As Intermitências da morte nas perspectivas de ateus e teístas

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crenças diferentes, desde o ateu mais convicto ao cristão mais conservador. Logo, podemos ter muitas análises e interpretações diferentes da obra, os dois pontos de vista mais extravagantemente oposto hão de ser os já citados anteriormente, teístas e ateus, dado que os dois têm ideias deveras opostas sobre a morte, é evidente que tirariam conclusões completamente diferentes sobre sua ausência, cada um adaptando da melhor maneira possível a sua crença.

A começar pelos teístas (nos limitando aos cristãos visto que existem crenças demais para serem analisadas), ainda que sofrendo críticas constantes ao longo do livro, há muitas reflexões na obra que podem agradar àqueles que seguem a fé cristã. Ao leitor cristão, o livro se torna o mais perfeito exemplo do que significaria a vida eterna sem a presença de Deus, um verdadeiro inferno na terra, a eternidade sem Deus significaria o sofrimento eterno ao invés da salvação, sem Deus a vida eterna, que deveria ser um paraíso harmônico sem fome, guerras e doenças, se torna algo de eterno caos, miséria e sofrimento. Com tal interpretação, o livro se torna uma ótima escolha para os cristãos, pois mostra a quão necessária é a existência de Deus para que um dia a harmonia venha a vencer o caos.

Em contraponto temos os ateus, estes já simpatizaram com o autor desde o princípio, pois o próprio Saramago sendo ateu, e como tal, não poupou críticas à igreja e a fé cristã, em geral foi criticado o fato do sentido da igreja estar necessariamente subordinada a morte, mostrando que sem esta toda a estrutura ideológica da igreja cairia imediatamente aos pedaços, o que muitos ateus gostariam de ver. Além do que, há uma grande relativização dos prós da vida eterna (crença que os ateus descartam), mostrando que a grande razão para se acreditar em um deus acaba tendo um lado muito negativo, como é visto com clareza na primeira metade do romance. Um ateu sério com certeza irá se divertir ao analisar as críticas de Saramago.

A obra de Saramago consegue de uma maneira impressionante agradar a “gregos e troianos” ao nos possibilitar tantas abordagens e interpretações diferentes dependendo das características do leitor. Isso nos mostra o quão genial era Saramago e deixa evidente que este foi um dos maiores escritores da história da língua portuguesa e até um dos maiores de todos os tempos.