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Sifilis na Obra de Gilberto Freire

Por:   •  21/3/2018  •  2.372 Palavras (10 Páginas)  •  282 Visualizações

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Sua transmissão entre soldados de vários exércitos, cursando com lesões de pele, fez com que surgissem os diversos nomes como "mal espanhol", "mal italiano", "mal polonês" etc. Originalmente, não havia nenhum tratamento efetivo para sífilis. O comum era tratar com guáiaco e mercúrio. Mas foi somente no século XX que efetivamente surgiu o tratamento para a sífilis. Em 1906 surgiu o primeiro teste efetivo para a sífilis, o teste de Wassermann. Embora tivesse baixa especificidade, foi considerado um grande avanço para o tratamento da sífilis. Com esta prova o diagnóstico era possível mesmo antes do aparecimento dos sintomas, permitindo a prevenção da transmissão da doença. Porém não provia cura para os infectados.

A partir do melhor entendimento sobre o curso da doença, um tratamento efetivo com cura tornou-se uma necessidade. Primeiramente, na década de 1910, foi escolhido o uso de drogas contendo arsênico - Salvarsan. Outra hipótese seria a malária; esperava-se que a intensa febre produzida pela malária fosse suficiente para exterminar a espiroqueta. Além disso, considerava-se preferível arcar com a contaminação por malária do que se submeter aos efeitos a longo prazo da sífilis.

Somente a partir da descoberta da penicilina e sua difusão depois da Segunda Guerra Mundial, os outros tratamentos passaram a ser obsoletos, e foi possível então a cura efetiva da sífilis. Em um dos episódios mais vergonhosos do século XX, de 1932 a 1972 em Tuskegee (cidade do Alabama, EUA), foi realizado um estudo sobre a sífilis. Num atentado contra a ética e a moral, um grupo de negros americanos permaneceu sem tratamento para que o curso da doença pudesse ser avaliado, mesmo com a existência de medicamentos efetivos. O polêmico estudo rendeu diversos artigos que foram publicados em renomadas revistas científicas. As questões sobre a ética do estudo foram denunciadas pela repórter Jean Heller do New York Times em 26 de julho de 1972 e em novembro de 1974 foi publicado o relatório final do estudo. Em 17 de julho de 1998, na revista científica Science, um grupo de biólogos reportou a sequência exata do genoma do Treponema pallidum.

A partir desse pequeno histórico para entender melhor a historia da Sífilis, vou agora aborda ela com alguns trechos que na qual vários autores contemporâneos fala sobre ela no contexto do livro Casa-grande e senzala;

SÍFILIS NO BRASIL

Ambiente em que começou a vida brasileira foi de quase intoxicação sexual. O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os próprios padres da Companhia precisavam descer com cuidado, senão atolavam o pé em carne. Muitos clérigos, dos outros, deixaram-se contaminar pela devassidão. As mulheres eram as primeiras a se entregarem aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses. Davam-se ao europeu por um pente ou um caco de espelho

(Freyre,2000,p. 164)

Segundo Gilberto Freire a vida sexual brasileira em seus primeiros tempos, marcada por uma excessiva permissividade sexual. Mas o europeu culpava os índios devido seus costumes serem mais liberal sexualmente e cita o exemplos de certas tribos que ofertava suas mulheres aos hóspedes com intuito de hospitalidade.

O fato da grande miscigenação que ocorreu no Brasil desde o início da sua colonização, acabou por favorecer a proliferação da sífilis, tendo em vista que essa doença foi trazida pelos primeiros europeus que atracando no Brasil logo se misturaram com a população indígena, e junto a eles, a sífilis. Ela esteve tão presente na vida cotidiana colonial que era aceita normalmente pela sociedade, chegando ao ponto de que ''o brasileiro a ostentava como quem ostentasse uma ferida de guerra'' (Martius apud Freyre, 2006, p. 109).

Segundo Martius a sífilis achou colonização português em terras brasileiras um ambiente favorável para a proliferação. Ele afirma que essa doença foi trazida pelos primeiros europeus que chegaram no Brasil e depois se espalhou na população indígena. A partir de um estado de promiscuidade sexual a sociedade aceitava como algo positivo, a exibir com orgulho as chagas da doença, prova de que ele era macho.

A intoxicação sexual Novo Mundo, inicialmente instalada no contato sexual do português com o ameríndio abriu o caminho para a integração de um terceiro elemento, nesse caso o africano surgindo à mistura entre as três raças distintas que iriam definir a natureza da realidade sociocultural brasileira. Entretanto, à miscigenação que uniu estas três raças e à excessiva liberdade sexual soma-se a sífilis como uma desvantagem e um problema que surgiu ao processo de colonização.

Como vimos anteriormente com a passagem de Martius, a sífilis teve sua origem pelos europeus, mas isso causou uma dificuldade de separar a ideia de que ela ter surgido na mistura de raças que ocorreu com povoação da colonial. Segundo Gilberto Freire o maior número de incidente da doença entre os séculos XVII e XVIII foi no Nordeste do Brasil, na Casa-grande e senzala onde reinou a sífilis. Vejamos:

sífilis fez sempre o que quis no Brasil patriarcal. Matou, ou, deformou à vontade. Fez abortar mulheres. Levou anjinhos a o céu. Uma serpente criada dentro de casa sem ninguém er caso de seu veneno. O sangue envenenado rebentava em idas. Coçavam-se então as perebas ou "cabidelas", toma m-se garrafadas, chupava-se caju. A sifilização do Brasil admitida sua origem extra-americana - vimos, às primeiras páginas deste trabalho, que data dos princípios do século XVI. Mas no ambiente voluptuoso das casas-grandes, cheias de crias, negrinhas, mulecas, mucamas, é que as doenças venéreas se propagaram mais à vontade, através da prostituição doméstica – sempre menos higiênica que a dos bordéis (FREYRE, 2000,p.374).

Ligada à sexualidade desfreada que marca nosso passado. A sífilis marca o corpo da população brasileira, na mesma proporção que a miscigenação marca a alma. Gilberto Freire vai acabar com a ideia instalada de que a má fisionomia da população mestiça esta relacionada à mistura de raça, mas sim a grande proporção que existia de pessoas doente e a deficiente alimentação que existia, devido à produção da monocultura no período colonial.

Além disso, Gilberto Freire afirma que os português se tornaram vitima dos trópicos sedutores e de nativos ou de negros inferiores culturalmente evolvidos com pecado da luxuria.

Foram sexualidades exaltadas a dos dois povos que primeiro se encontraram nesta parte da América; o português e a mulher

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