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Grupo Operativo

Por:   •  12/11/2019  •  Bibliografia  •  3.183 Palavras (13 Páginas)  •  1.030 Visualizações

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Introdução

Enrique Pichon Rivière nasceu em Genebra (Suíça), 25 de junho de 1907. Imigrou para a Argentina com sua família em 1910. Sua família possuía características culta, de racionalidade francesa (burguesia do sul da França). Seus pais eram progressistas, promulgavam ideias socialistas e eram admiradores de Rimbaud e Baudelaire (poetas malditos da época).

        Aos 19 anos, em 1926, chega a Buenos Aires, viveu no centro da cidade, conviveu e participou ativamente do movimento dos intelectuais de vanguarda de sua época. Como estudante de medicina, problematizou seu saber a partir das modernas concepções sobre o psicossomático.  Estudou psiquiatria (psiquiatria dinâmica) nela articulou todos os desenvolvimentos da psicanálise.  Como psicanalista influenciou seus colegas a trabalhar no hospício, com a psicose. Pichon Rivière é um pensador moderno que pertenceu ao grupo de intelectuais vanguardistas da Argentina no início do século XX.

        Pichon Rivière foi pioneiro na introdução da psicanálise na psiquiatria dinâmica, fundador da APA (Associação Psicanalítica Argentina, 1940) – possibilita a psicanálise de crianças, da psicose, a investigação de enfermidades psicossomáticas, a psicanálise de grupo, a análise institucional, o trabalho comunitário, e fundador do Instituto Argentino de Estudos Sociais (1953). Para o autor, o objeto de formação do profissional deve instrumentar o sujeito para uma prática de transformação de si, dos outros e do contexto em que estão inseridos. Faleceu em 16 de julho de 1977 aos 70 anos.

        A teoria de Pichon Rivière está constituída por 3 grandes campos disciplinares: Ciências Sociais, Psicanálise e Psicologia Social.  Pichón, define ECRO (Esquema Conceitual Referencial Operativo) como um conjunto organizado de conceitos gerais, teóricos, referidos a um setor do real, a um determinado universo de discurso, que permite uma aproximação instrumental ao objeto particular. ECRO é o conjunto de experiências, conhecimentos e afetos com os quais o sujeito pensa/sente/age.

        Pichon-Rivière, médico psiquiatra, começou a trabalhar com grupos na medida em que observava a influência do grupo familiar em seus pacientes. Pichon e outros partiram do princípio de que, o grupo é um conjunto de pessoas ligadas entre si, por constantes  de tempo, frequência e  espaço que são os elementos de enquadres fixos, que se propõem  a efetuar uma tarefa de maneira implícita (o modo como cada integrante vivencia o grupo) ou explicita (aprendizagem, diagnóstico ou tratamento),  que constitui sua finalidade. Para Pichon-Rivière (1998), o processo grupal se caracteriza por uma dialética na medida em que é permeado por contradições, sendo que sua tarefa principal é justamente analisar essas contradições.

        Foi no ano de 1958, com a Experiência Rosário, na Argentina, que a técnica de grupo operativo teve seu início, usando métodos de investigação operativa, sendo organizada pelo próprio Pichon-Rivière no Instituto Argentino de Estudos Sociais (FERNANDES, 2003). Segundo Pichon-Rivière (1991), de uma forma sintética, pode-se definir que o objetivo central dos grupos operativos tem foco na movimentação de estruturas, que muitas vezes tornam-se estereotipadas nos grupos, devido ao aumento de ansiedades que toda mudança produz em cada indivíduo.

        A Técnica do Grupo Operativo se deu, a partir das experiências de Pichon-Rivière no Hospital Psiquiátrico Las Mercedes: a partir de uma greve dos trabalhadores, onde Pichon propõe uma nova forma de cuidado entre os pacientes (os menos comprometidos cuidariam dos mais comprometidos). A experiência foi muito produtiva para ambos os pacientes, que obtiveram uma maior identificação, parceria de trabalho, troca de posições e melhor integração. Sendo assim, começou a trabalhar com grupos sob a influência do grupo familiar nos pacientes (comunicação e interação Aprendizagem / mudança).

        Pichon defende a ideia de que aprendizagem é sinônimo de mudança, na medida em que deve haver uma relação dialética entre sujeito e objeto. A aprendizagem é um processo contínuo em que comunicação e interação são indissociáveis, trazendo conhecimento de integração e de questionamentos acerca de si e dos outros. A técnica de grupo operativo consiste em um trabalho com grupos, com o objetivo de promover um processo de aprendizagem e mudança para os sujeitos envolvidos.

        Segundo Wallon (1975), a criança aos poucos, passa a se colocar a questão do seu eu em relação aos outros, e a partir das relações que estabelece com a sua família pode construir uma referência de conjunto, no qual tem um lugar e um papel específico. Dentro do grupo familiar, a criança aprende a se situar em relação aos outros irmãos, aos pais e aos poucos, toma consciência da estrutura familiar. Além da família que nomeamos de grupo primário, outros grupos começam a fazer parte de nossas vidas. A escola é fundamental para a evolução psíquica da criança, é um meio que oferece novas oportunidades de convivência para ela, também é um meio para a constituição de grupos para as práticas sociais. O grupo traz a importância das relações com os outros (o processo de interação) na constituição de nossa subjetividade, de nosso psiquismo (GAYOTO, [1992]).

         Wallon (1979), ao estudar a influência dos grupos na evolução do sujeito, afirma que além de serem importantes para a aprendizagem social da criança, também o são para o desenvolvimento de sua personalidade e para a consciência de si própria. Na sua inserção no grupo, a criança depara-se com duas exigências básicas: identificar-se com o grupo na sua totalidade, com os interesses e aspirações de seus integrantes, e diferenciar-se dos outros, assumindo um papel determinado. Dessa forma, a vivência em grupo contribui de forma decisiva para que a diferenciação eu-outro seja estabelecida e para a construção da personalidade.

        Na concepção de Pichon-Rivière, o grupo apresenta-se como instrumento de transformação da realidade na medida em que começam a partilhar objetivos comuns, a ter uma participação criativa e crítica, interação e vínculo. Para Pichon-Rivière (1988), a teoria do vínculo tem um caráter social, quando duas pessoas se relacionam, ou seja, uma estrutura triangular (EU – Outro(s) – Figuras internalizadas). O vínculo é bi-corporal (presença sensorial corpórea + personagens internalizados) e tripessoal (presença sensorial corpórea + personagens internalizados). Quando somos internalizados pelo outro e internalizamos o outro dentro de nós, podemos identificar o estabelecimento do vínculo de mútua representação interna. O vínculo é uma estrutura complexa de relação que vai sendo internalizada e que possibilita ao sujeito construir uma forma de interpretar a realidade própria de cada um. Na vivência com os outros nós nos constituímos por meio de uma história vincular que vai se tecendo nessa relação. No Grupo ocorre: vínculo, mutualidade, constituição de sujeitos e transformação da realidade.

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