eram escravizados.

As autoridades e a população fecharam os olhos para essa barbárie durante quase um século, enquanto homens, mulheres e crianças eram abandonados pela família e pela sociedade passando por situações desumanas. Os poucos sobreviventes ficaram confinados durante muitas décadas e quando saíram tiveram que aprender tudo como uma criança, já que não sabiam como fazer a higiene pessoal e se portar com a liberdade adquirida tardiamente.

É notório que esse genocídio foi realmente uma das maiores catástrofes que o poder público já protagonizou em toda a história do Brasil, principalmente no que tange a saúde pública e os próprios direitos humanos. Muitos tratamentos nefastos são dramaticamente relatados ao longo de toda a obra, no entanto, alguns se destacam pela sua total discrepância em relação aos procedimentos médicos e psicoterapêuticos atuais, tais como a falta de critério médico para as internações, a pouca ou nenhuma formação profissional dos funcionários, ausência de terapias e acompanhamentos específicos para cada caso, o uso de medicamentos inadequados, bem como as péssimas condições de infraestrutura e higiene do local.

Uma prática comum do Colônia era a internação sem critério psicopatológico. Bastava apresentar uma declaração médica para internar quem quisesse. Valendo-se disso, muitos indivíduos se aproveitavam para se livrarem de familiares socialmente inconvenientes, como homossexuais, filhas que perdiam a virgindade antes do casamento, mulheres rejeitadas pelos maridos, mães solteiras, negros, pobres, mendigos, alcoolistas e pessoas sem documentos e etc, ou seja, enviavam os indesejados, como forma de limpeza social. Como foi o caso da paciente Maria de Jesus, a qual foi internada pelo simples fato de apresentar tristeza como sintoma.

Não havia distinção entre os diferentes grupos de pacientes, misturando-se mulheres, homens e crianças, sem levar em conta critérios básicos estudados em Psicologia da Adultez e Terceira idade, tais como o sexo e a idade de cada paciente, como exemplo disso podemos citar os idosos os quais, por apresentarem um dinâmica de vida diferente, requerem maiores cuidados.

Outro problema crítico era a falta de instrução dos profissionais de saúde. Alguns, inclusive, sequer eram alfabetizados, mas eram encarregados de medicar os pacientes, tendo como base para isso apenas a cor dos comprimidos, conforme foi relatado pela ex-funcionária do Colônia, Francisca Moreira dos Reis, conhecida como Chiquinha, a qual inicialmente foi designada para atuar na limpeza, porém, passando com o tempo a distribuir medicamentos.

É evidente que com a falta de formação dos funcionários, viria também outro problema importante que é a falta de clínica adequada para cada caso. Muitos pacientes necessitavam de acompanhamentos direcionados a suas patologias, como é o caso dos portadores de esquizofrenia, fobias em geral e depressão, os quais requerem, segundo os métodos abordados em Psicologia Clínica II, uma abordagem multifuncional. Intervenções inadequadas são em parte demonstradas pelo depoimento do funcionário aposentado, Geraldo Magela Franco, que admitiu que o tratamento de choque nem sempre era de finalidade terapêutica, e sim para a intimidação e contenção dos pacientes... “Não havia prescrição. A gente aprendia na prática sobre o que fazer, quando ocorria qualquer perturbação. No caso dos remédios, a gente dava quando o doente apresentava algum tipo de alteração. Em situações de epilepsia, aplicávamos uma injeção. Se o cara às vezes, se exaltava, ficava bravo, a gente dava uma injeção para ele se acalmar. ” Afirmou Geraldo.

É importante também salientar que não foi possível evidenciar o uso de dinâmicas de grupo em nenhuma das terapias empregadas no tratamento dos internos, embora essas fossem de grande valia em virtude do enorme contingente populacional do hospital e todos os problemas relacionados ao convívio em confinamento.

Conhecido como “sucursal do inferno”, o Colônia era o cenário da desumanidade e do total descaso com a condição humana. Em vista do que foi apresentado, podemos concluir que a existência do Colônia, bem como as práticas que lá foram estabelecidas ao longo da maior parte do século XX, literalmente configurou um verdadeiro holocausto, como foi designado pelo título da obra. Mais de 60 mil pessoas perderam a vida em meio ao completo descaso médico, civil e social. Não é à toa que o manicômio foi comparado ao campo de Auschwitz, com direito ao trem e tudo, infeliz intertextualidade. Todavia, ainda é possível aprender com o passado ainda que este seja ruim. Por isso, é preciso manter sempre viva a história de todos aqueles que entre seus muros viveram e morreram, para que nunca mais cometamos os mesmos erros. O psiquiatra Francisco Paes Barreto defende que é tempo de um novo discurso “ a reforma vive um tempo de impasse, o maior risco é o retrocesso. O discurso manicômio versus antimanicômio está ultrapassado, porque a existência dele não se sustenta, é indefensável. ”

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