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Pensamento Social do Brasil

Por:   •  26/3/2018  •  2.332 Palavras (10 Páginas)  •  451 Visualizações

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a Europa, contribuindo para o equilíbrio de antagonismos na colonização e formação do Brasil, o português tinha uma grande capacidade de mobilidade o que favoreceu as possibilidades de expansão comercial, e de trânsito pelos quatro cantos do globo, outro aspecto importante para Freyre nessa adaptação dos portugueses aos trópicos é a miscibilidade, a capacidade de reprodução em qualquer sociedade, violentamente e calculadamente, os portugueses tiveram relações sexuais com as mulheres indígenas e com as negras africanas, o que supria em certo sentido a pouca quantidade populacional nas colônias, essa miscibilidade apresentava uma forte sexualização da mulher negra jovem, que era envolvida em um misticismo sexual dos portugueses, os portugueses para ele não trazem consigo separatismos, favorecendo essa miscigenação e a não preocupação com questões raciais. Outra circunstância importante nessa adaptação foi a aclimatabilidade do português, que por ter o clima mais aproximado dos trópicos não tiveram muitos problemas, como os europeus do norte. Portanto, é para Freyre nas qualidades do homem português que já era híbrido na sua formação entre a Europa e a África que reside os elementos para entender o porquê foram os portugueses que conseguiram estabelecer uma colônia no Brasil e que teve alcances para além do ponto de vista econômico, formando a partir do branco europeu, do indígena e do negro africano um povo completamente novo, é na figura positiva que Freyre dá ao português que se estabelece as bases para a criação de uma sociedade híbrida.

Assim, foram dois tipos de colonização que se formaram entre a zona temperada e a zona tropical, a primeira se configurou as colônias de povoamento e se formou uma sociedade refletida na dos países europeus, com hábitos e costumes parecidos, como uma extensão da Europa, a segunda foi a colonização do tipo de exploração, aqui se formou uma sociedade completamente nova, foi além das feitorias comerciais de antes, estabeleceu-se a monocultura da cana-de-açúcar como principal força econômica da colônia e sobre ela o trabalho escravo negro. Formando segundo Freyre “na América tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida de índio - e mais tarde de negro - na composição”, pg.65.

Mas para Caio Prado Júnior o único objetivo aqui ainda era transformar o Brasil na empresa do homem branco europeu, fornecedores de matérias primas, e a maioria dos brancos europeus que aqui chegavam não era para dispender a sua força de trabalho nas lavouras, e sim para organizar a produção agrícola, o trabalho empregado aqui em grande escala foi o resultante da dominação portuguesa africana, foi o trabalho negro africano imposto pela escravidão, que vai marcar profundamente a estrutura do mercado de trabalho e as relações raciais do Brasil. Caio Prado Júnior portanto, entende que a colonização portuguesa no Brasil se desenvolveu como uma grande empresa europeia, com os objetivos e toda a estrutura aqui colocada voltados para fora, sempre fornecendo o que era possível para manter a metrópole e enriquecer a Europa, e esse sentido se manteve, mesmo com diversos processos que ocorreram na história, a abolição da escravidão, o processo de independência, a constituição da república, e os processos de industrialização e desenvolvimento capitalista não deixaram de ser voltados aos interesses do capital estrangeiro e dos países centrais, mantendo portanto o sentindo da colonização e suas consequências para a estrutura econômica interna do Brasil, que tirasse a economia brasileira de uma posição de subordinação. Houve portanto uma relação de dominação, uma relação desigual, em que nos constituímos enquanto explorados.

Outro elemento importante da colonização que se perpetua na formação nacional do Brasil é a família, a família patriarcal é para Freyre a unidade que expressa a produção da colônia, seus valores e força política e social para administrar a base agrícola e o trabalho escravo. É no espaço da Casa Grande que se concentra a convivência de antagonismos. No senhor português branco, o poder político, e no escravo africano negro a força de trabalho que mantém a colônia e a metrópole, a relação entre o português e o negro tem centralidade na obra de Freyre, segundo ele é baseada numa relação sadomasoquista entre o escravo e o português, onde o sexo cumpre um papel central, essa relação mantém não só a produção agrícola, mas é um equilíbrio de antagonismos, onde um e outro se articulam num encontro intercultural, formando um povo que não se reduz a nenhum dos dois. O “&” do título de Casa Grande & Senzala, tem um peso importante, em que a casa grande e a senzala se somam no mesmo Brasil, numa conciliação de dois antagonismos. O espaço privado da família se estende para o espaço público e as relações estabelecidas entre o português e o escravo africano estrutura a nossa política e os nossos espaços de decisão, a autoridade do homem patriarcal se transforma no tempo, mas é possível perceber na figura do homem branco um elemento de formação nacional do Brasil, preservada pela religião católica e que em momentos de polarização política não deixa de mostrar sua cara.

Freyre busca, baseado em Franz Boas, entender o Brasil a partir do seu próprio contexto e nos seus próprios termos, talvez por isso insiste na singularidade do Brasil a partir do processo de colonização, não vê a miscigenação como um problema, como as teorias anteriores, o caráter degradante do mestiço não está no fato da miscigenação, mas sim nas relações de trabalho que se estabelece na colônia. A miscigenação é qualidade do povo brasileiro que concentra dentro de si uma harmonia da antítese branco-negro, ela amortece as diferenças e os interesses, o que dá base mais tarde à noção de democracia racial, esvaziando as relações de poder existente entre raças e os conflitos raciais do Brasil, desconsiderando a estrutura racista em que o Brasil se fundou. Na sua análise é interessante a agência que dá ao negro, como um ser dotado de cultura, e não apenas como uma força de trabalho, mas essa agência é limitada, ela é restrita ao espaço privado da Casa Grande. Ao colocar o equilíbrio na relação entre o português branco e o negro africano, Freyre equilibra também as relações de poder e tirar tanto a responsabilidade do senhor patriarcal nas relações escravistas quanto a resistência do negro na sua condição de escravo, e apesar de reconhecer o horror da escravidão, não a questiona com profundidade.

Portanto, a colonização desempenhou o papel de desenvolver as bases da formação nacional do Brasil,

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