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HISTÓRIA DA ELABORAÇÃO DO CONSTRUCTO DE RAÇAS: AS BASES CIENTÍFICAS DA INFERIORIDADE DOS NEGROS

Por:   •  30/1/2018  •  2.904 Palavras (12 Páginas)  •  359 Visualizações

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As razões para cor da pele estariam exclusivamente no sêmen e sangue, as raças não seria uma criação do clima; pois um negro casando-se com uma mulher branca poderia ter filhos de pele mais clara, um casal de negros migrando para regiões mais frias continuariam a ter filhos de pele escura, ou seja, para Bernier o clima não exerceria influência sobre a formação das “raças humanas” (JACQUARD, 1986).

Em meados do século XVIII o naturalista e anatomista francês Georges Cuvier, baseado nas diferenças geográficas e na variação da cor da pele propôs três tipos de raças: caucasiana, etiópica e mongólica (PENA, 2008).

Em 1806, alemão Johann Friedrich Blumenbach estabelece cinco raças: caucásica, mongólica, etiópica, americana e malaia.

Porém, foi a partir da publicação do livro Sistema da Natureza (1767) do naturalista sueco Carl von Linnaeus (ou simplesmente Linneu) que a ideia de raça ganha conotações científicas. Para o naturalista as causas das diferenças entre as raças seriam o clima, temperatura e condições geográficas. O sueco, de acordo com Pena (2008), propôs a seguinte classificação:

Homo sapiens europaeus: branco, sério e forte;

Homo sapiens asiaticus: amarelo, melancólico e avarento;

Homo sapiens afer: negro, impassível, preguiçoso;

Homo sapiens americanus: vermelho, mal-humorado e violento.

Em 1766, Buffon publica no volume XIV da Histoire Naturelle, um artigo intitulado Dégénération des animaux. Nele, estabelece uma série de elucubrações acerca da origem da fauna americana. Ele apresenta, talvez, pela primeira vez na História, a teoria de que o continente sul americano estivesse, no passado, unido ao continente africano, formando um único supercontinente. Mas, foi a partir de suas reflexões sobre a degeneração dos animais que abriu espaço para tratar das variações humanas. Segundo a teoria da degeneração de Buffon, após a criação, de acordo com o livro Gênese, a espécie humana havia se dispersado pela Terra e o clima tropical teria causado uma espécie de patologia no branco, tornando sua pele negra. Os índios americanos também seriam frutos dessa mesma patologia. Assim a mistura entre as raças causaria uma espécie de degeneração, que por sua vez poderia ser revertida. Segundo Buffon existiria a possibilidade de se inverter o processo de modificação dos caracteres somáticos se, por exemplo, experimentalmente negros fossem levados para viver em climas temperados e frios como na Dinamarca. Entre seus contemporâneos, a teoria da degeneração encontrou um campo fértil para se propagar, uma vez que os filósofos passaram a divulgá-la, entre eles o diplomata e filósofo francês Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882).

Gobineau morou no Brasil e atuou como diplomata do governo francês, segundo ele, os brasileiros seriam uma raça extinta em menos de duzentos anos. Isso por ser, em sua maioria, uma população fruto da mestiçagem entre índios, negros e um pequeno número de portugueses.

Ernst Haeckel, biólogo, naturalista, filósofo alemão, que ajudou a popularizar o trabalho de Charles Darwin e que propôs alguns termos utilizados ainda hoje na Biologia como Filo, Ecologia, filogenia e o Reino Protista, também se envolveu no debate sobre o estudo das “raças” estabelecendo que o seu desenvolvimento ocorreria de maneira análoga ao desenvolvimento dos indivíduos e das espécies. Defendeu a ideia de que as ‘raças” primitivas eram uma etapa infantil na marcha da humanidade necessitando por isso de supervisão e proteção das sociedades mais maduras, ele considerava o homem branco o ápice da evolução biológica (PENA, 2008).

2 O DARWINISMO SOCIAL E AS IDEIAS EUGÊNICAS

O Darwinismo Social, segundo Pena (2008), vai propor outra forma de interpretação para as ideias evolucionistas do naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882). Na verdade a palavra evolução na época de Darwin possuía outra conotação, era utilizada para designar as diversas etapas do desenvolvimento de um organismo, o que chamamos atualmente de ontogênese, a palavra utilizada para se referir as mudanças pelas quais os seres vivos passariam do decorrer do tempo era transmutacionismo. O Darwinismo social serviria para justificar o domínio ocidental sobre os demais povos, sendo seus principais representantes os ingleses Edward Tylor (1832-1917) e Herbet Spencer (1820-1903).

Assim os pensadores sociais começaram a transferir os conceitos de evolução, adaptação e seleção natural para a compreensão das civilizações e das práticas sociais. Os europeus estariam em condições superiores aos demais povos. Herbert Spencer foi o mais importante porta-voz dessa teoria social que estava baseada na brutal luta pela existência, pleiteava que a guerra dos fortes contra os fracos, dos ricos contra os pobres, deveria seguir seu curso natural e a sociedade humana alcançaria um nível pleno desenvolvimento, purgando-se os pobres e o os fracos.

Assim a filosofia, a cultura, a ciência e a tecnologia dos europeus eram superiores: ocupavam o topo da civilização e da evolução humana, os povos não-europeus estariam em uma situação inferior, mais próximos das sociedades primitivas. O Darwinismo Social, juntamente com a Antropologia e Etnografia, serviriam de pano de fundo para que as nações imperialistas iniciassem uma verdadeira cruzada de cunho “civilizatório” objetivando levar o progresso aos povos “primitivos” e “atrasados”.

2.1 Francis Galton (1822-1911) e a Eugenia (bem nascido)

Os objetivos da proposta eugênica de Francis Galton, inglês primo de Darwin, era: compreender os mecanismos da transmissão das características hereditárias, melhorar as características do conjunto populacional, aplicar a teoria da seleção natural ao meio social e estimular a reprodução apenas de pessoas saudáveis.

Galton, quando cunhou o termo eugenia, tinha pelo menos uma certeza: provar por medições e cálculos matemáticos que era possível a transmissão de características positivas e negativas dos pais para os filhos. Segundo ele, a transmissão das características não se limitava apenas aos aspectos físicos, mas também a habilidades e talentos intelectuais.

As ideias de pureza racial teve ampla aceitação em diversos países, principalmente na Alemanha, características mentais e, sobretudo, a inteligência eram consideradas hereditárias ao mesmo título dos caracteres físicos.

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