Tribos de Consumo - Drag Queens
Por: Jose.Nascimento • 14/4/2018 • 4.504 Palavras (19 Páginas) • 334 Visualizações
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uma mistura de alienígena, que transita pela androginia, com referência em outras espécies. As novas Drags, para mostrar toda essa diversidade, trazem visuais livres, que podem ser de animais, plantas, objetos, ou seja, o que elas quiserem... até mesmo um ar mais diabólico, com barba e chifres. Uma das referências dessa nova transformação e que ajudou a introduzir esse estilo cartunesco foi a cantora Lady Gaga.
Toda Drag tem uma diva dentro de si, porém, seu papel na sociedade extrapola o campo da estética e da diversão, alcançando outros terrenos, como política, cultura e moda. Atualmente, o discurso da tribo é contra a homofobia e qualquer tipo de desigualdade. Seus integrantes propagam a ideia de gênero ser uma opção, assim, qualquer um pode desconstruí-lo, ou até mesmo anulá-lo. Para elas não existe a necessidade de sermos homens ou mulheres e o nosso corpo não pode mais atuar como um fator limitante. De maneira geral, elas acreditam que somos todos livres e existência de regras está sempre relacionada à opressão.
A POPULARIZAÇÃO DAS DRAGS
Sem dúvida, foi a internet que deu sua maior contribuição para popularizar ainda mais o movimento. Através de blogs, vlogs, canais no Snapchat, transmissões ao vivo no Periscope, contas no Instagram e tutoriais de montagem no You Tube, elas possuem uma legião de fãs. Uma das maiores provas da popularidade da Drag Queen é o reality show americano, RuPaul Drag´s Race, exibido no Brasil pela Netflix, outros veículos da internet e também pelo canal pago Multishow. O programa, apresentado pelo ator, cantor e intérprete, RuPaul desde 2009, retrata o cotidiano de uma nova geração de Drag Queen e se tornou um sucesso ao explorar o potencial da estética drag.
Muitos artistas passaram a se identificar com as Drag Queens e se aproximar do seu público que, por sinal, é muito fiel e crítico. Muito mais que criar o laço é dar destaque a essa tribo, como fez a cantora e atriz teen Miley Cyrus durante sua apresentação no VMA. O Video Music Awards é umas das maiores premiações de música nos EUA e anualmente atrai milhões de espectadores mundo afora justamente por reunir os artistas mais badalados do grande público. Na edição do ano passado (2015), Miley foi a apresentadora do evento e, como cantora, personalidade polêmica e defensora LGBT+, passar despercebida não era uma possibilidade. Dito e feito: Cyrus fez o encerramento do VMA com uma performance extravagante, ao lado de 30 drag queens, em sua maioria ex-participantes do RuPaul’s Drag Race.
Figura 1: Apresentação da Miley Cirus no VMA
O vídeo da transmissão conta com mais de 755 mil visualizações no canal da própria MTV (canal que transmite o evento) e quase 1.500.000 no canal Clevver News, voltado para a cultura POP e entretenimento.
Outro caso de conexão direta com a tribo é a cantora Wanessa Camargo, que fez um show para vinte mil foliões na madrugada do dia 16 de fevereiro de 2015 durante o Pop Gay. O evento, uma das maiores atrações do Carnaval de Florianópolis, é um concurso promovido para escolher as rainhas em duas categorias: Beauty e Drag Queen.
Bastante engajada, Wanessa, que recentemente foi nomeada embaixadora da ONU em resposta ao HIV e ao combate à discriminação, afirmou: “Florianopolis é uma cidade maravilhosa e eu considero como um marco na carreira cantar aqui, diante de milhares de pessoas na maior festa gay do Brasil”.
Fernanda Lima e seu “Amor & Sexo” constantemente dão provas que também apoiam o movimento das Drags. Na nova temporada, que estreou dia 23 de janeiro de 2016, o programa lançou o Bishow, um quadro onde três candidatos se transformaram em Drag Queens, com a ajuda de três madrinha, as drags Aretuza Lovi, Gloria Groove e Sarah Mitch, que comemorou a participação: “Fui selecionada num Brasil de dimensões continentais, para um seleto grupo de três Drag Queens que, segundo a produtora do programa, são as mais completas artisticamente, do Brasil”. O quadro também contou com a consultoria de Lorelay Fox, Drag Queen há mais de 10 anos e sucesso na Web (seu canal no Youtube ultrapassa a marca de 4 milhões e 200 mil visualizações e 114 mil inscritos).
Figura 3: Bishow, quadro do Amor&Sexo com participação das Drags: Aretuza Lovi, Gloria Groove, Sarah Mitch e Lorelay Fox
Outra novidade deste ano no “Amor & Sexo” foi Pabllo Vittar que se tornou uma das cantoras da banda do programa. Pabllo lançou uma versão própria e totalmente e abrasileirada do hit “Lean On”, de Major Lazer & DJ Snake, em seu canal do Yotube. O vídeo lançado por Pabllo foi visualizado mais de 1 milhão e 500 mil vezes no Youtube e viralizou nas redes, tanto que até o produtor musical americano Diplo se rendeu e quis divulgar aos seus fãs: “Adorei essa versão brasileira do clássico de Major Lazer, agora chamada ‘Open Bar’”.
Devido a todo esse sucesso, surgiu o convite para integrar o elenco do “Amor & Sexo” e, hoje, Pabllo colhe os frutos de estar em evidência fazendo shows e dando continuidade na carreira como cantor (mês passado lançou o clipe de “Minaj”, que já contabiliza mais de 425 mil visualizações).
Seja por curiosidade, admiração, vocação ou qualquer outro motivo, as Drags têm feito muito sucesso nas redes sociais. Rebecca Fox é outra prova disso. Há dois anos posta vídeos no Youtube, em sua maioria tutorias de maquiagem, cabelo, sapato e afins, e participa como DJ em festas relacionadas ao grupo e constantemente recebe elogios de seus seguidores:
Figura 5: Respostas ao canal da Rebecca Fox no Youtube
Outro exemplo de sucesso é o Drag-se, um canal do Youtube protagonizado por jovens artistas cariocas inseridos na cultura drag. Atualmente o canal conta com três vertentes: (I) Performances musicais; (II) Lado D, formado por tutoriais de maquiagem e (III) Drag-se, que conta com documentários sobre a vida de treze Drag Queens.
Figura 6: Vídeos do canal Drag-se
JARGÕES, EXPRESSÕES E VÍCIOS DE LINGUAGEM, GÍRIAS E LINGUAGEM PRÓPRIA
Figura 9: Léo Áquilla
As expressões utilizadas pelas Drags são tantas que já existe um dialeto próprio para a tribo, chamado pajubá, que significa “fofoc”. O dialeto, que possuiu origens africanas ocidentais, pode ser conferido em: http://elastica.abril.com.br/alfabeto-drag-as-principais-expressoes-usadas-por-queens
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