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Lar abrigado

Por:   •  8/11/2017  •  8.486 Palavras (34 Páginas)  •  364 Visualizações

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Até o fim do século XVIII, o louco era visto como um rebelde exagerado. Loucura era vista como um erro da razão, uma alienação mental e uma afronta às regras estabelecidas pela sociedade. Por exemplo, se uma menina não fizesse o sinal da cruz antes de comer, não abaixasse o rosto na frente do pai, seria considerada pervertida, sem moral[5]. Em uma época em que ser louco era exercer abuso de liberdade, um desrespeito aos costumes, como no caso da menina, significava loucura.

Com este ponto de vista moral e burguês, o louco era alguém que vive dentro de uma razão errada, desrespeitando as normas de comportamento. A partir daí que surge a idéia de regra para definir o normal e o anormal.

Nesse período surge Philipe Pinel, médico francês, que foi um dos primeiros a tratar do assunto. Na época, a denominação dada à sua especialidade era alienista, que é um termo anterior ao psiquiatra. Pinel acreditava na idéia de anormalidade e animalidade do louco.

No início do século XIX ocorreu um aumento no número de hospícios. Naquela época os loucos foram separados dos marginais pela lei; definiu-se que o louco não era culpado da prática de um crime como são os normais. Ele não vai para a penitenciária, mas sim para o manicômio.

A sociedade dessa época procurava fazer o povo acreditar que a loucura nasce no corpo do indivíduo, buscando uma explicação científica para isso. Dessa forma, não era necessária a mudança na estrutura social e quem deveria se enquadrar era os indivíduos com comportamentos considerados anormais.

A partir de então, a psiquiatria passa a se afirmar como ciência médica. Foram descritas muitas anomalias, criou-se uma linguagem própria com termos científicos para descrever tudo que acontece na mente humana.

Naquela época a medicina não tinha remédios e cirurgias para consertar os defeitos da mente, então a doença era considerada incurável e seus portadores eram hospitalizados, pois no hospício não incomodavam.

Os médicos psiquiatras eram vistos como guardiões do hospício por causa desta visão fatalista.

2.1 Registros sobre a Saúde Mental no Brasil: Relação com a História·

Em 1852 foi inaugurado no Brasil o Hospício Pedro II, que em pouco tempo ficou superlotado. Os hospícios aqui e em outros países se tornavam cada vez mais um lugar de enclausuramento e exclusão.

Em 1923 foi criada a Liga Brasileira de Saúde Mental. Nessa época os psiquiatras se baseavam na psiquiatria filantrópica e na eugenia na busca de evitar que a sociedade tivesse membros anômalos, acreditando que a doença vinha apenas do organismo.

A psiquiatria seguiu um longo caminho na busca de sanar os problemas que estavam postos e para isso utilizou-se de vários métodos, tais como: terapia baseada em choques no cérebro como forma de repressão de um comportamento mais agitado do doente mental; a lobotomia, que é uma cirurgia que consiste em um corte no lóbulo pré-frontal do cérebro, para que os pacientes ficassem mais calmos, mas que levava muitos à condição de zumbis.

Houve tentativas de utilização da psicanálise freudiana nos tratamentos, mas foi mal utilizada, distorcendo seus propósitos e criando a idéia de que todas as dificuldades sociais e pessoais são devido ao mau desenvolvimento de personalidade. Assim, concluiu-se que o individuo é quem precisa ser corrigido para a melhora da sociedade.

No ano de 1961 foi publicada a obra Asilos, de Erving Goffman na qual há uma crítica às instituições chamadas totais (fechadas). Ele coloca que em uma instituição total o interno perde seu eu, sua cultura, sua identidade pessoal e passa a ter a vida da instituição. Essa crítica é voltada para o modelo de internação que busca apenas esconder os males da sociedade sem propor um tratamento que busque melhoras aos doentes internados.

A mudança na psiquiatria foi lenta e gradativa e houve o surgimento de duas orientações: a dos condutivistas e as comunidades terapêuticas.

O condutivismo desenvolveu-se a partir de descobertas neurofisiológicas. O tratamento, segundo essa teoria, parte do princípio que a conduta é ensinável, porém não entra na causa subjetiva do problema. No tratamento de um alcoolista, por exemplo, utiliza-se de remédios misturados ao álcool que, quando ingeridos, provoquem mal-estar. Assim a pessoa desenvolve aversão ao álcool.

Já as comunidades terapêuticas são clínicas onde o paciente é levado a conversar sobre seu relacionamento com os demais, fazendo uso das terapias ocupacionais. Segundo Serrano (1982), estas comunidades falham na medida em que rompem o contato com o mundo externo, ocorre a troca da negação cotidiana do inconsciente pela negação comunitária do consciente.

Apesar dessas duas alternativas não resolverem efetivamente o problema, não há como negar que representaram um avanço no tratamento da doença mental.

Hoje o primordial na busca por uma nova psiquiatria é cuidar do portador de transtornos mentais.

Na década de 60 surgem discussões questionando os métodos da psiquiatria burguesa tradicional. Nesse período surge na Itália uma proposta de desinstitucionalização através da Reforma Psiquiátrica que influenciou muitos outros lugares.[6]

2.2 - A Reforma Psiquiátrica na Itália seus impactos no Brasil

A Itália foi precursora no movimento contra os manicômios que, entre o final da década de 60 e início da década de 70, ganhou força no mundo todo.

O psiquiatra italiano Franco Basaglia[7] foi um importante membro desse movimento.

Ele entendia que a política de Saúde Mental deveria estar centrada nos seguintes objetivos:

- Política de abolição dos hospitais psiquiátricos.

- Transferência da assistência do hospital para a comunidade.

- Construção de centros de atendimentos distritais.

- Esvaziamento progressivo de hospitais.

No ano de 1978 o parlamento italiano aprovou a Lei Psiquiátrica nº. 180. Essa lei foi visivelmente influenciada pelas idéias de Franco Basaglia, pois trazia inovações no que se refere ao tratamento de transtornos mentais e faz ponderações que remetem aos objetivos que o referido psiquiatra entendia que a política de Saúde Mental deveria ter, tais como: Considera o manicômio como uma instituição não terapêutica

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