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Resenhas de História do Brasil

Por:   •  17/10/2018  •  7.001 Palavras (29 Páginas)  •  325 Visualizações

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Nem sempre a condição social dos indivíduos determinava a divisão dos cômodos da casa. As pessoas tinham a sala como quarto, ao mesmo tempo composta por cadeiras e bancos para sentar e redes para dormir. O mobiliário era escasso nos primeiros séculos na colônia que chegava-se ao ponto de dividir entre os herdeiros cadeiras com estofados rasgados e bancos quebrados. Mas a partir do século XIX, com a chegada de mobiliário nos portos, os antigos começaram a ser substituídos.

Se as casas dos colonos eram parcamente mobiliadas, as senzalas eram menos ainda. Um relato diz que havia uma esteira, uma cumbuca e uns potes de barro no “lar” de um casal negro. O autor retoma a importância de se observar o emprego da palavra lar, pois apesar da pobreza e da promiscuidade é no interior do lar que se dá a intimidade.

A falta de conforto na vida dos colonos podia estar ligada a visão de vida de caráter passageiro. Voltar para o Reino era o que desejavam muitos dos que aqui estavam. A essa questão, alia-se o trabalho árduo pela sobrevivência, o que não deixava tempo para preocupação com requintes. Mas, antes de tudo, é preciso pensar que havia ainda o reduzido interesse em uma vida íntima numa sociedade marcada por formas muitos restritas de sociabilidade. Isolamento podia tanto incentivar a intimidade como bloqueá-la.

Formas de sociabilidade no ambiente doméstico.

A sociabilidade se encontrava inicialmente fora dos espaços domésticos, fosse na rua ou igreja, a interação social era em festas religiosas com missas e procissões. Os contatos dentro de casa ocorriam, para aqueles das zonas mais interioranas, quando recebiam um forasteiro em casa. Era o único contato com o mundo externo de que dispunham.

Tanto para ricos, como para pobres, as atividades cotidianas eram marcadas pela luz solar. Levantava-se quando o sol nascia, descansava-se quando estava a pino e dormia-se quando ele se punha. As velas eram apagadas cedo para economia e o escuro impedia uma maior convivência entre os indivíduos.

Jogos de cartas e tabuleiros eram comuns entre amigos e a leitura era também uma forma de diversão solitária e intima. Faziam também, embora no campo de forma mais dificultosa, visitas a amigos, e ocasionalmente, em cidades com o Porto Alegre, as visitas tornavam-se em alegres reuniões com comes e bebes. As festas religiosas tornavam também o ambiente mais dinâmico e muitas vezes continuavam dentro de casa, principalmente entre os membros da elite.

SBH escreveu sobre a influência dos índios nas técnicas adotadas pelos primeiros habitantes de São Paulo, pois era precário a abastecimento que chegavam da Europa com equipamentos domésticos, remédios, comida, tecidos. Foi imperativo aprender com os gentios da terra a se proteger do clima, dos animais, preparar alimentos, explorar matas e fabricar utensílios.

As mulheres (como sempre) indígenas assumiram o papel da organização doméstica. Brancas e negras se justaram à elas e se responsabilizaram pelo asseio e limpeza da casa, bem como a preparação dos alimentos. “O trabalho manual, sempre foi recomendado às mulheres pelos moralistas e por todos aqueles que se preocuparam com a educação feminina na época moderna, como forma de se evitar a ociosidade e consequentemente os maus pensamentos e ações”.

Dos utensílios, a ausência do uso choca até os contemporâneos. Garfos, se já eram raros em toda a Europa, na colônia não existiam. Em todas as classes sociais se comia com as mãos. As pessoas não se sentavam à mesa e tampouco o alimento era um banquete, que do contrário, era quase sempre a base de farinha de mandioca (preparado de diferentes formas misturada à agua ou feijão e às carnes quando tinha.

Costumava a família se reunir pelo menos na principal refeição e era hábito não se fazer nem se receber visitar por essa hora do dia, o que indica um certo gosto pela intimidade. Ligada as refeições tinha a higiene, quando as pessoas lavavam as mãos antes e depois de comer e antes de dormir lavavam os pés com medo de infecções como o célebre “bicho-de-pé”, provenientes do fato de andarem descalços.

Dos costumes domésticos, ressalta-se que o tratamento aos doentes era dispensado pela ausência de medicamentos e a falta de médicos. A cura para muitas doenças era encontrada em livros com receitas caseiras. Canja de galinha era empregada apenas em enfermidades porque a carne era cara. O vinho era também indicado para o tratamento de feridas.

Não se pode deixar de falar dos criados, que não marcaram a história apenas pelo trabalho doméstico, mas pelas grandes punições que recebiam e pela vida que levavam. Ainda existiam senhores que reconheciam os fortes laços estabelecidos com os escravos, que os alforriavam no testamento, recomendavam aos herdeiros o bom trato de um filho que tiveram com uma escrava ou até proibiam a separação de uma família cativa.

As relações estabelecidas no meio doméstico são hoje difíceis de se precisar dada a ausência de documentos. Sem agendas ou diários íntimos no Brasil, havia a escritura doméstica (Livros de razão), uma espécie de memorial que recebia os lançamentos referentes às transações diárias de compra e venda, registro de eventos, de dívidas e outros.

Através de estudos recentes, tem-se melhor noção dos adultérios e concubinatos que geraram um grande número de filhos ilegítimos. As brancas eram escolhidas para casar e as de outras cores eram apenas para a satisfação. Quando essas brancas não encontravam um par, eram mandadas pelos pais aos conventos, dentro dos quais, pelo fato de estarem enclausuradas contra a vontade, apenas reproduziam os costumes e práticas de sociabilidade feminina próprias do mundo exterior.

Dois elementos marcaram profundamente as atividades dos colonos: a escravidão e a falta de produtos, que estimulou a produção doméstica. A indústria caseira ocupava todos os habitantes da casa tanto na organização como na execução de tarefas. Não era apenas nos afazeres da cozinha que as atividades se reduziam, mas também ao “coser” de roupas. O algodão era a fibra mais empregada. Embora voltada para as necessidades domésticas, algumas regiões se especializaram na tecelagem.

A falta de moedas proporcionou uma economia de trocas. As ocupações domésticas eram entendidas como não trabalhos e é bastante forte a imagem da preguiça generalizada do brasileiro no imaginário e na iconografia colonial.

Falar de uma vida privada na colônia entre os séculos XVI e XVIII poderia levar a certos equívocos. Os documentos sugerem que há pouca preocupação

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