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RESENHA: A HISTORICIDADE DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO BRASIL

Por:   •  15/10/2018  •  1.584 Palavras (7 Páginas)  •  417 Visualizações

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Os pobres carregam vícios, os vícios produzem os malfeitores, os malfeitores são perigosos á sociedade; juntando os extremos da cadeia, temos a noção de que os pobres são por definição, perigosos. Por conseguinte, conclui decididamente a comissão, “as classes pobres [...] são [as] que se designam mais propriamente sob o título de –classes perigosas-’’. (CHALHOUB, p.22, 1996)

É relevante situar que tais conceitos foram instituídos no século XIX, século este, da cientificidade pautada nas teorias positivistas e deterministas que autenticaram e fortaleceram os sentimentos racistas e preconceituosos vistos em uma sociedade totalmente miscigenada como a sociedade brasileira. Lilia Moritz Schawrcz em seu texto “Nem preto nem branco, Muito pelo contrario raça e cor na intimidade” reforça a concepção histórica das desigualdades formuladas neste recorte histórico. “Foi só no século XIX que os teóricos do darwinismo racial fizeram, dos atributos externos e fenotípicos, elementos essenciais definidores de moralidades e do devir dos povos”. (SCHAWRCZ, p. 182.2013)

Sidney Chalhoub apresenta em sua narrativa historiográfica como a preocupação das autoridades governamentais na resolução dos problemas no âmbito social de uma classe cívica eram pouco abordadas. As preocupações sociais se enquadravam apenas no âmbito econômico ao qual ressaltava a questão da ociosidade ligada a falta de um vínculo empregatício e a não acumulação de bens, como sendo um problema para o progresso da capital, esta visão liberalista, e de certo ponto meritocrática dos parlamentares da época fez com que aqueles que não se enquadrasse nestes quesitos fossem excluídos e discriminados.

A principal virtude de um bom cidadão é o gosto pelo trabalho, e este leva necessariamente ao hábito da poupança, que por sua vez, se reverte ao conforto do cidadão. Desta forma, o indivíduo que não consegue acumular, que vive na pobreza, torna-se imediatamente suspeito de não ser um bom trabalhador. Finalmente, e como o maior vício possível em um ser humano é o não trabalho, a ociosidade, segue-se que aos pobres falta avirtude social mais essencial; em cidadãos nos quais não abunda a virtude, grassam os vícios, e logo, dada a expressão “classes pobres e viciosas”, vemos que as palavras “pobres” e “viciosas” significam a mesma coisa para os parlamentares. (CHALHOUB, p. 22, 1996)

Conhecendo conceitos gerais da história é intrigante notar seu funcionamento como uma engrenagem e como esta dependendo de seu uso desencadeia processos que refletem por tempos. Chalhob nos mostra isso em Cidade febril ao relatar a demolição dos cortiços no século XIX. Conhecendo um pouco sobre a história geral do Brasil, sabe-se que a construção dos cortiços se deram após o fim da escravidão, os novos cidadãos viram neste tipo de habitação uma forma de apoio coletivo e um meio barato para se iniciar a vida como libertos. Porém, estas construções se tornaram foco das autoridades governamentais que impuseram sua derrubada, o que fez com que centenas de pessoas desabrigadas e sem auxílio do Estado se instalassem nos morros, constituindo assim, as primeiras favelas. Mas intrigante do que notar estruturas físicas formadas a partir de decisões históricas, é refletir sobre a constituição de modos de agir e pensar a partir da formulação de teorias positivas ou negativas. Neste caso vemos como as teorias higienistas e deterministas da época contribuíram para a construção de ideologias preconceituosas que perpassam o tempo.

Cidade Febril se mostra uma importante fonte para os estudantes e amantes da historia, vez que, traz uma riquíssima pesquisa sobre a construção do Rio de Janeiro sobre o olhar de um historiador especializado na área. A obra traz ao leitor muito mais do que apenas a história vista de cima, traz diversas visões a cerca de âmbitos diferentes da sociedade carioca da época. A ligação destas diversas perspectivas sobre um mesmo tema constitui aquilo que o autor narra em sua pesquisa como sendo um entrelaçamento de histórias, nos levando a adquirir conhecimentos variados sobre a temática do período apresentado. Este livro sem dúvida é de extrema relevância para os estudos históricos sobre o Brasil do século XIX, sendo útil para diversas áreas de pesquisa. Constituindo uma importante fonte para estudos no âmbito de saúde pública brasileira e suas politicas, podendo ser utilizada por estudantes de áreas médicas; no âmbito de mudanças urbanas podendo ser usada por estudantes de arquitetura; e no âmbito social, sendo usado por estudantes da áreas sociais. Esta diversidade de possibilidades de pesquisa a partir de uma única obra mostra o motivo pelo qual Sidney Chalhoub é considerado um dos mais importantes historiadores do país.

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