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Restrição de Liberdade Religiosa

Por:   •  29/4/2018  •  2.822 Palavras (12 Páginas)  •  366 Visualizações

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Não nos foi permitido de maneira alguma fotografar ou registrar com áudios as reuniões, assim como os grupos da internet de reunião e divulgação dos cultos não nos foi concedido o acesso, portanto, netnografia e fotoetnografia não foram possíveis para contribuir para a pesquisa.

- OBSERVAÇÃO DO TERREIRO E SUAS DEPENDÊNCIAS

O terreiro era uma casa reservada e logo na entrada foi possível observar grades cobertas por panos brancos, para que não fosse possível observar o que ocorria no ambiente. O local da reunião é uma casa pequena de 6 cômodos, os rituais acontecem ao mesmo tempo no pátio, na sala de estar e em um quarto reservado no qual a entrada dos pesquisadores não foi autorizada. Em toda parte haviam imagens de entidades que correspondiam às imagens dos santos da igreja católica, a exemplo disso: São Jorge é conhecido dentro da umbanda como Ogum e não é o único, vários outros santos católicos tem suas identidades reconhecidas com outros nomes pela umbanda, no local haviam outras imagens com aparência de índios e anciões portanto cachimbo, cada imagem era colocada em um altar e se acendiam velas enfrente, algumas acompanhadas de bebidas alcoólicas.

Os membros do terreiro vestem-se inteiramente de branco, os homens usam redes na cabeça e as mulheres uma espécie pano, que lhes cobre a cabeça e os cabelos, todos os membros do terreiro possuem cordões de missangas e rosários pendurados nos ombros e corpo, os rosários fazem ponte a religião católica, enquanto os cordões têm sua representação muito mais específica e detalhada, são também chamados de guias ou colares de contas, representam a força vibracional de um Orixá ou de uma Entidade de Luz, também demonstram o grau de mediunidade de cada filho da casa , de cada linha que se trabalha, assim como também podem ser utilizadas para proteção do médium fora do terreiro.

- OS RITUAIS CULTURAIS E NORMAS JURÍDICAS OBSERVADAS NO TERREIRO DE UMBANDA

As roupas adequadas a quem frequenta esse local não podem ser curtas, decotadas ou de cores escuras, em caso de desrespeito a essa norma é colocado um manto branco sobre o indivíduo. Não é permitida a entrada com sapatos, não pode-se entrar com nada que possa sujar os locais sagrados, os altares das entidades nesse caso, no dia dessa visita o ritual era de cura, e haviam muitas pessoas esperando por esse momento, haviam no local, mais de cinquenta pessoas, o local era pequeno, e nada confortável a qualquer pessoa que estivesse esperando, mesmo as que estavam acomodadas em sofás e cadeiras. Existe uma organização aos que irão participar do ritual de cura e segue uma ordem determinada pelo horário de chegada do frequentador.

A defumação acontece o tempo todo, desde a entrada dos frequentadores, até o final da reunião, ervas são queimadas dentro de um defumador, uma mistura de alecrim, alfazema e quais quer outras ervas que o responsável pelo terreiro peça, pode-se chamar a defumação de magia, ela ocorre para que haja a liberação de energia dos elementos vegetais, esse ritual de defumação tem o intuito de purificar quaisquer impurezas que hajam nos frequentadores ou em suas roupas, equilibrar as energias do ambiente, e libertar cargas emocionais ou espirituais que o frequentador traga consigo. É interessante observar que não há simplesmente uma queima das ervas, existe um ritual que antecede esse onde se pede permissão as ervas para queima-las, eles reconhecem as ervas como vida e por isso precisam de sua permissão. Todos os médiuns fumam cachimbo como uma preparação para o ritual.

Uma vez que todos estão devidamente acomodados o ritual começa, os membros do terreiro que irão incorporar as entidades se ajoelham no centro da sala e fazem reverência voltados para o altar e cantam uma música que se repete até que o pai Jacó, a entidade responsável pelo terreiro, incorpore no seu médium, nesse caso o médium também é conhecido como “filho de santo”, e todos se levantam num gesto de reverência, as outras entidades que acompanham Pai Jacó incorporaram todas de uma vez, cada um no seu respectivo médium, entretanto, mas, essa não é uma situação comum, pois, segundo os frequentadores do terreiro, o correto seria seguir uma ordem hierárquica, onde Pai Jacó seria o primeiro a incorporar e o último a desincorporar. Os médiuns se tremem e torcem até que ficam com as costas envergadas, nesse momento são lhe oferecidas bengalas feitas de madeira comum, também são lhe oferecidos fumo de tabaco e ervas e lenços brancos que são amarrados em volta do ombro, segurando pequenos cajados que tocam no chão, vão até o altar fazer pequenas preces e depois voltam ao seu lugar e sentam, nesse momento eles desenham símbolos no chão, quando todos os médiuns incorporam as entidades, elas se cumprimentam com uma batida do cajado no chão, é posta uma esteira coberta com um lençol branco no chão, onde posteriormente irão deitar as pessoas que serão atendidas no ritual de cura.

Os frequentadores são chamados por seus nomes, um por um e o processo é o mesmo, pedem a benção as entidades responsáveis pelo leito em que irão se deitar, conversam com elas e falam suas dores e problemas, após deitarem os frequentadores parecem entrar em um sono profundo, não se movem mal parecem respirar, são cobertos por um lençol branco, as entidades incorporadas avaliam e decidem entre si a melhor solução para o problema de saúde, depois de resolvidos os métodos, cada um assume um papel diferente no ritual, as cenas se repetem nas outras macas ao lado, alguns esquentam o cajado em velas e passam sobre o frequentador que está participando do ritual, outros usam a própria vela próxima ao participante, também há queimas de fios de palha que estão enrolados e entrelaçados, o fogo têm um poder purificador, curativo e libertador nesse ritual, terminado o procedimento o participante levanta, agradece e vai embora.

Durante o final foi possível observar que uma casa em frente ao terreiro estava reproduzindo uma música evangélica no maior volume possível, naturalmente isso despertou a curiosidade dos pesquisadores que foram conversar com os vizinhos ao terreiro para tentar entender melhor por que havia essa rejeição a crença da Umbanda e até mesmo a tentativa de atrapalhar os rituais religiosos com poluição sonora. A dona da casa, era uma senhora de 54 anos, frequentadora de uma igreja de doutrina Neopentecostal, e quando questionada sobre os seus motivos para fazer tal coisa, ela respondeu: “ali só se faz o mal, se a gente coloca nossa música para tocar mais alto nessa hora é para tentar purificar o que vem dali”. Contatos com outros vizinhos se tornaram

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