Memorias de mulheres do pos guerra
Por: Rodrigo.Claudino • 22/11/2017 • 11.464 Palavras (46 Páginas) • 491 Visualizações
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A escolha das entrevistadas se deu, primeiramente, em relação à idade delas, sendo a mais nova com 76 anos, e a mais velha com 92 anos, preservando a necessidade de terem presenciado o período pesquisado bem como a capacidade de rememoração daquele período, estando inserida na sociedade paulista e, assim, terem percebido possíveis transformações na sociedade daquela época. Além dessas necessidades, a disposição em fornecerem informações sobre seus cotidianos de modo transparente e nostálgico, sendo que para isso, foram assinados todos os termos de autorização do uso das informações, estando elas todas disponíveis e não havendo nenhuma relutância ou recusa por parte de nenhuma entrevistada. Socialmente, elas compunham um grupo que representa desde a aristocracia, “classe media” e mulheres da classe trabalhadora e rural do período pesquisado. Como as entrevistas são longas, elas foram gravadas em sua maioria, por mais de 50 minutos de gravação. Sendo assim, utilizarei trechos que correspondem ao tema escolhido para representar suas memórias.
A partir de 1945, as técnicas para produção de penteados ou o cabelo do dia a dia buscou facilitar a vida da mulher, onde um cabelo mais natural ou mais ondulado era visível na maioria das mulheres. Mas foi nos anos 50 que o desenvolvimento maior dos cosméticos ajudou o profissional do cabelo a garantir um novo visual, como os reflexos e penteados mais modernos, demonstrando ser um período de extrema mudança no comportamento estético feminino.
Muitas mudanças vividas nesse período podem ser percebidas na sociedade mundial, onde a tecnologia teve uma importante participação. Um novo mercado é criado com a participação da mulher na construção econômica do mundo, o que influenciou uma nova produção de produtos destinados a esse novo mercado feminino. Contudo, no Brasil, essas modificações variam de acordo com o acesso aos meios de propaganda e a classe econômica pertencente.
A pesquisa terá como problemáticas as reflexões que as memórias estudadas ofereceram a fim de compreender se as mulheres pesquisadas sentiram uma mudança social no período, mesmo com necessidades diferentes. As leituras feitas apontam que as mulheres sofreram com os infortúnios advindos da segunda guerra eram mulheres com necessidades criadas a partir do trabalho, e, portanto, uma classe trabalhadora, porém, como as entrevistadas estavam inseridas em uma realidade e necessidade diferentes da maioria da sociedade brasileira, como elas perceberam e se adequaram a esse novo mercado? De modo gradual, seria possível perceber as diferenças entre as mulheres de classes sociais distintas e, deste modo, identificar a localização social que uma mulher pertencia através de sua estética? E quais eram essas diferenças? Quais as mudanças sociais essas mulheres conseguiram perceber na sociedade Paulistana e se elas acreditam que as futuras gerações foram influenciadas pelos pensamentos femininos construídos neste período? E, por fim, quais as necessidades que essas mulheres sentiram em relação aos infortúnios da Guerra e se essas necessidades foram gerais ou diferentes nos níveis sociais?
Vendo que a pesquisa se fundamenta nas memórias de senhoras que vivenciaram o cotidiano do período pesquisado, muitas dessas memórias reafirmam um padrão comportamental, como também conseguem divergir de algumas concepções sociais acreditadas nas décadas seguintes, como por exemplo, diálogos tratados sobre a concepção feminina do casamento, mostrando que esse período era desenvolvido por mulheres inseridas numa sociedade e aceita de forma natural por elas, o que leva a uma interessante discussão sobre o comportamento feminino e suas concepções de identidade e gênero.
Para compreender as questões que a pesquisa irá compor, utilizarei dos conceitos de Performatização, Classe social, Cotidiano, Identidade, Memória e Estética, além de toda uma metodologia envolvendo historia oral como fonte.
Primeiramente, para compreender o estudo de performatização do gênero de Judith Butler, as autoras, Hellen Maria Duarte Oliveira, Sandra Maria Pereira do Sacramento, e Élida Paulina Ferreira no texto “Desconstrução da representação do feminino e masculino em Diadorim da " Revista Língua & Literatura (2015)” fazem um estudo sobre o conceito de performatização da autora, que aponta a inexistência do sujeito mulher que o feminismo busca representar, discutindo e expondo a instabilidade da identidade do feminino, da essência do feminino, por assim dizer. Deste modo, a autora, Butler, propõe a desconstrução do gênero a partir do seu questionamento em relação ao binarismo sexo/gênero, no qual o movimento feminista esteve muitas vezes fundamentado. Butler rompe com a lógica binária dos pares opositivos e escreve:
[...] se o sexo e o gênero são radicalmente distintos, não decorre daí que ser de um dado sexo seja tornar-se de um dado gênero; em outras palavras, a categoria de ‘mulher’ não é necessariamente a construção cultural do corpo feminino, e ‘homem’ não precisa necessariamente interpretar os corpos masculinos. Essa formulação radical da distinção sexo/gênero sugere que os corpos sexuados podem dar ensejo a uma variedade de gêneros diferentes, e que, além disso, o gênero em si não está necessariamente restrito aos dois usuais. Se o sexo não limita o gênero, então talvez haja gêneros, maneiras de interpretar culturalmente o corpo sexuado, que não são de forma alguma limitados pela aparente dualidade do sexo (BUTLER, 2008, p. 163).
Para Helen, Sandra e Élida, a autora expõe a construção performativa do gênero e afirma que a performatividade corresponde a um discurso reproduzido, explorando sexos e gêneros construídos, normatizados. Em outras palavras, o ato performativo obriga o sujeito a se comportar a partir de discursos presentes e anteriores para que este se constitua como sujeito enquanto tal.
Porém a identidade binária pode ser observada na relação que as entrevistadas concebiam sua identificação social em relação ao indivíduo. Para elas, conforme as entrevistas, elas se identificam conforme os ditames de uma sociedade patriarcal de modo natural e inquestionável, sendo criada e educada para essa identidade assumindo seu papel de mulher como dona de casa, mãe e esposa. Essa concepção feminina, adotada pelas entrevistadas, divergem das concepções feministas de Judith Butler ao construir um gênero pelo desempenho adotado e não pelo conceito biológico de masculino e feminino. Nas entrevistas realizadas, é possível perceber que essas mulheres aceitavam suas condições e adotavam o conceito binário em relação ao gênero, estando localizadas num período
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