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UMA ESCRITURA EM PROCESSO: Joaquim Aguiar

Por:   •  8/6/2018  •  35.504 Palavras (143 Páginas)  •  400 Visualizações

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3.1. A Ironia 76

3.2. Poetas, cantores, teóricos e mitos 85

4. Perspectivas da escrita para Joaquim Aguiar 115

Considerações Finais

1. Perspectivas desta pesquisa para Terapia Ocupacional 134

Anexos 146

Bibliografia 151

Lista de ilustrações 157

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Introdução

- O histórico de uma experiência

Quando cursava o 5º período do Curso de Terapia Ocupacional, iniciei minha busca prática na profissão. Comecei então a estagiar numa clínica particular, realizando atendimento clínico com atividades em grupo. Os participantes do grupo possuíam diversos diagnósticos: psicóticos, neuróticos, perversos e drogaditos. Escolhiam, geralmente, desenhar, e a interpretação era feita a partir da fala do sujeito. Uns faziam associações livres, outros tentavam um jogo de sedução e alguns tinham uma relação bem diferente com a atividade, algo estranho: eram os psicóticos. Houve uma sessão em que o desenho causou tanto desconforto ao sujeito, que ele queimou o papel e disse que era como se tivesse queimado a si próprio, e isso gerou nele mais desconforto ainda.

No 8º período, fiz um projeto para trabalhar com oficina de música no Centro de Convivência ‘Arthur Bispo’, o primeiro criado no Estado de Minas Gerais. Esse projeto recebeu algumas orientações de Marco Antônio Guimarães, membro do grupo UAKTI, baseadas em técnicas que eles utilizavam em educação musical infantil. Eles empregavam figuras e um pêndulo para marcar compasso, tempo e ritmo musical. Procurei levar uma aula ‘pronta’, entretanto não surtiu efeito, musical ou terapêutico. Alguns interpretavam os sinais, outros faziam variações aleatórias. Experimentei deixá-los tocar livremente, mas tocavam incessantemente. Resolvi, então, abandonar a orientação pedagógica.

Deixando que tocassem livremente, iniciei um trabalho com elementos que auxiliassem uma compreensão musical e artística mais ampla. Levava músicas diversas e vídeos. Assistíamos a orquestras, shows, teatros e workshops musicais. A partir disso, eu trabalhava com elementos livres que iam surgindo. O trabalho ganhou outra dinâmica. A título de ilustração, mostro a seguir quatro exemplos de fatos ocorridos nessas atividades.

Exemplo 1: Depois de assistirmos a uma orquestra sinfônica européia, na oficina um psicótico disse: “Diapasão” e continuou: “Regente, diapasão”. Nesse dia, com esses elementos, trabalhamos regência. Esse psicótico foi o regente, sua regência nada tinha a ver com a do regente europeu ou qualquer outro regente. Seu corpo movimentava-se inteiro, havia uma expressividade teatral em seu corpo, eu já não podia identificar se ele regia o som ou se os sons regiam seu corpo, havia uma relação tênue entre seus movimentos e os sons.

Exemplo 2: Fomos a um workshop de um músico alemão, que teve formação musical na Índia. Lá, a formação musical inicia-se com o aprendizado dos sons no próprio corpo para depois tocarem os instrumentos. Na oficina de música, houve uma busca de sons corporais (misturando ludicidade, teatralidade e sonoridade) e até do ‘som sexual’, para o qual, segundo o membro que desejou essa procura, eram necessários incensos, cheiros. E a música passou a ser buscada com todos esses elementos.

Exemplo 3: Um psicótico dizia me amar muito, podendo fazer de mim o que eu desejasse: colocar-me magra, gorda, amarela, vermelha. Dizia ter um terceiro olho por onde via todas as histórias que quisesse. Seu amor fazia com que ele andasse sempre atrás de mim: em reuniões clínicas, em grupo de estudos. Ele me acompanhava em todos os lugares; até no horário em que eu tinha que me retirar do hospital, ele ia comigo até a porta. Sua atitude era quase que insuportável; então, um dia, propus a ele que escrevesse sobre seu sentimento por mim e que levasse o texto para a oficina. Com a escrita, que o grupo tentava sonorizar, estranhamente ele parou de me acompanhar a todos os lugares, era como se ele se “descolasse” de mim.

Exemplo 4: Um psicótico dizia querer aprender “Lá maior”. Perguntei-lhe o que era “Lá maior”, ele respondeu: “É a Solange (freqüentadora da oficina) escrever um texto e a gente tocar o texto”. Começamos um trabalho com um texto da Solange e depois exploramos outros. Nessas atividades, toda a técnica musical era introduzida a partir de elementos textuais, gestuais, teatrais, expressivos. Foram trabalhadas, então, noções de densidade sonora, dinâmica, ritmo e interpretação musical.

Dessa dinâmica surgiu o nome para aquele grupo. Partindo de um hai kai de Joaquim Pedro de Carvalho Aguiar:

Men Sino

Sub Mar

Sino Bário

O nome escolhido foi SINO BÁRIO, que se tornou um projeto performático musical. Joaquim foi convidado para ser o roteirista e, como base para o trabalho, foi escolhido um de seus textos, Delírios da mitologia greco-freudiana, que será retomado diversas vezes nesta dissertação.

Joaquim, como roteirista, sempre tinha um novo texto, com novos elementos mitológicos para acrescentar. Não delimitava o roteiro, apenas acrescentava mais coisas. A meu ver, parecia que o roteiro não teria fim. Era como o som que na oficina de música deixei livre, e eles não paravam de tocar. Observei neles a mesma lógica com esta outra materialidade.

Como coordenadora geral do Centro de Convivência ‘Arthur Bispo’, continuei analisando o manejo dos psicóticos com as diversas materialidades: pedra, cerâmica, corpo, som, lápis e papel. Sempre me perguntava: Qual é mesmo a importância da arte na psicose? Qual o propósito da criação psicótica? Qual a diferença entre os psicóticos e os artistas em geral? Como a Terapia Ocupacional pode se posicionar na relação psicose-arte-oficina?

Iniciei a busca dessas respostas no Programa de Comunicação e Semiótica da PUC - SP. Escolhi, então, o estudo do processo de criação como um caminho para responder a algumas destas indagações.

Possuía vários textos produzidos por psicóticos na oficina de letras. Com o amadurecimento dos estudos e com o auxilio

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