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VIVA LA VIDA: AS REPRESENTAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DA REVOLUÇÃO FRANCESA PELO OLHAR HISTORIOGRÁFICO

Por:   •  8/5/2018  •  2.397 Palavras (10 Páginas)  •  323 Visualizações

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Entre símbolos e signos: a questão da representação

Símbolos e signos, apesar de exercerem funções semelhantes e a priori partirem de uma mesma natureza, recebem e atuam com significações distintas. Para a psicologia, o funcionamento do psiquismo é dado pelo processo de significação o qual se sustenta em sinais e signos.

Para se entender o signo, devemos partir do entendimento de sinal, do qual o mesmo é derivado. Na psicologia, o funcionamento do nosso sistema psicológico passa por diferentes etapas até chegar a “maturidade da mente humana”, e o seu funcionamento, basicamente, é dado pelo processo de sinalização. A mente humana, na sua gênese, funciona a partir do psiquismo, que seria um sistema de orientação e execução do controle da atividade vital, portanto, algo natural. A partir do momento em que a pessoa entra em contato com o seu meio sócio-cultural, o psiquismo fica subsumido no sistema cultural de comportamento, que seria o sistema psicológico. Portanto, a maturidade seria essa inserção da mente humana no seu meio social.

O sinal é toda e qualquer alteração no tempo e no espaço passível de ser percebido pelos órgãos dos sentidos, ou seja, natural. Porém, os seres humanos – aqueles cujo atingiram a chamada maturidade da mente humana – não agem a partir de sinais da natureza, mas sim pelas ações e intervenções de outras pessoas, momento no qual há uma transformação da significação de sinais. A partir do momento em que há a intervenção humana, os sinais (naturais) são transformados em signos (artificiais).

Signo, então, passa a ser uma marca externa que representa algo que não é ela mesma, como por exemplo, as letras. São criações humanas para facilitar a comunicação, porém cada letra não representa a si mesma, mas sim a um som produzido pela sua pronuncia. Portanto, os signos são sinais artificiais criados pelos homens para orientar o comportamento entre si. O homem ao transformar a natureza cria novas ideias que dão origem ao signo, que passa a ser aquilo que ele transformou.

Já para compreender o símbolo em toda a sua complexidade, o teórico psicanalista Carl G. Jung nos elucida na sua obra O Homem e seus Símbolos de forma sintética as devidas significações de símbolo e até mesmo as comparações estabelecidas com o sinal/signo. Assim sendo, apreendo o que chamamos de símbolo como “um termo, um nome ou mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida cotidiana, embora possua conotações especiais além do seu significado evidente e convencional” (JUNG, 1977, p. 18). Ou seja, o símbolo sempre significa algo para além da sua significação imediata e óbvia, fazendo com que a mente busque referencias para que a sua compreensão torne-se possível. E esse é o ponto interessante do símbolo: ele precisa ser interpretado.

Assim, uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto imediato. Esta palavra ou esta imagem tem um aspecto “inconsciente” mais amplo, que nunca é precisamente definido ou inteiramente explicado. E nem podemos ter esperanças de defini-lo ou explica-lo. Quando a mente explora um símbolo, é conduzida a ideias que estão fora do alcance da nossa razão. (JUNG, 1977, p. 19).

Ou seja, Jung apresenta a definição de símbolo, que podemos entender nas suas mais diversas naturezas, uma vez que o encontramos tanto no campo das ideias como também nos símbolos físicos, mas nunca esquecendo que os mesmos sempre carregam significações metafísicas.

E a revolução foi uma grande criadora de símbolos que ultrapassam o campo das ideias e acabam por se materializarem; símbolos que podemos elencar ainda hoje como formas de representatividade dos ideais revolucionários. Lynn Hunt na mesma obra citada acima, nos apresenta o segundo capítulo intitulado “Formas Simbólicas da Pratica Política” onde ela aborda os inúmeros símbolos que surgiram, foram criados pelo e para o povo, e que no fim se tornaram grandes marcos da revolução.

No caso especifico da fonte trabalhada neste ensaio, podemos entende-la enquanto uma representação simbólica contemporânea. Ela implicitamente almeja retratar um dado período/ocorrido, ao mesmo tempo em que nega tal feito. É como na história narrativa, onde o historiador em forma de texto, não inventa a trama, não a trata como uma ficção, mas também não a retrata como uma verdade absoluta em seu texto, mas sim e apenas como uma representação.

Viva la Vida: Um passado distante entoado no presente

Viva la Vida é uma música da banda britânica de rock alternativo, Coldplay. Foi composta por Chris Martin, Will Champion, Guy Berryman e Jon Buckland, todos membros da banda. A canção fez parte do quarto álbum da banda intitulado Viva la Vida or Death and All His Friends, lançado no ano de 2008. A canção gerou inúmeras especulações em torno de seu real significado devido a toda a atmosfera emblemática criada pela banda. A capa oficial do citado álbum foi ilustrada pelo quadro A liberdade guiando o povo[5] do francês Eugène Delacroix, o qual frequentemente é relacionado a revolução francesa.

O enredo da música nos conduz pelos pensamentos aleatórios de um rei deposto de seu trono. Em um momento de reflexão, ele contempla o que outrora havia sido seu para governar e que agora está entregue nas mãos do povo que clama pela sua cabeça entregue em uma bandeja de prata. Na epígrafe deste ensaio podemos notar isso com melhor clareza quando na primeira frase ele entoa “Eu costumava dominar o mundo, oceanos se abriam quando eu ordenava”[6], e logo em seguida lamenta o seu presente ao dizer que “Agora pela manhã durmo sozinho, varro as ruas que já foram minhas”[7].

Sempre que questionados sobre o real significado por trás da canção, os membros da banda afirmavam não a terem escrito especificamente para a Revolução Francesa, mas sim como um reflexo de todas as grandes revoluções, como lembrança e inspiração. Mas a constante e imediata associação da canção a obra de Delacroix – a qual novamente é relacionada e simbolizada sempre ao contexto da França – fez com que todo o público assim a visse. Mais uma vez, destaca-se aqui o poder criador da Revolução Francesa, onde manifestações de seus ideais e seus feitos ainda reverberam pelas entranhas da humanidade, provando o seu poder criador de símbolos e de mitos, e avivando os seus ideais uma vez mais.

A representação pelo olhar historiográfico

Apesar do contexto histórico em questão se distanciar temporalmente por dois séculos

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