Resumo de Artigo VALENTE, Cinthia. Judeu, Outsider no reino visigodo de Toledo
Por: kamys17 • 21/7/2018 • 1.216 Palavras (5 Páginas) • 422 Visualizações
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um clérigo e um educador: objetivava formar monges e padres mais bem preparados, influenciar nobres e reis e elevar o saber cristão, dentro de um projeto pastoral amplo e profundo"(FELDMAN, 2004, p. 125)
Feldman trabalha com a exegese na obra isidoriana enquanto um recurso para diálogo e discussão com culturas tradicionais, visando estabelecer a cultura cristã como verdade.
Valente destaca a obra de Isidoro contra os judeus, chamada Fide catholica ex veteri et novo testamento contra iadaeos. Segundo a autora: "[...]a De Fide tem como ponto central a incompatibilidade da fé judaica com o modelo previsto para o reino visigodo de Toledo, onde o caráter divino do monarca, escolhido por Deus, começava a ser trabalhado. [...] negando a divindade, nega-se também o caráter sagrado do monarca, assim como a autoridade da Igreja." p.123
A autora aponta para tendência na utilização do Velho Testamento para a legitimação da veracidade do Novo. Isidoro, e outros autores, buscariam através da análise exegética do Velho testamento identificar que a vinda de Jesus já estava prevista.
A autora aponta para a inserção de Isidoro no cenário político-religioso da época: " ele acompanhou de perto o esforço da Igreja católica e do reino em converter os arianos ao culto niceno; passada essa etapa, o judeu emerge, no século VII, como o principal antagonista do reino católico de Toledo." p. 123
O judeu não se adequaria ao projeto de unificação do reino hispano visigótico pois não se encaixava na identidade construída em torno da Historia Gothorum(reconhecia seus ancestrais como distintos da construção da obra de Isidoro) e negava o princípio cristão que identifica Jesus como Messias.
"[...]boatos de uma revolta de judeus que não aceitavam abandonar a fé de nascimento era algo a se temer em um reino que já sofria do “mal godo”, ou seja, as diversas tentativas, frutíferas ou não, de usurpação do poder monárquico. Qualquer tipo de revolta ou divergência precisava ser contida e dissolvida." p. 124
Importância da afirmação da virgindade de Maria expressa no virginatate perpetua sanctae Mariae, de Ildefonso de Toledo, o qual constituiria uma resposta às crenças, segundo sua concepção, desequilibrariam a ortodoxia niceísta. O Judeu seria posto como alvos mais explícitos do texto mariológicos, sendo caracterizados claramente como inimigos.
“A reafirmação do dogma mariano da virgindade perpétua era, para essa Igreja recém-oficializada, um aspecto fundamental de sua política centralizadora. Não era admissível para os católicos niceístas e os monarcas visigodos que houvesse espaço para uma manifestação de fé que não fosse a ortodoxia.” p.124
A autora destaca o papel dos eclesiásticos na construção da noção de um “perigo judeu”, afirmando que estes bispos se situariam como transmissores da ideologia do reino de Toledo.
“Juliano de Toledo refletiu em seus escritos a recorrente suposição de que o Reino de Toledo estaria sendo ameaçado por sua comunidade judaica, que seria responsável pela desestabilização do reino e, por conseguinte, por sua ruína” p.125
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A concepção de reino desenvolvida pela monarquia visigótica não comportava diversidade, o que resultou no rechaço crescente de quaisquer dissenções. O processo de unificação iniciado por Leovigildo e continuado pro seu filho, Recaredo, suscita uma aproximação com a Igreja(Leovigildo se volta para o arianismo e Recaredo para o niceanismo), tendo Recaredo adotado a fé nicena por compreender que tal aproximação mais beneficiaria um projeto de unificação, posto que a elite episcopal hispano-romana a praticava.
Com a gradual fagocitação de hereges e pagãos, o judeu termina por se destacar cada vez mais como elemento dissidente, o que suscita o agravamento de medidas de supressão de comunidades judaicas, e sobretudo de proselitismo judaico.
A autora ressalta o papel do episcopado na formulação do esteriótipo de judeu como inimigo.
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