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PLATÃO: A ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA, INSTRUMENTO DA SALVAÇÃO DAS ALMAS

Por:   •  14/5/2018  •  9.670 Palavras (39 Páginas)  •  487 Visualizações

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A igualdade dos sexos está bastante desenvolvida, parece, entre os cidadãos de Esparta. Encontram-se lá igualmente práticas comunitárias características, principalmente as refeições em comum.

Alias, estas instituições estão em vias de degenerescência e nos séculos III e II serão conduzidas lutas sociais duríssimas por aqueles que quererão restabelecer a antiga igualdade espartana.

Para ter um quadro quase completo dos fatos que puderam exercer influência sobre os filósofos gregos é necessário assinalar, finalmente a existência no mundo grego, mesmo na época do seu esplendor, de revoltas violentas das camadas sociais mais desfavorecidas.

Em Mégara, em 640, os camponeses pobres, sob a direção de Teagenes, tomam conta do Poder e dos bens dos proprietários ricos.

Cerca de 421, a população de Samoa insurge-se contra os geomores. Pela mesma época estala também uma revolta em Quios. Os escravos desempenham nela um papel importante e durante longos anos dominam os campos, sob a direção de Drimakos.

Produziram-se também outros movimentos, oriundos das camadas mais baixas da sociedade. O seu caráter comum é que se traduzem quase unicamente em pilhagens, sem que as revoltas se mostrem capazes de construir uma organização social duradoura.

O século V a.C. é o grande século de Atenas e da Grécia, aquele que vê despontar tantas obras-primas imortais. Mas é também aquele em que foram abalados os fundamentos tradicionais da vida social.

A civilização grega, desempenhou um papel decisivo na tomada de consciência pelo homem da sua dignidade própria.

Nos estados mais antigos, os homens são fundamentalmente os servidores do chefe do Estado, e a dignidade que se reconhecem não passa de uma participação no prestigio do chefe.

O cidadãos dos estados gregos, pelo contrário tem consciência de possuir uma dignidade como membro de um grupo organizado, governado segundo certas leis válidas para todos “os homens livres” (com exclusão dos escravos). Já não é servidor de um homem, mas está submetido a uma lei.

Entretanto, o homem grego atribui às leis um valor absoluto sagrado. Considera-as não como criações do homem, mas como manifestações de uma vontade divina ou como mandamentos da natureza.

Enquanto a vida econômica e social se manteve nas suas formas tradicionais, o cidadão pode sentir-se livre, mantendo a sua crença ao valor absoluto das leis. Parecia-lhe que as leis ordenavam o que o próprio homem livre deveria querer: o bem da cidade indissoluvelmente ligado aos bens dos cidadãos. É este fato que Hegel exprime quando escreve:

Podemos dizer que os Gregos não tinham consciência da forma primeira e verdadeira da sua liberdade; entre eles reinava o hábito de viver para a pátria, sem outra reflexão. A abstração de um estado, que é essencial para o nosso entendimento, não a conheciam, mas o seu fim era a pátria viva: essa Atenas, essa Esparta, esses templos, esses altares, essa maneira de viver conjuntamente, esse meio de concidadãos, esses costumes e esses hábitos. Para o Grego, a pátria era uma necessidade fora da qual não podia viver.

Entretanto, o uso do dinheiro introduziu-se nesse mundo pêlos meados do século VII, Novas fortunas foram criadas pelo comércio, e as bases da vida social foram revolvidas. A partir de então, o indivíduo interroga-se sobre o valor da lei.

Os grandes autores trágicos do século V vão escolher para temas a vida dos antigos heróis, que tinham de fazer face a terríveis situações em que as leis lhes davam ordens contraditórias. Em Esquilo, por exemplo, é Orestes que tem de matar a mãe para vingar o pai. Em Sófocles, é Antígona que deve desobedecer ao rei para cumprir, relativamente ao irmão, o dever que lhe impõe a piedade filial. Estas contradições são insuperáveis, por isso mesmo que as ordens opostas são, umas e outras, dadas pêlos deuses. É o que faz a profundidade destas tragédias. A última peça da trilogia (Agamémnon, Os Coéforos, As Euménides), consagrada põe Esquilo à história de Orestes, mostra o conflito entre Apolo, que deu a ordem ao herói para vingar o pai, e as Euménides, divindades que tem por missão perseguir aquele que derramou o sangue da sua própria família. Finalmente, Atena, deusa protetora de Atenas, constitui uma tribuna que julga Orestes. Não se poderia exprimir melhor o drama insolúvel do indivíduo que tem de agir livremente num mundo onde doravante as leis já não indicam de forma indiscutível onde se encontra o bem.

O problema que se coloca ao homem grego é levado aqui da maneira mais nobre. Na comédia clássica, encontramo-lo levantado em formas satíricas, que mostram melhor as circunstâncias que o engendram.

O Plutos de Aristófanes, por exemplo, põe em cena o deus da riqueza, que, tornado cego por Zeus, distribui as suas liberalidades aos homens maus, em vez de aos honestos. Estes levam-no a um templo cujo Deus lhe restitui a vista. Mas daí resultarão grandes perturbações: um sicofanta (homem enriquecido às expensas do povo) vem gritar que está arruinado; uma velha perdeu o amante que tinha por conta; Hermes, deus do comércio, já não recebe ofertas dos fiéis e tem de ganhar a sua vida como ajudante de cozinha; os sacerdotes perderam o seu ganha-pão, porque já se não oferecem sacrifícios aos deuses... Esta peça, representada no início do século IV em Atenas, mostra como doravante se manifesta uma oposição entre o bem e a riqueza. O rico tradicional era o proprietário fundiário, chefe natural de um grupo de agricultores que possuíam também direitos sobre a terra. A sua riqueza permitia-lhe desempenhar melhor a sua função social. O novo rico acumula dinheiro para satisfazer os seus caprichos pessoais e para se libertar das coações sociais. O dinheiro e a lei, a riqueza e a justiça, são doravantes poderes opostos.

Entretanto, os povos da Grécia não souberam apenas exprimir em obras literárias magnificas os problemas do homem. Foram também os inventores da filosofia.

A forma geral ou popular do pensamento humano é o pensamento religioso. Na religião, o homem define a sua concepção do mundo aderindo a uma certa representação do absoluto.

A religião grega testemunha um pensamento mais evoluído do que as religiões orientais: não identifica já unicamente o absoluto, o divino, com seres naturais - plantas, animais, astros -, mas com seres que são representados como homens dotados de faculdades excepcionais, ou deuses. É um passo em frente na direção do reconhecimento do absoluto como espírito,

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