Funções Psíquicas Compostas e Suas Alterações: Consciência e Valoração do Eu, Esquema Corporal e Identidade
Por: Kleber.Oliveira • 17/9/2018 • 2.268 Palavras (10 Páginas) • 552 Visualizações
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2.0 CONSCIÊNCIA E INTELIGÊNCIA
Afinado a proposta de análise das funções psíquicas compostas, Dalgalarrondo (2008) cita, brevemente, as funções da consciência e da inteligência enquanto compostas.
Segundo o autor, na medida em que a inteligência consiste em um produto derivado da intersecção de diversos outros recursos elementares, não pode ser considerada, em si, um processo elementar. Já a consciência, discutida mais extensamente ao longo dos processos de formação do self, é apontada pelo autor como um componente responsável pela mediação de diversos processos e estímulos ambientais.
Grande parte dos autores considera que no inicio do desenvolvimento psíquico da criança não há discriminação e delimitação claras; entre o eu e o mundo exterior, o eu do bebê estaria interligado com o de sua mãe. Os planos da realidade interna e externa confundem-se na mesma vivência. Não há, portanto diferenciação entre o eu e o não-eu. Esta diferenciação passa a ser construída durante o primeiro ano de vida, quando a criança está apta a perceber e a representar objetos autônomos e estáveis em sua mente.
A criança formará gradativamente o seu eu por meio:
1. Do contínuo contato com a realidade e consequentemente submissão ao principio de realidade.
2. Do investimento amoroso e narcísico dos pais sobre a criança.
3. Da projeção dos desejos inconscientes dos pais sobre a criança e consequente assimilação desses desejos pela própria criança.
4. Das identificações da própria criança via mecanismos conscientes e inconscientes de introjeção, no relacionamento com as figuras parentais primárias.
2.1 ALTERAÇÕES DA CONSCIÊNCIA DA EXISTÊNCIA
Consiste na suspensão da sensação normal do próprio Eu, corporal e psíquico, na carência da consciência do fazer próprio, no distanciamento do mundo perceptivo, na perda da consciência do sentimento do Eu. Para Jaspers, o curioso desse fenômeno é a condição na qual o homem existindo já não poder sentir a sua existência. Os doentes relatam que se sentem modificados, estranhos a si mesmos.
2.2 ALTERAÇÕES DA CONSCIÊNCIA DE EXECUÇÃO
Na alteração da consciência de execução, o doente, ao pensar ou desejar alguma coisa, sente, porém que de fato foi um outro que pensou ou desejou tais pensamentos ou desejos e os impôs de alguma maneira. Os pensamentos podem ser vivenciados como feitos e impostos por alguém ou algo externo, ou como extraídos, arrancados do paciente.
A sensação de “algo feito” por uma força externa pode abarcar todos os tipos de atividades psíquicas, não apenas o pensamento, mas também o falar, o fazer, o caminhar, o querer, os impulsos (inclusive sexuais).
3.0 A CONSTRUÇÃO DO SELF, IDENTIDADE E SUAS ALTERAÇÕES
A construção do Self, consiste no progressivo processo de construção e qualificação de um auto-conceito. Segundo Dalgalarrondo (2008) a criança começa a estruturar este processo ao longo do primeiro ano de vida através de experiências específicas, das quais o autor salienta o:
1. Contato contínuo com a realidade e conseqüente submissão às suas vicissitudes (princípio de realidade). Para Jaspers (1979), a realidade é aquilo que oferece resistência ao indivíduo, opondo-se aos seus desejos, possibilitando que um mundo externo e objetivo seja reconhecido com o tempo. 2. Investimento amoroso e narcísico dos pais sobre a criança. 3. Projeção dos desejos inconscientes dos pais sobre a criança e conseqüente assimilação desses desejos pela própria criança. 4. Identificações da própria criança, por meio de mecanismos conscientes e inconscientes de introjeção, no relacionamento com as figuras parentais primárias. Então, os “pais psicológicos” são tomados como modelos de identificação e, assim, introjetados, assimilados à personalidade da criança. A criança busca ser como o pai e a mãe, copiá-los, agir e sentir como eles.
(DALGALARRONDO, 2008 P. 246)
Neste sentido, segundo o autor, já ao fim do primeiro ano de vida a criança começa a estruturar o arcabouço distintivo entre os espaços internos e externos, os quais a medida que tornam-se progressivamente mais nítidos passam a se conectar a significantes. Aos quatro anos, já é esperado que este processo tenha disposto a criança referenciações mais nítidas de auto-conceito.
Uma vez estabelecido, o Eu torna-se uma estratificação do psiquismo responsável por referenciar todos os processos mentais relacionados às concepções de identidade e auto-conceito; das quais Jaspers (apud Dalgalarrondo 2008 p. 246) salienta as consciências de atividade, unidade, identidade e de delimitação da realidade.
Mais adiante, explorando o processo de constituição identitária, o autor situa esta discussão a luz da teoria psicossocial de Erikson (1985) o qual define a identidade como o sentimento que proporciona a capacidade para experimentar o próprio eu como algo que tem continuidade e unidade, permitindo que o indivíduo se insira no meio sociocultural de maneira coerente. O sentimento de identidade refere-se à sensação de pertencer a algo, de ser parte de algo. A identidade psicossocial permite que o indivíduo oriente-se em relação às outras pessoas e ao seu meio ambiente, estabeleça e delineia as fronteiras do eu corporal e do eu mental.
A identidade é formada a partir do conjunto de identificações conscientes e inconscientes que a criança faz ao longo de seu desenvolvimento. Por meio desse processo de identificação, a criança vai introjetando (incorporando ao seu eu) aspectos diversos dos adultos (pais, avós, tios, professores, amigos, etc.) e também das outras crianças com quem convive.
A identidade psicossocial total é, portanto, composta de múltiplas identidades parciais, como a identidade sexual, a identidade étnica ou racial, a religiosa, a identidade profissional, a identidade relativa à nacionalidade, etc. Incluem-se também as identidades relativas ao sentimento de pertencer a pequenos grupos: ser estudante de medicina, de psicologia, ser membro de um clube, time de futebol, grupo de jovens e assim por diante. A identidade
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