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O (RE)ENCONTRO

Por:   •  19/6/2018  •  1.616 Palavras (7 Páginas)  •  465 Visualizações

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Por outro lado, a relação superlativa de Colombo com a natureza manifesta-se sob três eixos essenciais: pragmática quando está em causa a ciência da navegação[13]; finalista quando lhe é dito algo que ele já sabe[14]; espanto e submissão que delonga-se numa fronêsis intransitiva.[15]

Todavia, se a natureza impõe-se a Colombo de forma que ele próprio vai ajustando as suas convicções na proporção da beleza que se lhe manifesta, os Índios são, no melhor dos casos, parte integrante da paisagem, são “associações directas entre sequências sonoras e segmentos do mundo. Daí que a descrição dos índios possa ser apresentada na sequência de explicações acerca das raízes ou dos cães. A sua condescendência em relação aos habitantes naturais está marcada pela percepção europeia da sua generosidade e credulidade[16], mas também há autoritarismo evidenciado no acto de nomear, que é uma tomada de posse de coisas, ignorando a sua língua e os seus sinais[17]. De resto, numa nova ultrapassagem da contingência individual pela ideologia, a semiótica dos Índios teria de ser semelhante à dos espanhóis dado que a diversidade linguística não existiria. A língua é natural[18], por isso o eu acredita poder comunicar com o outro através de similitudes fonéticas com a língua mãe e natural, as latinas. Consequentemente, só é ouvido o que já se conhece ou deseja conhecer numa trajectória modelar. Assimila-se a língua do estrangeiro numa tentativa de anulação da diferença.

Contudo, a atitude de Colombo por relação aos índios é paradigmática da evolução da mentalidade europeia relativamente ao outro não europeu: espanto; proteccionismo; assimilacionismo; esclavagismo.

A ausência de cultura evidenciada na nudez física é para Colombo o primeiro motivo de admiração. Porém, esta redobra quando chega à constatação que os índios, “embora nus, parecem-se mais com os Homens do que com os animais”. Mesmo assim são, para ele, desprovidos de costumes, ritos, religião, como páginas em branco à espera de nomeação europeia, o que lhe provoca, ao mesmo tempo, uma certa complacência, dada a sua pobreza espiritual, pacífica e receosa simultaneamente. Note-se que, para o eu europeu, a roupa é uma consequência da expulsão do paraíso e a origem da identidade cultural. Pela sua nudez, assemelham-se todos entre si, não possuindo características distintivas. Aliás, a imagem física dos índios acompanha o modelo de descrição da Natureza, já que Colombo os classifica superlativamente como “os homens e as mulheres mais belos que encontrei até hoje.” E as mulheres pareciam “náiades ou ninfas das fontes tão celebradas pela Antiguidade”. Daí que o salto moral seja inevitável para a mente de Colombo: “São as melhores criaturas do mundo e as mais pacíficas”.

Porém, aliada à generosidade supra mencionada, a cobardia dos índios é também uma característica destacada, visto que o eu não entende que aquele outro se rege por outras convenções e, por isso, por valores totalmente distintos. No fundo, Colombo atribui aos índios as características inversas às suas em cada momento ou episódio. Ele, o eu, não entende o outro[19]. Está sempre voltado para si e para as suas mundividências, mesmo que projecte para o outro os seus próprios valores, tornando-os artificialmente iguais, dado que identifica os seus próprios valores com os valores em geral numa recusa da existência de uma substância humana realmente outra, que não seja um estado imperfeito de si próprio. A distinção axiológica impulsiona Colombo a atirar o outro para o campo da ausência de valores e organização social – “são brutos selvagens”. Este sentimento de superioridade gera o proteccionismo, uma estratégia de preenchimento cultural do vazio natural. A sociedade (Colombo) a educar o selvagem crédulo, já que assim fora decidido antecipadamente.

Não obstante que o proteccionismo encrudescerá no esclavagismo quando se acentua a componente da diferença numa divisão clara entre superior / inferior, o europeu colonizador revelará, por outro lado, uma posição intermédia: a assimilacionista. Esta legitimará o ideal de propagar a fé cristã, vista como a fé total por que europeia. Note-se, no entanto, que o princípio que legitima tanto a diferença como a semelhança entre o eu e o outro é o mesmo: o egocentrismo europeu baseado na convicção que o mundo é um só e que ou eu europeu está credenciado para traduzi-lo.

A atitude assimilacionista manifesta-se na tentativa dos colonizadores impregnarem os colonizados com os seus costumes e religião. Para tal, o outro assume ideológica e provisoriamente uma posição de igualdade, sujeito com os mesmos direitos e de respeito pela vontade individual dos índios apesar do utilitarismo da ideia, ou seja, propagar a fé cristã. Daí que, Colombo esteja, sem se aperceber, a sujeita-se a uma contradição insanável: propagar a fé pressupõe que os índios sejam considerados iguais, mas o horizonte maior dessa propagação requer o ouro dos índios; se estes se recusam a dar as suas riquezas, são atirados imediatamente para a esfera da desigualdade e da submissão. Desta a forma

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