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Visão Geral E Introdutória À Semiótica De Peirce

Por:   •  26/8/2018  •  3.075 Palavras (13 Páginas)  •  310 Visualizações

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O presente artigo não se propõe a resolver todas as dificuldades de compreensão da Teoria Semiótica que se estabeleceram ao longo dos anos, ou superar os escritos anteriores nessa façanha de deslindar uma teoria cheia de complexidades. Mas, tão somente, ajudar no desdobramento de seu entendimento e de suas aplicações na área de Comunicação junto ao alunado.

O Princípio Da Semiótica De Peirce

A Semiótica estuda o mundo das representações e da linguagem. Imagine que você vem por uma estrada e bem adiante algo chama sua atenção. Um borrão vermelho que se movimenta. Algo cuja qualidade inicial é ser vermelho e isso é tudo o que você capta dele em um primeiro momento. Ano VI, n. 08 – Agosto/2010 Ao se aproximar começa a visualizar que o vermelho se agita como um pano. Essa é a segunda característica que você consegue identificar: a relação do vermelho com um pano em movimento. Por fim, mais próximo do objeto, você desvenda sua dúvida: alguém agita uma bandeira vermelha na beira da estrada compreendida imediatamente como sendo um aviso de que há perigo mais adiante. É desse modo que nos situamos no mundo em nossa volta: primeiro os objetos surgem em nossa mente como qualidades potenciais; segundo, procuramos uma relação de identificação e terceiro, nossa mente faz a interpretação do que se trata. Por isso a Semiótica se baseia numa tríade de classificações e inferências, ao demonstrar que existem os objetos no mundo, suas representações em forma de signos e nossa interpretação mental desses objetos.

E uma das explicações mais citadas de Charles Peirce é a de que o signo é aquilo que substitui o objeto em nossa mente; são eles que constituem a linguagem, base para os discursos que permeiam o mundo. É disso que trata a Semiótica de Peirce: o modo como nós, seres humanos reconhecemos e interpretamos o mundo à nossa volta, a partir das inferências em nossa mente. As coisas do mundo, reais ou abstratas, primeiro nos aparecem como qualidade, depois como relação com alguma coisa que já conhecemos e por fim, como interpretação, em que a mente consegue explicar o que captamos, ao que Peirce chamou de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. E todo esse processo é feito pela mente a partir dos signos que compõem o pensamento e que se organizam em linguagens.

Desde uma simples sensação até os discursos mais elaborados, como um filme, nossa mente vai lidar com os signos que fazem uma intermediação com a realidade que nos cerca.

A compreensão que temos do mundo, os registros e as interpretações, a transmissão de informações, completam o processo de comunicação baseado nos sistemas de signos que compõem toda e qualquer linguagem. Um romance, um anúncio numa revista, uma notícia no rádio, são tipos diferentes de discursos que utilizam linguagens verbal, imagética e sonora compostas por signos distintos. Ora são imagens similares como um desenho de um animal, ora são signos indiciais como poças d’água no chão que indicam que choveu, ora são palavras que nomeiam os objetos, convencionados como símbolos que representam estes objetos.

Eles ajudam a compor argumentos de raciocínio dedutivos, indutivos e abdutivos, e nos permitem estabelecer métodos para chegarmos à compreensão de fenômenos diversos. Todo fenômeno cultural é também um fenômeno de Comunicação, constituído por linguagens que permitem a produção de sentido. E é no ser humano que se desenvolve a transformação dos sinais em signos pela relação que ele mantém com a linguagem. Portanto, pode ser muito mais prático compreender a Semiótica a partir dos processos mentais, que usamos cotidianamente, de compreensão do mundo, para, depois, aplicar as nomenclaturas criadas no contexto dos estudos já publicados.

A Concepção Da Semiótica De Peirce

Espacialmente distintas e temporalmente sincronizadas nos EUA, na antiga União Soviética e na Europa Ocidental; impulsionadas pela Revolução Industrial e, como visto, pela consequente difusão de informações e mensagens de toda a ordem, as vertentes da semiótica originaram o que Santaella chama de uma “consciência semiótica”, ou seja, a consciência das linguagens e da necessidade de estudá-las. Nessa parte do trabalho iremos nos concentrar na semiótica peirceana, por ser o tipo mais apropriado aos estudos da área de comunicação em função do aporte metodológico e da abrangência conceitual em se tratando de signos.

Charles Sanders Peirce foi um cientista generalista (matemático, físico, químico, filósofo, psicólogo) que tentava fornecer, com sua vasta filosofia, uma linguagem comum a todas às ciências. Uma linguagem que fosse quase uma ciência e possibilitasse aos estudiosos entender as relações de seus diversos objetos de estudos. Benjamim Peirce, pai de Charles S. Peirce, era, de acordo com Santaella (1983), o matemático mais importante de Harvard.

O filho Charles, pela convivência em um ambiente de intelectualidade, já trabalhava com química aos 6 anos, tendo se formado bacharel em química por Harvard. Dessa forma, Peirce era matemático, físico, astrônomo, biólogo etc., não se restringindo apenas à área de exatas. Trabalhou, no campo das ciências culturais, com Linguística, Filologia, História, Psicologia, sendo poliglota e tendo ainda estudado Arquitetura. O ponto de união de todas as áreas em Peirce, através da condição de cientista, era a Lógica. Tudo o que Peirce estudou levou-o, inevitavelmente, aos estudos da Lógica. O conhecimento de variadas ciências é o que explica o estabelecimento das diferenças e das proximidades entre uma ciência e outra, realizando comparações entre métodos de raciocínio variáveis entre as matérias e determinados períodos de tempo. Durante 60 anos Peirce tentou legitimar a Lógica como ciência. Conhecedor da Filosofia, Peirce ousou levar os métodos, formas de experimentação e questões científicas para o seio da Filosofia. Sua maior tentativa epistemológica foi vincular Lógica e Filosofia. Segundo Santaella (1983), Peirce explica que um dia, aos 12 ou 13 anos de idade, pegou, no quarto do irmão mais velho, uma cópia da Lógica de Whateley e perguntou ao seu irmão o que era Lógica, recebendo uma resposta muito simples. Jogou-se no assoalho e se enterrou no livro. Desde então, passou a estudar matemática, ética, metafísica, anatomia, termodinâmica, ótica, gravitação, astronomia, psicologia, fonética, economia, a história da ciência, jogo de cartas, homens e mulheres, vinho, metrologia, sempre como um estudo de Semiótica. Peirce, após todas as incursões metodológicas, propôs um esquema filosófico acabado. Partindo

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