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Palmares e Sua Consciência de Classe

Por:   •  14/3/2018  •  2.901 Palavras (12 Páginas)  •  233 Visualizações

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Aproveitando do recuo das forças portuguesas para Olinda, os escravos produziram a primeira e fracassada reação contra seus opressores. Em uma tentativa de atear fogo à cidade, os escravos ganham as ruas e atacam os brancos retardatários portugueses. Porém, as tropas Holandesas chegam, apagam o incêndio e acabam com a revolta negra. (Freitas, D.,1973)

Na obra “Reino Negro de Palmares” de 1988, Mario Martins de Freitas descreve que com a chegada dos holandeses no brasil, foi intensificado o comércio de escravos pelos batavos, que através de navios vindo de Angola e de Piratas que traziam negros para serem vendidos na colônia, possuíam uma grande quantidade de escravos em seus domínios. Os holandeses usavam estes negros em seu exército contra os portugueses.

Os negros aproveitaram-se da oportunidade e trataram de buscar o seu caminho, pois notaram que essa não era a sua guerra, diferente dos índios, que passaram a lutar ao lado dos holandeses pois procuravam ajustar contas antigas com os portugueses. Porém a rebelião escrava não foi um movimento repentino organizada e de grande escala. As fugas ocorriam isoladas, sem planos, sem chefes. Apenas se aproveitavam da fraca vigilância de seus senhores, ocupados com a guerra, para fugir em direção as serras do sul, onde estavam se formando os quilombos. As vezes nem chegavam ao seu destino, capturados, exaustão ou padeciam de fome. (Freitas, D.,1973)

A partir deste contexto, a população negra nos Quilombos começou a crescer cada vez mais, e as guerrilhas negras estavam por toda parte. Assim que chegavam em Palmares, os escravos se armavam e partiam em expedições vingadoras e de saques. Os negros interceptavam os comboios tanto de Portugueses quanto de Holandeses que transportava suprimentos e armas para suas tropas. (Freitas, D.,1973)

Palmares ficava cada vez mais forte, com a chegada de novos fugitivos e com o aumento das rebeliões por toda região de Pernambuco. Enquanto Holanda e Portugal lutavam arduamente pela colônia, os negros respiravam livremente em seus quilombos, gozando de absoluta paz, e se preparando para acontecimentos futuros, que seriam de bravura, de heroísmo, de desespero, de anseio por liberdade e morte. (FREITAS, M. M., 1988)

Após duas expedições fracassadas enviadas em 1644 e 1645, enviadas por Nassau[5], para tentar exterminar os negros de Palmares, a colônia holandesa no Brasil entra em declínio, e em 1654 são derrotados pelos portugueses e deixam a colônia, neste fato, vários escravos que estavam em mãos dos holandeses, em torno de dois mil escravos, fogem para Palmares, reforçando ainda mais o quilombo. (FREITAS, D., 1973)

Com a vitória ao inimigo externo, os portugueses se viram para seu inimigo interno, agora bem mais consistente e organizado, como descreve o Décio Freitas:

(...) O que fora no começo do século um simples refúgio de escravos era agora um conjunto de populosas e florescentes comunidades espalhadas por um território de selva virgem que ocupava de norte a sul um vão de aproximadamente trezentos e cinquenta quilômetros. Quase todas as comunidades ficavam em lugares montanhosos e iminentes as principais vilas e povoações da capitania – Porto Calvo, Alagoas, São Miguel, Una, Ipojuca e Serenhaém. (FREITAS, D., 1973, pg. 69)

Com um governo centralizado influenciado pela cultura africana, estrutura administrativa, judicial e militar complexa, as comunidades palmarinas conseguiram uma autonomia e um desenvolvimento a ponto de ser chamada de Republica dos Palmares. E foram necessárias em torno de 20 expedições entre holandeses e portugueses para dominar esta república. Kátia de Queiros Mattoso, em seu livro, “Ser Escravo no Brasil” de 1982, registra que, quando de sua destruição em 1965, a população do quilombo dos Palmares chegou a ser de trinta mil negros.

Vimos então, os fatos durante a invasão holandesa que facilitaram a formação do quilombo dos palmares. Mas o que veremos a seguir, é o que levou estes negros a tal revolta? As atitudes tomadas pela classe dominante dos colonos que levaram ao limite do sofrimento a classe dos escravos a ponto de tais atitudes, os castigos, a imposição de uma nova cultura. Todos esses fatores devem ser analisados.

A CONCIÊNCIA DE CLASSE ESCRAVA

Logo no início de sua obra, Décio Freitas alega que enquanto houve escravidão no Brasil, sempre houve fugas e rebeliões negras, mesmo antes da mais intensa que foi a de Palmares. Porém, antes, estas fugas eram menos frequentes e as rebeliões com menos intensidade, e eram facilmente controladas pelos colonizadores. (FREITAS, D., 1973)

Para evitar tais atitudes, os senhores evitavam que os escravos tivessem alguma relação em grupo, o ideal para o colono português era que seus escravos não criassem um sentimento de comunidade, que não se importasse com o outro. Kátia de Queirós descreve em se livro o que pensavam a classe opressora dos senhores com relação as associações feitas pelos escravos:

(...) São essencialmente as associações religiosas ou confrarias. Contudo, se brita de que todo o sistema escravista corre perigo pela constituição desses refúgios – ou violentos ou misteriosos – as autoridades administrativas e os senhores de escravos os combatem. Na realidade, qualquer associação autorizada ou proibida não representa um refúgio, um protesto, uma reação de defesa contra a carga da escravidão? Para o escravo, unir-se é contestar. (MATTOSO, 1982, pg.144).

Neste quadro até os cultos religiosos são perseguidos pela polícia e severamente castigados, é o que mostra os seguintes tópicos da imprensa baiana da época:

(...) Foram presos e estão à disposição da polícia, Christovam Francisco Tavares, africano emancipado, Maria Salomé, Joana Francisco, Leopoldina Maria da Conceição, Escolástica Maria da Conceição, crioulas forras, e os escravos, Rodolfo Araújo Sá Barreto, mulato, Melânio, crioulo, e Maria também com um filho, que estavam no local chamado Engenho Velho em uma reunião a quem chamam “candomblé” (Jornal da Bahia, 5.5. 1855 APUD MATTOSO, 1982, pg.150).

Analisamos mais um trecho do Jornal da Bahia citando rituais religiosos realizados pelos escravos sem autorização:

(...) Na noite de 12 para 13 do corrente, uma casa conhecida na paróquia da Vitória como “candomblé”, onde costumavam reunir-se muitas pessoas com finalidades diversas, foi cercada. A maioria dos que ali estavam era formados por crédulos que desejavam saber sua sorte pelo que faziam oferendas, as 32 pessoas detidas no local, foram transferidas, na manhã de anteontem,

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