Mestre Calú: Um dos pilares da cultura pernambucana
Por: Salezio.Francisco • 7/1/2018 • 5.981 Palavras (24 Páginas) • 599 Visualizações
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Keywords: Mamulengo, play, Tourism, culture, Cultural Tourism.
INTRODUÇÃO[pic 19]
Este estudo de caso tem como principal objetivo difundir a pluralidade artística de Antônio Joaquim de Santana, o Mestre Calú, mamulengueiro da Zona da Mata Norte de Pernambuco, celeiro de grandes brincadeiras[1] e artistas populares, potenciais impulsionadores do turismo cultural e da conscientização identitária e de fortalecimento da memória coletiva de um povo.
A diversidade cultural da região é tanta que muitos artistas acabam não recebendo o devido reconhecimento, como é o caso do Mestre Calú, um almanaque cultural vivo. Artesão, cantor e autor de cocos, toadas e loas, oficineiro, doceiro e dono do Presépio Mamulengo Flor de Jasmim, que com quase 50 anos de história preserva muitos elementos de antigamente e não tem nenhuma pretensão de se desviar e passar a fazer parte da indústria cultural que transforma a cultura popular em mera mercadoria geradora de lucros para poucos.
Para atingir seus objetivos, a metodologia utilizada neste trabalho se deu através de revisões bibliográficas, e fontes primárias inéditas, tais como entrevistas pessoais realizadas com o Mestre Calú, nas quais foram obtidas gravações em áudio, vídeo e fotografias. Consultou-se o acervo pessoal de Seu Calú e foi realizada uma apresentação especial do Mamulengo para a complementação prática desta pesquisa.
Quanto às principais referências teóricas utilizadas, encontram-se no Manual de Segmentação do Turismo: Marcos Conceituais, encontrado no site do Ministério do Turismo (MTUR). O complemento teórico se deu por Hermilo Borba Filho (1966 e 1987), que aborda as formas de cultura popular e Jofre Dumazedier (2001), que também aborda a cultura popular, dando ênfase ao lazer.
DESENVOLVIMENTO
O mamulengo é uma brincadeira cuja forma de atuação mais incisiva se encontra na região Nordeste do Brasil, incorporada especialmente na Zona da Mata Norte de Pernambuco, assim como o Maracatu Rural, de Baque Solto ou, ainda, Maracatu de Orquestra, a Ciranda e o Cavalo-Marinho, conforme já dito, de grande potencial para o segmento do Turismo Cultural, bem como atividade lazerística para moradores e visitantes. Sendo o Turismo Cultural aqui entendido conforme Ministério do Turismo – MTUR (2006, p. 15).: “Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura.”
Já Dumazedier vê o lazer com três grandes funções: a do descanso, a do divertimento e recreação, e a do desenvolvimento. Esta terceira função é abordada no sentido do desenvolvimento pessoal que possibilita “uma participação social maior e mais livre, a prática de uma cultura desinteressada do corpo, sensibilidade e razão”. (1976, p. 32-34) entendimento em que se incluem as brincadeiras populares.
O Mamulengo está inserido no conceito de Patrimônio Cultural Imaterial, assim definido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO): “Práticas, representações e expressões, os conhecimentos e as técnicas que proporcionam às comunidades, grupos e indivíduos um sentimento de identidade e continuidade”. O Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) complementa dizendo que o patrimônio imaterial:
É transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana (MTUR, 2006, p.51 )
A arte do Mamulengo é um espetáculo popular que ocorreu por adoção e não por nascimento, já que foi detectada na Índia e Egito a presença de fantoches desde a mais remota antiguidade, passando pela Europa, na Idade Média, e pelo México até chegarem ao Brasil, no Nordeste. (SOARES, ISHIGAMI, MOREIRA, 1996)
A referência mais antiga sobre o mamulengo no Brasil tem data de 1889, no Dicionário de Vocábulos Brasileiros, do Visconde Beaurapaire Rohan e é citada por Hermilo Borba Filho:
É uma espécie de divertimento popular, que consiste em representações dramáticas, por meio de bonecos, em um pequeno palco alguma coisa elevado. Por detrás de uma empanada escondem-se uma ou duas pessoas adestradas e fazem que os bonecos se exibam.[...](ROHAN apud BORBA FILHO, 1987, p.68)
Não se sabe ao certo as origens tanto da palavra Mamulengo quanto da brincadeira em si. Segundo uma hipótese de Borba Filho (1987), citado por Azevedo (2010, p.21), o vocábulo é a união das expressões “Mão Mole” e “Mão Molenga”, que também são usadas pelo público.
Os próprios mamulengueiros não têm certeza quanto a origem da brincadeira. Muitos alegam que sempre há um mamulengueiro que conhece ou conheceu um mais antigo, ou que aprenderam com familiares, o pai, principalmente, ou Mestres conhecedores do brinquedo. Ou que o Mamulengo existe desde o Princípio do mundo, desde o tempo de Jesus. Já outros afirmam que desconhecem o surgimento da brincadeira. Borba Filho relata uma suposição sobre a origem do Mamulengo segundo alguns mestres:
Existem [...] versões populares para explicar o aparecimento do mamulengo no Nordeste e vale a pena apresentá-las porque são ingênuas e poéticas. Uma delas foi recolhida por Altimar Pimentel [...] em princípios do ano de 1963. O autor da versão é o mamulengueiro Manuel Francisco da Silva [...]: “Diz-se de sua origem ter sido feita, numa fazenda do interior baiano, por uma preta escrava, uma variedade de bonecos representando os homens e os bichos da ambiente, e que sua criadora pedira autorização ao seu senhor para fazer a brincadeira‟ e chamá-la de Capitão João Redondo em homenagem ao dono da fazenda.” (BORBA FILHO, 1966, p. 90).
O objeto deste trabalho, Mestre Calú, Antônio Joaquim de Santana nasceu no dia 12 de agosto de 1945, no Engenho Independência, que fica situado no município de Vicência, Zona da Mata Norte do estado de Pernambuco. Nascido em uma família de origem muito humilde perdeu a mãe ainda criança, passando por grandes dificuldades com seu pai e seus irmãos. Ele é casado há 44 anos com Dona Antônia Maria de Santana, com quem teve 9 filhos, dos quais se criaram 6.
Engajado há mais de 50 anos na arte do Mamulengo, hoje seu Antônio é reconhecido
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