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ANÁLISE DE CONCEITOS FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIALISTAS OBSERVADOS NA OBRA ‘A METAMORFOSE’ DE FRANZ KAFKA

Por:   •  10/6/2018  •  2.253 Palavras (10 Páginas)  •  475 Visualizações

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Nesse emprego, submetia-se a carga excessiva de trabalho e, até mesmo à assedio moral de seu chefe em detrimento do sustento da família. Gregor mantinha exatamente a mesma rotina de sempre até o dia de sua transformação, momento no qual ele, pela primeira vez desde que iniciara em seu trabalho, perdeu a hora de ir ao trabalho (KAFKA, 2009).

Atrasos eram tão raros no comportamento de Gregor que seus familiares estranharam e se dispuseram a chamar-lhe e até seu gerente foi até a sua casa ver o que havia acontecido. Em meio a imensas dificuldades de lidar com a nova forma física, ele se debate até que em um certo momento consegue chegar até a porta e abri-la (KAFKA, 2009).

Ao abrir a porta, levou todos à um estado de choque por ver sua condição: um enorme e assustador inseto. A partir desse momento, toda família sofre uma transformação, não física, mas de vivência e rotinas, o pai volta a trabalhar, a mãe começa a costurar para uma empresa e a irmã consegue um emprego em uma loja, contiveram seus gastos, pois perderam uma importante fonte de renda após a metamorfose de Gregor e agora ajudavam-se e elogiavam-se mutuamente (KAFKA, 2009).

No entanto, devido a nova forma de Gregor, ele foi isolado pela família em seu quarto, de onde conseguia constantemente ouvir as lamentações de sua família a respeito do que lhe acontecera e da intenção de livrar-se dele. Até que, depois de um episódio desconfortável com os inquilinos da hospedaria que sua casa agora se tornara faz com que Gregor não consiga manter suas forças e, no dia seguinte ele é encontrado morto em seu quarto (KAFKA,2009).

- RELAÇÃO DE A METAMORFOSE COM OS CONCEITOS DO EXISTENCIALISMO E DA FENOMENOLOGIA

A metamorfose trata de aspectos da existência humana de forma metafórica e com enfoque social, além de fazer uma crítica enfática ao modelo de família moldada pelo capitalismo, modelo tal que almeja status de burguês e tenta, à todo custo se encaixar nos padrões considerados ideais. Para isso se submetem a qualquer tipo de situação, independente dos abusos que isso possa exigir que se suporte (ALBUQUERQUE et al., 2016). Como fica bem claro no trecho a seguir:

“Deus do céu”, pensou, “que profissão mais desgastante fui escolher” É viajar todo dia. A tensão desse comércio [era caixeiro viajante] é de fato muito maior que o trabalho na loja, e além disso a mim me toca ainda esse tormento das viagens, a preocupação com as conexões dos trens, a comida péssima, sem hora certa, o contato humano sempre alternado, nunca permanente, nunca chegando a ser afetuoso. Que isso tudo vá pro inferno! (KAFKA, 2009, p. 32).

A obra de Kafka trata também de mostrar a condição humana, evidenciando o jogo de interesses que sustentam as relações (ALBUQUERQUE et al., 2016), como pode ser percebido claramente neste outro trecho:

[...] assim que juntar o dinheiro e saldar a dívida que meus pais têm com ele [seu chefe] - o que deve durar ainda uns cinco ou seis anos - , adoto a medida [pedir demissão] sem falta. Então as amarras serão todas rompidas. Por enquanto, todavia, eu tenho de me levantar, porque o meu trem parte às cinco (KAFKA, 2009, p. 33).

Além disso, aborda a questão do vazio e da fragilidade das relações, as quais são passíveis de ruína diante da menor frustração de expectativas e, ademais descortina a valorização exacerbada das aparências em detrimento à real essência do homem. Também demonstra a forma distorcida como as pessoas lidam com seus conflitos existenciais (ALBUQUERQUE et al., 2016). Tal fala pode ser confirmada através da reação dos pais ao ver Gregor transformado pela primeira vez, como é narrado abaixo:

A mãe [...] juntou as mãos e olhou primeiro para o pai, depois deu dois passos na direção de Gregor e despencou no meio do círculo formado por suas saias esparramadas, o rosto encoberto pendendo contra o peito. O pai cerrou o punho com uma expressão ameaçadora, como se quisesse forçar Gregor a voltar para o quarto, então olhou a sala entorno de si, indeciso, cobriu os olhos com as mãos e caiu num choro que chegou a sacudir seu peito forte (KAFKA, 2009, p. 48-49).

Ao ver o filho em forma de inseto, os pais demonstraram repulsa pela sua nova forma e, em nenhum momento vê-se preocupação ou cuidado em lembrar-se que aquele era seu filho, o que prova a superficialidade da relação entre eles. Prova maior disso são as conversas que se seguem nos dias após a metamorfose de Gregor, as quais só tinham seu foco no desequilíbrio que tal acontecimento causara a família, jamais lhe ocorreram o sofrimento que Gregor experimentava por sua condição.

- O CONCEITO DE LIBERDADE EM A METAMORFOSE

Segundo Camon (1985) parafraseando Sartre, o homem é um ser livre que decide a própria vida, que arca com a responsabilidade de suas escolhas, lutando, assim, pela sua própria dignidade. Segundo ele, o homem é livre por necessidade ontológica. Sendo assim, quando exposto a uma situação onde seja necessária a determinação de uma dada opção, a liberdade será o determinante da condição humana.

Tal liberdade foi experimentada por Gregor quando percebe que suas perninhas, antes incontroláveis, agora lhe obedeciam completamente e aparentavam capazes de o levar para qualquer lugar que desejasse, dando-lhe assim a impressão de que seu sofrimento havia findado (KAFKA, 2009, p. 71). Essa sensação de liberdade é experimentada por Gregor em alguns momentos, como no descrito a seguir:

Gostava em especial de se pendurar lá em cima, no teto; era bem diferente de ficar deitado no chão; respirava-se com maior liberdade; uma vibração leve corria pelo corpo; e no abandono quase feliz em que encontrava lá no alto, podia acontecer de se soltar, surpreendendo a si próprio, e se espatifar no chão (KAFKA, 2009, p. 71).

- A SOLIDÃO EM A METAMORFOSE

Além de liberdade, o trecho mostra claramente o conceito despatologizado de solidão trazido pelo existencialismo, o qual conceitua a solidão como algo inerente à existência humana e, que leva o homem que a confronta a buscar alternativas existenciais contra essa forma desesperadora em que a existência muitas vezes se encerra (CAMON, 1985, p. 25-26).

Assim fez Gregor, diante da solidão que agora era obrigado a encarar, ele busca arriscar-se em atividades que lhe eram possíveis como essa de subir no teto para obter a sensação que ainda existia, de que ainda era capaz de sentir algo.

- A ANGÚSTIA EM A METAMORFOSE

Para o existencialismo,

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