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Resenha Crítica do Filme Fernão Capelo Gaivota

Por:   •  18/4/2018  •  1.785 Palavras (8 Páginas)  •  691 Visualizações

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pensava que o mundo que ele vivia era tudo o que existia, que não havia nada além daquilo. Como o prisioneiro da caverna de Platão, que se libertou do mundo das aparências para o mundo das ideias, Fernão se abriu para um mundo de novas descobertas.Este modo de ver a realidade nos remete ao modelo clássico de Platão de conceber a verdade, em que a mesma se constitui na adequação entre o ser e a ideia, e onde o sujeito está ao redor do objeto tentando decifrá-lo. “A partir do momento que o Bem é contemplado, as ações humanas são necessariamente norteadas por sua luz. Antes de tomar uma decisão, o sujeito se pergunta se sua conduta está de acordo com os princípios éticos, entre os quais o mais importante é o bem” (PATRUS, 2014:26).

Mas ao chegar em sua comunidade de origem, as primeiras pessoas que Fernão procurou para falar da sua descoberta foram seus pais, porém eles não o entenderam e o aconselharam a desistir da sua empreitada por temerem a rejeição que ele poderia sofrer junto à comunidade. Usaram como argumento o fato de que eles sempre viveram daquela forma durante gerações, e era assim que deveria continuar a ser. Ele era uma gaivota, e deveria viver como todas as outras. Mas Fernão não queria que sua vida se restringisse apenas a “lutar por cabeças de peixe”. Fernão continuou com seu objetivo de superar cada vez mais os seus limites. Porém, a escolha de Fernão lhe trouxe consequências. Aconteceu exatamente o que seus pais temiam. A comunidade local não aceitou as novas ideias de Fernão e o mesmo foi levado a julgamento. Ele foi acusado de ter rejeitado a tradição, o costume de gerações e, por fim, foi condenado a ser banido para sempre do seu bando. Ele estava condenado a andar sozinho e sem a proteção do grupo. O processo de busca pelo conhecimento e pela “verdade”, muitas vezes vai trazer para nós oposição. É um caminho árduo e muitas vezes solitário. Patrus vai dizer que, ao mesmo tempo em que a consciência permite ao ser humano se aproximar da verdade, condição de sua felicidade, ela promove a percepção de que o ser humano é só. O reconhecimento dessa solidão existencial é a base da liberdade.

Na visão de Patrus, Fernão estava saindo do nível de moralidade infantil, onde as ações do indivíduo estão mais pautadas no sentimento de aceitação para com sua comunidade de origem e no medo de ser punido do que em sua própria vontade, para uma moralidade adolescente, que luta contra toda e qualquer autoridade, que questiona e se rebela.A partir daí, Fernão começou a empreender uma nova e perigosa jornada rumo ao conhecimento. Fernão estabeleceu um objetivo para si, qual seja: “Saberei tudo que há para saber nesta vida”. No meio do caminho, ele encontra um outro bando que o desafia a voar mais alto ainda. A partir deste momento a sua meta é a busca pela “perfeição”. O filme remete a ideia de encarnação, onde para se atingir a perfeição faz-se necessário viver várias vidas. Mas segundo o ponto de vista cristão, podemos entender que numa mesma vida, podemos viver várias vidas, pois se pararmos para pensar, durante a trajetória da nossa vida, nascemos e morremos várias vezes. Nós mesmos e, consequentemente o mundo, estamos em constante transformação. A busca pelo conhecimento e pela verdade será sempre uma busca eterna, pois neste plano nunca iremos atingi-la por completo.........

Num primeiro momento, Fernão vai se rebelar contra qualquer tipo de autoridade. Ele mesmo vai dizer: “Não quero ninguém mais velho dizendo o que eu tenho que fazer”. Mas, ao conhecer o velho Chiang, ele percebe que poderia aprender ainda muito mais. Ele ficou impressionado pois, apesar de ser o mais velho do bando, ele era aquele que voava mais alto do que qualquer um deles. Com Chiang, Fernão passou a exercitar a serenidade e a paciência, chegando assim a um nível mais elevado de conhecimento. Fernão entendeu que o paraíso não é um lugar, mas a própria perfeição e que a velocidade perfeita não é voar rápido, mas estar presente. Que espaço e tempo não são reais e, que podemos chegar até onde quisermos ir.

Fernão estava muito ressentido com os membros de sua comunidade de origem, pelos mesmos o terem banido do bando e seu desejo, a princípio, era de vingança. Mas o velho Chiang o fez entender que ele devia perdoá-los e amá-los, pois eles ainda estavam nas trevas da ignorância, mas ele estava, agora, num patamar mais elevado do que eles. Chiang o fez entender que mais importante do que o conhecimento é o amor. Chiang faz Fernão refletir sobre o que realmente é importante para ele. Foi aí que Fernão se deu conta de que o que ele amava de verdade era o seu bando e ele acaba retornando para ensinar o que aprendeu.Neste momento, Fernão começa a sair da moralidade adolescente para a moralidade adulta, onde a pessoa está apta a julgar e discernir cada valor, sendo capaz de ver o outro como outro e aceitar o fato de que o outro é livre para fazer suas próprias escolhas, independente da expectativa que este tenha sobre ela. Neste estágio, ele não visa apenas o seu próprio bem, mas o bem comum.

Quando Fernão volta, a maior parte do bando ainda não aceita as suas ideias, mas ele consegue um adepto, cujo nome é Francisco. Tal qual Fernão, Francisco também é banido do bando e Fernão passa a ensiná-lo tudo que sabe. Fernão sempre dizia ao seu pupilo: “Quebre as amarras do seu pensamento e você quebrará as amarras do seu corpo também”. Francisco então resolve provar a todos que pode voar e acaba batendo em uma pedra. Neste momento, ele é transportado para um nível mais elevado, isto é, ele morre.

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