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Leitura Comparada: Amor de Perdição e o Primo Basílio

Por:   •  3/6/2018  •  1.734 Palavras (7 Páginas)  •  246 Visualizações

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Muito tempo depois, Basílio está de viagem pela Europa, fazendo negócios por capitais como Paris, e precisa visitar Portugal novamente. Sua viagem se dá, curiosamente, ao mesmo tempo em que Jorge, o marido de Luísa, viaja. Diferentemente do que acontecia no romantismo, aqui o dinheiro é importante. Como quer se aproximar da realidade e descrever o comportamento da sociedade com precisão de detalhes, o autor realista deixa claro a todo o momento que o dinheiro é importante: Basílio e Jorge viagem a trabalho, em busca de mais dinheiro; Juliana faz chantagens a Luísa para conseguir dinheiro; Luísa quase dorme com um banqueiro que gostava dela para conseguir dinheiro. Se o dinheiro não fosse importante, talvez Basílio não tivesse abandonado Luísa durante o noivado ou, mesmo que o fizesse, o adultério não aconteceria quando ele voltasse a Lisboa porque Jorge estaria em casa com a esposa. Basílio representa através de uma metáfora, no papel de adúltero, uma diversão a mais na vida daquelas mulheres românticas fúteis. Ele era o novo, o desconhecido, o aventureiro. “Que vida interessante a do primo Basílio!” (p. 63), pensava Luísa. Sua vinda trouxe não apenas a antiga paixão a Luísa, mas também a vontade de viajar. Basílio demonstra o papel de bon vivant da sociedade lisboeta, uma característica que não cabia aos heróis românticos, que viviam, ou melhor, sofriam por amor. Outro traço de Basílio que o diferencia de Simão é a valorização do ser: enquanto o primeiro não aceita a aparência de Julião, amigo de Luísa e Jorge, quando ele a visita, o outro vê o ferreiro João da Cruz e sua filha, que eram pobres, como sua família. A valorização do ser é tipicamente realista. Se, por acaso, Luísa fosse feia como Juliana, que era chamada de tripa seca pelos vizinhos, talvez Basílio nem a tivesse visitado. O Paraíso, para Basílio, era apenas um quarto comum em que ele poderia se divertir com Luísa. Ele não idealizava o amor, assim como não idealizava um lugar para que ele se concretizasse. O importante era o momento. Passemos para a concretização do caso de Luísa e Basílio. É fundamental notar que, embora esteja ausente em boa parte da narrativa, Jorge atrapalha o adultério sempre que aparece nos pensamentos de Luísa. Além disso, suas cartas fazem com que ela se lembre da constância que o marido representa. Jorge é a conformidade e o cotidiano para Luísa que, tratando-se de uma heroína romântica, não se contenta com isso e busca, na figura do amante, a aventura. Jorge apresenta alguns traços românticos, como sua própria visão do amor, do casamento e da família. No entanto, diferentemente de Simão, ele se preocupa com dinheiro. É uma questão pequena, mas importante porque demonstra a mudança naquilo que se conta no realismo: personagens mais mundanos que se comportam de acordo com o determinismo. Jorge precisava de dinheiro, por isso viaja. Basílio deixa claro em vários momentos da obra que não é um herói romântico nem superficialmente. Ele mente para fazer Luísa acreditar que ele sempre a amou e sempre a amará. Ele não acredita no amor. Após dormir com ela pela primeira vez, fala ao amigo: “como um anjo, menino” (p. 159). Embora não saibamos o que o amigo perguntou ao pé do ouvido de Basílio, subentende-se que foi algo relacionado a Luísa durante o sexo. Um herói romântico nunca comentaria dessa forma se tivesse dormido com sua amada. Basílio seduz Luísa aos poucos, enchendo-a de promessas de que viajariam juntos e fugiriam para Paris, sempre guiado pela razão e objetivando conquistá-la. Nenhuma promessa, contudo, é cumprida. Apesar de dizer que a amava, ele nunca teve esse sentimento pela prima. Luísa era uma diversão para Basílio enquanto ele estivesse em Lisboa. Quando descobre que Luísa havia morrido, comenta: “que ferro! Podia ter trazido a Alphonsine!”, referindo-se à amante que tinha em Paris.

Resultado e Discusão

Enquanto o protagonista romântico, representado por Simão, idealiza seu amor, acredita que seu sofrimento é o centro do mundo, e morre simplesmente por ser impedido de se unir-se a Teresa Albuquerque, sua amada. O protagonista realista, Basílio, não acredita no amor, não tem atitudes românticas ou nobres e vê a mulher apenas como divertimento.

Consideração finais

Ficaram aqui apresentados como são caracterizados dois protagonistas de diferentes períodos literários: Simão Botelho, de Amor de Perdição, obra romântica de Camilo Castelo Branco; e, Basílio Brito, de O Primo Basílio, da fase realista do autor Eça de Queirós.

É por meio da análise de obras literárias distintas e pertencentes a períodos literários distintos que podemos esboçar como eram as práticas sociais, os comportamentos, os costumes e os ideais de uma época. Observou-se que os dois períodos retratam visões diferentes de protagonista e que, conseqüentemente, têm ideias contrarias de o que é o amor.

Referências Bibliográficas

BRANCO, C. C. Amor de Perdição. São Paulo. Editora Martin Claret. 1999.

QUEIRÓS, E. O Primo Basílio. São Paulo. Editora Saraiva. 2006.

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