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Problematização antropológica de um contexto simbólico

Por:   •  12/10/2018  •  2.108 Palavras (9 Páginas)  •  247 Visualizações

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Como foi orientado em sala pensei em problematizações sobre a palavra mundo, então pensei em perguntar “o que é mundo? ” “o que o mundo representa para você?” “qual é o seu mundo?” “o seu mundo já foi perdido?” e “quais os limites do seu mundo?” Pensei em perguntas as quais fizessem com que eu conhecesse mais sobre o que é meu pai além do papel o qual ele permite que eu veja todos os dias, já que ele é bem fechado e não decide falar sobre si se não achar conveniente. Então por meio do whatsapp perguntei durante a semana se ele poderia me ajudar no trabalho, ele concordou e marcamos sábado, dia 27/05/2017. Iniciamos pela videochamada, como é possível se imaginar ao olhar a figura 1. Meu pai é um homem não muito sensibilizado emocionalmente, o conhecimento que tem foi construído pela vida, mas não na escola, já que estudou até a segunda série do fundamental. Ele pode ser um retrato de muitos brasileiros os quais também não puderam, por condições de vida particulares, concluir a formação escolar ou acadêmica, mas que se enquadram no limiar entre sabedoria de vida e instrução acadêmica.

Dessa forma, comecei questionando sobre o que a palavra mundo o lembrava. Globalização veio a sua mente. Continuei perguntando o que o mundo significava para ele. Ele relacionou com sobrevivência e com o local onde viveu a vida inteira. Busquei aprofundar, perguntando o que era sobreviver para ele. Ele relacionou a condições de vida as quais incluem ter boa alimentação, respirar ar puro, dormir bem, viver com os amigos e poder trabalhar. Assim supus a existência, para ele, de uma conexão entre o mundo e a sobrevivência e perguntei qual era o significado dessa conexão. Ele disse que em sua concepção existiria o criador (Deus) e as criaturas (nós). Deus, continuou, deixou tudo na terra, animais, água e ar para a sobrevivência do homem, mas com o tempo, os próprios seres humanos foram destruindo a terra e os animais e projetou que os homens se auto destruiriam com esse tipo de conduta. Perguntei então o lugar dele no mundo. Ele disse que era o de uma criatura de Deus e se considerava como um sobrevivente. Essa resposta me levou a perguntar se ele era livre desse Deus ou se o que fazia era condicionado a alguém ou a alguma coisa? Ele disse ser livre, pois Deus havia dado a ele o livre arbítrio, contudo acredita um dia no dever de se prestar contas sobre tudo que fez, faz e fará de certo e de errado, concluiu então que era livre “entre aspas”. Questionei sobre qual representação ele daria ao mundo e ele disse “tudo” e usou como justificativa uma passagem bíblica na qual Deus disse que sem Ele o homem não podia fazer nada, logo Deus havia nos dado o mundo contendo tudo que precisávamos.

Então perguntei, qual era o mundo dele e ele disse não ter entendido. Então, busquei construir um raciocínio questionando se o mundo significava sobreviver e ele respondeu que era conseguir sobreviver por muitos e muitos dias, sabendo viver e encarando a vida como um jogo. Continuou dizendo que deveria se saber jogar. Assim, perguntei qual seria o jogo do mundo dele e ele disse ser nascer, crescer, multiplicar e viver cada vez mais, jogando com as cartas certas. Relacionou em sua fala viver bem e ser saudável. Questionei então se jogar a vida de maneira correta significava apenas estar saudável e ele negou e relacionou então a ter ética, ser uma pessoa que não rouba e que não usa drogas e que respeita as outras pessoas e se revoltou quando falou dos políticos pretenciosos os quais roubavam a população e davam exemplos ruins, bem como os médicos e outros profissionais os quais agiam sem ética.

Fiz uma analogia, então, entre perder o chão e o mundo cair e questionei se isso já aconteceu com ele. Ele afirmou ter acontecido várias vezes. Então pedi para que ele contasse sobre essa experiencia e compreendi que deveria ter sido muito difícil. Falou que na primeira vez foi talvez o maior sofrimento da sua vida, pois foi quando ele perdeu seu irmão com onze anos de idade. Foi a primeira perda e disse que psicologicamente ficou sem saber o que fazer, não conseguia raciocinar direito e nem reagir. Perguntei se a dor diminuiu com um tempo e como ele lidou e vem lidando com ela e o que seu irmão representava para ele. Ele respondeu que talvez hoje ele nem lembrasse mais, mas reconhecia que sofreu muito pois eles eram muito próximos e viviam juntos. Sua infância foi com ele então ele morrer foi o mesmo que tirar um pedaço dele. Ele demorou a se recuperar por ser novo e por ser a primeira grande perda, mas hoje talvez nem lembrasse por conta do longo tempo passado. Então questionei se a sensação era como se o mundo tivesse acabado. Ele disse que também, pois no momento a pessoa chega ao ponto de querer acabar com a própria vida, de querer morrer junto, mas reconhece que essa não é a melhor atitude. Perguntei se ele conseguia reconhecer e encontrar significados de que existiriam vários mundos em seu mundo e nas outras pessoas, em analogia ao modo de viver e de pensar de cada um e dele mesmo, dependendo do contexto em que se encontrava. Ele disse que o interessante disso era que cada pessoa pensava e agia de uma forma distinta, uns com mais emoção e outros, menos, por exemplo. Perguntei o que ele achava acerca dessa problematização sobre o mundo e questionei o que o incomodava como ser humano. Ele disse que pessoas que achavam que podiam resolver os problemas dos “outros” e que muitas vezes não conseguiam resolver nem os seus. Continuou dizendo que via o mundo de uma forma diferente, via que se ele não trabalhasse para sobreviver, não iria sobreviver. E desabafou que existiam pessoas que achavam que podiam viver sem trabalhar, mas que ele vive de forma diferente. Ele pediu uma pausa para refletir melhor e depois de uma hora retornamos e ele disse que existiam coisas que não eram boas de se ficar pensando e perguntou se o que já tínhamos construído estava bom ou se eu precisava de mais. Considerando a situação, disse que estava bom.

Como reflexão desse diálogo pude perceber um homem endurecido pela vida, contudo, não é preciso muito para perceber a humanidade do humano que se sustenta na ideia de Deus para justificar sua vida e os eventos que nela ocorrem; e que reconhece o trabalho como impulso a sobrevivência. O que me chamou atenção no diálogo foi o encontro das ideias distintas, eu treinada a enxergar a palavra mundo de uma forma, porém ela representando outra realidade para meu pai. Existem momentos inclusive que parece que estamos falando de coisas distintas e em outros, em que não há retorno, como quando eu pergunto “qual é o seu mundo?” e não obtenho resposta.

Quanto a fotografia, ela busca problematizar o estranhamento da situação. Dá para se perceber

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