Práticas, representações e significados: (re)construindo vivências cotidianas através das sociabilidades
Por: Sara • 13/5/2018 • 6.354 Palavras (26 Páginas) • 462 Visualizações
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Evidenciam-se, pois, elementos a partir dos quais se constroem os cotidianos da organização estudada, especialmente através da lente das sociabilidades organizacionais, apreendidas nesta pesquisa a partir das representações sociais que circulam entre os integrantes da organização, sejam eles profissionais que lá trabalham ou clientes, que utilizam seus serviços e participam de suas atividades. Ou seja, a partir de certos impulsos ou propósitos (SIMMEL, 1983) de seus integrantes, que se assemelham e se misturam, esses grupos ou clubes de corrida são formados. Nesse sentido, cada clube possui suas próprias características, que, ao mesmo tempo, revelam e limitam as características de seus membros, tornando-os “iguais” dentro de seus próprios grupos, dentro dessa micro “sociedade” (SIMMEL, 1983).
O estudo das representações acerca da sociabilidade organizacional em tais formas institucionais reveste-se de importância na medida em que, conforme argumentado, são fenômenos organizacionais recentes, que galgam sucesso contemporaneamente, podendo ser compreendidos à luz de um cenário mais amplo, que concebe uma nítida e cada vez maior união entre lazer, cultura e consumo (TASCHNER, 2000). Ademais, ressalta-se que, para além da problematização acadêmica de um fenômeno contemporâneo, ao compreender que a sociabilidade faz parte do negócio principal dos clubes de corrida, é possível aprender a partir da gestão desse tipo de organização. Isso reforça o pressuposto de que tomar as sociabilidades organizacionais como referentes importantes para a tomada de decisão é fundamental para essa e outras organizações, considerando a presença cada vez mais significativa dessas sociabilidades na sociedade contemporânea (FANTINEL, 2012).
Para os fins desta pesquisa, entendem-se representações sociais como formas de conhecimento que são socialmente elaboradas e partilhadas, tais quais visões práticas que levam à construção de uma realidade comum a um grupo social (JODELET, 1997). Assim, ao representar algo, não é possível duplicá-lo, mas sim reapropriar-se dele, reconstruí-lo (MOSCOVICI, 1997). A representação funciona, pois, como um sistema de interpretação da realidade que rege as relações sociais entre os indivíduos, orientando seus comportamentos e práticas e organizando as condutas sociais (JODELET, 1997). Desta maneira, pretende-se compreender visões de mundo compartilhadas, consensos, enfim, sistemas de saberes práticos, construídos no cotidiano. Sociabilidades organizacionais, por sua vez, são entendidas como ações recíprocas que se constroem a partir de processos interativos, representativos e simbólicos que se dão dentro e fora do espaço organizacional, permeados pela gestão e pelo cotidiano organizacional (FANTINEL, 2012).
Para o presente estudo, foi escolhido um clube de corrida atuante na cidade de Vitória/ES, tendo em vista diversos fatores, como, por exemplo, seu tempo de atuação no mercado local (desde 2005) e a sua disponibilidade em participar da pesquisa. Diante disso, o objetivo desta pesquisa é examinar as representações sociais que circulam em um clube de corrida da cidade de Vitória/ES acerca das sociabilidades organizacionais neles existentes. Destarte, o estudo permitirá desvendar aspectos simbólicos da organização pesquisada, em seu contexto local, e entender a construção do seu cotidiano organizacional.
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Objetivos
Esta pesquisa teve por objetivo principal examinar as representações sociais que circulam em um clube de corrida da cidade de Vitória/ES acerca das sociabilidades organizacionais nele existentes. Como objetivos específicos definiram-se: (1) identificar as representações sociais sobre sociabilidades organizacionais que circulam no clube estudado, externadas por frequentadores; (2) identificar as representações sociais sobre sociabilidades organizacionais que circulam no clube estudado, externadas por profissionais que trabalham na organização; (3) identificar homogeneidades e heterogeneidades nas representações sociais acerca das sociabilidades organizacionais uas organizações. A escolha da organização deu-se, principalmente, em virtude do seu tempo de inserção no mercado local, e também da abertura da empresa, propiciando liberdade e colaboração ao pesquisador.
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Metodologia
Os elementos de base para a coleta de dados e respectiva análise correspondem à etnografia, que tem por objetivo entender e aprender a cultura de uma determinada sociedade ou grupo (CAVEDON, 2003), possuindo um olhar qualitativo sobre elementos simbólicos nas organizações, caracterizando esta pesquisa como uma pesquisa qualitativa exploratória. A partir disso, o objetivo concerne ao desenvolvimento de um estudo de cunho qualitativo no âmbito da organização selecionada, através da triangulação de técnicas de coleta de dados. São elas: a pesquisa documental, a partir de fontes secundárias consultadas em documentos, jornais, revistas, entre outros (GIL, 2007); entrevista, instrumento de coleta de dados sobre crenças, valores, desejos de indivíduos (GIL, 2007); e, por fim, observação, especialmente a sistemática, em que o pesquisador direciona seu olhar de maneira a elaborar um plano específico para o registro e organização das informações pretendidas (GIL, 2007).
A construção do presente estudo iniciou-se com uma pesquisa bibliográfica, em que pesquisador acessou livros acerca do assunto e dos principais conceitos pesquisados, bem como artigos sobre o tema. Em seguida houve um período de observação – cerca de quatro meses –, primordialmente a sistemática, que direcionou o olhar do pesquisador de maneira com que o mesmo pudesse se familiarizar ainda mais com o tema, a partir da perspectiva dos envolvidos (administradores, funcionários e clientes). Somente após essa familiarização, as entrevistas foram iniciadas, pois se fez necessário um conhecimento maior acerca do tema e do contexto pesquisado para que o roteiro de entrevistas pudesse ser elaborado de forma a captar as significações e representações circulantes no clube estudado.
Para as entrevistas, foram utilizadas as do tipo semiestruturada. Foi usado um roteiro previamente elaborado pelo pesquisador, de maneira que deixasse o pesquisado livre para fornecer suas informações. Este roteiro sofria variações (de ordem das perguntas, por exemplo) de acordo com o fluxo da fala do entrevistado. Foram entrevistados funcionários, clientes e administradores da organização, totalizando quinze entrevistas. Os sujeitos entrevistados foram os seguintes: dois sócios-administradores
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