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Modernismo: Orpheu - Mario de Sá - Carneiro e Almada Negreiros

Por:   •  15/3/2018  •  2.073 Palavras (9 Páginas)  •  505 Visualizações

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Nasceu em Lisboa em 19 de maio de 1890. Perdeu a mãe aos dois anos de idade, e a dor o acompanhou para o resto da sua vida. Seu pai, quando viúvo, entregou o menino aos avós e seguiu uma vida de viagens,a fim de arcar com os estudos do futuro grande poeta português.Cursou quase um ano da faculdade de Direitos aos 21 anos. Em 1912 conheceu o tão famoso e fiel amigo Fernando Pessoa. Criaram então a revista Orpheu,

Sá – Carneiro, com as influências e conselhos de Pessoa, fez parte das correntes das vanguardas, como o futurismo, por exemplo, dando ênfase a sua poesia, com total dificuldade de expor-se como adulto e transpor barreiras entre realidade e fantasia.

Em suas obras, a predominância era o melancolismo, narcisismo e frustração de sentimentos, que, neste terceiro, retratava a perda da mãe, quando bebê.

Foi para Paris e, ingressou na Universidade de Sorbonne, onde sua vida passou a ganhar os contornos dramáticos, fazendo entregar sua vida a uma convivência desregrada. Abandonou a universidade e se aproximou mais de Pessoa. Começou então a falar ao seu amigo, o desejo de suicídio através de cartas com linguagem sarcástica e irônica.

III.I. OBRA

Mário de Sá – Carneiro teve em seu contexto de obras, os livros: Princípio (novelas – 1912), Memórias de Paris (coletânea de memórias - 1913), A Confissão de Lúcio (romance - 1914), Dispersão (poesia - 1914) e o último publicado em vida, Céu em Fogo (novelas – 1915). As cartas que escrevia à Pessoa, mais tarde em, 1958 e 1959, foram publicadas em dois volumes, tornando-se alvos de análises dos estudiosos literários. Vejamos sua obra primordial: Dispersão.

Dispersão

Perdi-me dentro de mim

Porque eu era labirinto,

E hoje, quando me sinto,

É com saudades de mim.

Passei pela minha vida

Um astro doido a sonhar.

Na ânsia de ultrapassar,

Nem dei pela minha vida...

Para mim é sempre ontem,

Não tenho amanhã nem hoje:

O tempo que aos outros foge

Cai sobre mim feito ontem.

(O Domingo de Paris

Lembra-me o desaparecido

Que sentia comovido

Os Domingos de Paris:

Porque um domingo é família,

É bem-estar, é singeleza,

E os que olham a beleza

Não têm bem-estar nem família).

O pobre moço das ânsias...

Tu, sim, tu eras alguém!

E foi por isso também

Que te abismaste nas ânsias.

A grande ave dourada

Bateu asas para os céus,

Mas fechou-as saciada

Ao ver que ganhava os céus.

Como se chora um amante,

Assim me choro a mim mesmo:

Eu fui amante inconstante

Que se traiu a si mesmo.

Não sinto o espaço que encerro

Nem as linhas que projecto:

Se me olho a um espelho, erro -

Não me acho no que projecto.

Regresso dentro de mim,

Mas nada me fala, nada!

Tenho a alma amortalhada,

Sequinha, dentro de mim.

Não perdi a minha alma,

Fiquei com ela, perdida.

Assim eu choro, da vida,

A morte da minha alma.

Saudosamente recordo

Uma gentil companheira

Que na minha vida inteira

Eu nunca vi... Mas recordo

A sua boca doirada

E o seu corpo esmaecido,

Em um hálito perdido

Que vem na tarde doirada.

(As minhas grandes saudades

São do que nunca enlacei.

Ai, como eu tenho saudades

Dos sonhos que não sonhei!...)

E sinto que a minha morte -

Minha dispersão total -

Existe lá longe, ao norte,

Numa grande capital.

Vejo o meu último dia

Pintado em rolos de fumo,

E todo azul-de-agonia

Em sombra e além me sumo.

Ternura feita saudade,

Eu beijo as minhas mãos brancas...

Sou amor e piedade

Em face dessas mãos brancas...

Tristes mãos longas e lindas

Que eram feitas pra se dar...

Ninguém mas quis apertar...

Tristes mãos longas e lindas...

E tenho pena de mim,

Pobre menino ideal...

Que me faltou afinal?

Um elo? Um rastro?... Ai de mim!...

Desceu-me na alma o crepúsculo;

Eu fui alguém que passou.

Serei, mas já não me sou;

Não vivo, durmo o crepúsculo.

...

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