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Historia Cultural: "Além da Virada Cultural?"

Por:   •  15/3/2018  •  2.944 Palavras (12 Páginas)  •  332 Visualizações

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4. A história cultural da percepção

Paralelo à história cultural das emoções, está a história dos sentidos. As associações dos sentidos mudam ao longo do tempo, além de eles serem investidos de valores culturais. Burke cita autores que se interessaram pelo tema, como Huizinga e Giberto Freyre, os quais discorreram sobre a história da visão, do som e do cheiro. Hoje, entretanto, a tendência é a descrição ambiciosa de todos os sentidos em detalhes, como a obra "Rembrandt's Eyes", de Simon Schama, que apresentava a Amsterdã do século XVII sob a ótica dos cinco sentidos. O autor cita "Saberes e odores", de Alain Corbin, estudo sobre a "imaginação social francesa". Ele também se preocupou com a história da "paisagem sonora" e com a "cultura sensível"; e mostra que, no passado, os sinos eram ouvidos de forma diferente porque estavam ligados ao paroquialismo. A história da música também é abordada aqui, com exemplo em James Johnson, que fala de uma "nova maneira de ouvir" ao final do Antigo Regime, no sentido de uma maior atenção à música e o seu papel nas emoções. O autor acredita que um estudo geral dos sentidos é mais importante do que estudar cada sentido separadamente.

A vingança da história social

Burke revela que uma reação contra a NHC é uma possibilidade futura. Ela é alvo de críticas no que tange à perda de posições políticas e sociais para "culturais", além do seu construtivismo ser interpretado como uma "epistemologia subjetivista". Essa reação contrária decorre de problemas próprios da NHC, como (além dos limites do construtivismo) a definição de cultura, os métodos a serem seguidos e o perigo da fragmentação. O autor aponta que a relação problemática entre história social e história cultural criou um híbrido "história sociocultural", na qual os dois conceitos são usados e forma indissociável. Burke cita Clifford Geertz e observa que "o perigo da análise cultural era 'perder contato com as superfícies duras da vida', como as estruturas políticas e econômicas", ele, assim, espera uma reconexão. Na NHC, a noção do social deve ser reformada, já que muitos historiadores em geral estudam "que tipos de pessoas estavam olhando para esses objetos em particular em um determinado espaço de tempo" (p. 148). Além desses problemas de definição, há o do método. Trouxe-se à NHC maiores possibilidades de objeto de estudo, e, com isso, novos tipos de fontes; essas, porém, são imprecisas, pois os historidores podem ler os mesmos objetos de formas diferentes. Burke ainda observa a necessidade de diferentes métodos de análise da história cultural e argumenta que deve haver uma mistura dos métods quantitativos e qualitativos. Ademais, há o problema da fragmentação. Os historiadores culturais gostam de análises holísticas, mas a cultura muitas vezes incentiva a fragmentação, servindo como base de conflitos. O "ocasionalismo" implica, também, uma visão fragmentada dos grupos sociais. Há o problema de como obter de um pequeno grupo a representação de um todo e se essas conclusões são válidas, como fez Darnton em "massacre de gatos".

Fronteiras e encontros

Segundo Burke, as "fronteiras culurais" podem ser uma maneira de se enfrentar a fragmentação. Essas fronteiras se referem aos limites entre culturas e se distinguem em visçoes de fora e visões de dentro. Vistas de fora, tais fronteiras podem passar a ideia de objetividade e de fácil mapeamento. Para o autor, os mapas podem enganar no sentido que eles passam uma ideia de "homogeneidade no interior de uma dada 'área de cultura' e uma distinção clara entre os diferentes espaços" (p. 152). Com isso esconde-se alguma sculturas menores. A essa visão deve-se juntar a de dentro, "destacando a experiência de cruzar as fronteiras entre 'nós' e 'eles', e encontrar a Alteridade com 'a' maiúsculo" (p. 152). Assim, enfoca-se nos limites simbólicos e torna-se perceptível aquilo que estava escondido. Outra necessidade apontada pelo autor é a da distinção entre as funções das fronteiras culturais. Elas não são mais vistas apenas como barreiras, mas sim como lugares de encontro ou "zonas de contato". Braudel é citado no seu interesse nas zonas de resistência a tendências culturais, como a rejeição da imprensa no mundo islâmico até o século XVIII. Burke ainda argumenta que as fronteiras são muitas vezes regiões com uma cultura híbrida, mesclando várias culturas.

Interpretação dos encontros culturais

Burke aponta que a importância dos encontros culturais é uma das razões da improbabilidade do desaparecimento da história cultural. A expressão "encontros culturais", ao contrário de descoberta, atende tanto à visão dos vencidos quanto à dos vencedores. No campo de mudanças culturais, a expressão "tradução cultural" tem a "ideia de que o entendimento de uma cultura é análogo ao trabalho de tradução", ou seja, tem-se a crença que é possível tradzir certos aspectos próprios de uma cultura para outra, com a finalidade de adáptação; como ocorreu, por exemplo, nas missões jesuítas. Nesse sentido, grupos quando sentiam-se atraídos por aspectos de outra cultura, tentavam fazer uma "reutilização", tirando os elementos de interesse de um contexto para inseri-los em outro. A tradução enfatiza o trabalho de domesticar o estrangeiro, mesmo que isso não seja consciente - usa-se o modo de percepção de sua própria cultura para interpretar outra. Um conceito alternativo é o da hibridez cultural, que aborda os processos inconscientes e não intencionais, mas dá a impressão de ser um processo natural, sem o engajamento humano. Burke aponta que há ainda a linguística, e que os linguistas se interessam na mistura de duas línguas para formar outra.

Narrativa na história cultural

Burke considera o possível lugar das narrativas de acontecimentos na história cultural. Os historiadores sociais dclinavam a narrativa, pois viam nela uma forma de enfatizar os feitos de grandes personalidades históricas em detrimento das pessoas comuns. Há, porém, uma maior preocupação hoje com tais pessoas e com suas percepções de suas vidas. O autor exemplifica isso citando o direito e o "movimento legal em prol das histórias", que liga-se a uma preocupação com minorias étnicas e mulheres, pois suas histórias afrontam-se com

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