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Web 4 - Curso Português

Por:   •  26/2/2018  •  22.977 Palavras (92 Páginas)  •  344 Visualizações

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Indursky (2010) aponta que uma das falhas da Linguística Textual foi considerar texto e discurso como sinônimos. Outro fator de enfraquecimento dessa corrente foi o fato de haver muitas noções emprestadas de outros campos (linguística, pragmática, AD, teoria da enunciação, etc.).

Atualmente, a noção de texto está sendo novamente mudada dentro da Linguística Textual. Koch (2001) aponta que foi fundamental para essa nova concepção o trabalho de R. de Beaugrande (1997) - "Novos fundamentos para uma ciência do texto e do discurso: cognição, comunicação e liberdade de acesso ao conhecimento e à sociedade".

Esse autor passa a definir o texto como "[...] 'um evento comunicativo no qual convergem ações lingüísticas, cognitivas e sociais', postulando como motto da linguística textual de nossos dias: 'Um texto não existe como texto, a menos que alguém o processe como tal'"(BEAUGRANDE, 1997 apud KOCH, 2001, p. 16, grifo do autor).

Mas não é só dentro da Linguística Textual que a concepção de texto está mudando. No ensino, abordam-se, agora, os gêneros textuais.

Do texto ao gênero textual

Tradicionalmente, nas aulas de redação, trabalhava-se com a tripartição descrição, narração, dissertação. Contudo, ela era falha, uma vez que não abarcava satisfatoriamente os diversos textos com os quais o aluno se deparava no seu dia-a-dia.

Bakhtin (1997) lançou uma nova visão ao afirmar que os tipos de texto são incontáveis e os definiu como "tipos relativamente estáveis de enunciados", uma vez que o assunto, a estrutura e o estilo são as características definidoras de cada gênero. Dessa forma, quando se fala em produção textual versa-se sobre a necessidade de conhecer os gêneros e sua adequação às diferentes situações comunicativas.

Nem todo gênero serve para se dizer qualquer coisa, em qualquer situação comunicativa. Se alguém pretende discutir a legalização do aborto ou qualidade do ensino no país, essa pessoa precisará organizar seu discurso em um gênero como o artigo de opinião, já que ele pressupõe a argumentação, a discussão de questões controversas por meio da sustentação de argumentos favoráveis ao ponto de vista defendido pelo autor e da refutação aos argumentos contrários. [pic 1]

Por outro lado, se a finalidade é relatar a um grande público um acontecimento do dia anterior, o gênero escolhido pode ser a notícia. Se a finalidade é passar ensinamentos às crianças, utilizando como personagens animais com características humanas, a fábula será o gênero mais adequado. Se a finalidade é garantir que seu companheiro não se esqueça de um compromisso, o gênero pode ser o bilhete.

Por conseguinte, saber selecionar o gênero envolve o conhecimento de suas características e a avaliação de sua conformidade às finalidades, ao lugar de circulação e ao contexto de produção.

Pela definição bakhtiniana de gêneros, seria impossível especificar quantos e quais são eles, o que seria problema para as aulas de produção textual.

A partir do conceito de ferramenta de Vygotsky como elemento que permite intervenção sobre a realidade, Dolz e Schneuwly (2007) concebem os gêneros como ferramentas que possibilitam uma ação linguística na realidade. Os autores agruparam os gêneros em cinco grupos, conforme o domínio social de circulação, os aspectos tipológicos e a capacidade de linguagem dominante de cada gênero: gêneros do narrar, do relatar, do descrever, do expor e do argumentar.

Para resumir essa inovação proposta por Dolz e Schneuwly, assista ao vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=OQPw-xUK_tk

Para que você visualize melhor as diferenças entre tipos textuais e gêneros textuais, apresentamos abaixo a tabela adaptada de Marcuschi (2005, p. 23):

Quadro - Diferenças entre tipos textuais e gêneros textuais

Tipos textuais

Gêneros textuais

Construtos teóricos definidos por propriedades linguísticas intrínsecas;

Realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sociocomunicativas;

Constituem sequências linguísticas ou sequências de enunciados no interior dos gêneros e não são textos empíricos;

Constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas;

Sua nomeação abrange um conjunto limitado de categorias teóricas determinadas por aspectos lexicais, sitáticos, relações lógicas, tempo verbal;

Sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função;

Designações teóricas do tipo: narração, argumentação, descrição, injunção e exposição.

Exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, bate-papo virtual, etc.

Fonte: Marcuschi (2005, p. 23)

Nesta web aula, iremos abordar, na Unidade 1, o narrar, o relatar e o descrever e, na Unidade 2, veremos o dissertar (expor) e o argumentar.

Definindo Narrar e relatar

Narrar, no dicionário online Michaelis, é definido como: "vtd 1 Contar, expor as particularidades de um ou mais fatos; referir, relatar: Todos narram o que viram.Narraram-me o que sucedera. 2Descrever, verbalmente ou por escrito; historiar: Narrou Alexandre Herculano os fatos relativos ao estabelecimento da Inquisição".

Assim, a narração é o relato de um fato, em que há personagens atuando e um narrador que relata a ação. Na definição, narrar e relatar são tomados como sinônimos, mas em se tratando de composição textual, eles apresentam diferenças básicas: narrar pertence ao âmbito da ficção, enquanto relatar pertence ao âmbito do real.

Independentemente de ser narração ou relato,

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