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As Crônicas de Recife

Por:   •  5/12/2018  •  1.917 Palavras (8 Páginas)  •  262 Visualizações

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Observo toda a imensidão bem da ponta do penhasco, enquanto o meu amigo Guilherme se mantém afastado, ambos silenciosos e perdidos em seus próprios pensamentos. As nuvens parecem tão próximas como em uma das minhas músicas favoritas Alice e il blu de Annalisa Scarrone, na qual ela pede um grama de nuvem, ou um pedaço do azul e alguém se dispõe a ir buscar. Queria eu conseguir alcançar um pedaço daquele céu azul para guardar na minha caixinha das memórias, mas há outras músicas que descrevem tudo que o lugar me traz, todas as perguntas e respostas para entender as fragilidades de nossas vidas, e não importa o que aconteça, sei que duas músicas expõem perfeitamente os meus pensamentos no topo daquele lugar chamado de Morro dos ventos uivantes em homenagem ao livro de Emily Bronte. Imagine se si potesse non morire de Modá, e Esseri Umani de Marco Mengoni são as músicas que delineiam meus pensamentos mais confusos, as referências para a vida que jaz adiante e parte da trilha sonora das minhas viagens. “ Imagine se pudéssemos ver as estrelas com o sol? ”

O que posso dizer é que há muito mais história depois do retorno do morro dos ventos uivantes, volto a estrada e continuo em busca de um refúgio repleto de memórias. A última parada é a cidade de Recife, tão bela em aparência e tão podre em seu passado colonial. Uma cidade que segundo Sylvia Couceiro possui duas faces, uma deslumbrante e outra miserável, e tenho que concordar com ela, pois, reza a lenda que só se conhece uma cidade a partir do seu lado pobre e miserável, onde reina a afetividade e as histórias de lutas. Na entrada da cidade de Recife o céu é estranhamente mais bonito, as nuvens parecem flutuar logo acima de nossas cabeças, não há como olhar para outro lugar que não seja o céu. A ponte da entrada da cidade que à muitos traz a sensação de medo, me traz a um turbilhão de boas sensações e dentre elas a de liberdade. Era noite quando cheguei ao centro da cidade, não encontrei hotéis com quartos vagos próximo ao centro, a única saída era dormir em um Motel, não fiz dramas ou recusas, simplesmente fui e acabei por dormir em um Motel chamado de Turquesa localizado na Avenida Canxangá. Tomei um banho e adormeci.

Quando acordei tudo parecia mais alegre, desde as cores da parede em tons entre o ciano e o verde, até a música da rádio Nova Brasil FM, as músicas daquela rádio se tornaram as representações de Recife em minha mente. Acordar ouvindo Elis Regina e Tom Jobim é um daqueles momentos impagáveis que penetram na alma e te deixam feliz pelo resto do dia. Meu telefone toca, ao atender me dou conta que motéis não são como hotéis em que se pode ficar o dia inteiro, pedir comida e etc. O telefonema era de um amigo que mora em Recife no bairro Casa Amarela, me disse que estava a ir me buscar, e quando ele chega nos abraçamos, entramos cada qual em um carro e dirigimos até seu apartamento. Numa discussão divertida decidimos quem vai fazer o café da manhã, por sorte ou falta dela fui a escolhida e começo a preparar a massa para as panquecas de chocolate, tomamos o café e saímos para o Bairro do Recife. Esse bairro sempre foi o que mais me encantou, o vejo como um território meu por tantas lembranças e vivências, como Milton Santos diria, é meu porque deixei também minhas marcas impressas ali. No bairro do Recife vou a um dos meus lugares favoritos, o Shopping Paço Alfândega onde fica a Livraria Cultura com sua imensidão de livros nas mais diversas línguas.

A estrutura de vidro é impressionante, os livros ficam mais visíveis tanto de dentro quanto de fora da livraria. É um lugar feito para passar o dia inteiro perdido em leituras e na música erudita que toca constantemente no recinto, não há lugar melhor para mergulhar em seus próprios pensamentos. Imagino um mundo assim cheio de livros, talvez esteja delirando com tanta informação ou pedindo demais ao mundo capitalista onde vivemos. Depois de horas praticando o flâneur de livros, vamos a um restaurante e comemos uma macarronada vegetariana, pagamos a conta e voltamos a livraria. Por volta das 16hrs subimos para a cafeteria que fica na parte superior da livraria, somos muito bem atendidos e pedimos um café Espresso macchiato e biscoitos de chocolate, e permanecemos ali a apreciar o gosto do café e observar a multidão com Charles Baudelaire até as 17hrs, nos despedimos e vamos ao Marco Zero.

A vista da Praça do Marco Zero é única, as pessoas transitando a passos menos apressados do que se costuma ver nas capitais, vejo muitos prédios históricos de beleza inexplicável e dentre eles o do Banco do Brasil, prossigo a passos lentos a observar cada detalhe. Na praça do Marco Zero uma quantidade imensa de pessoas se apropriaram do lugar, muitos jovens com seus skates e patins a fazer manobras. O vendedor de pipoca a alimentar a vontade de viver de tantos que ali passam diariamente, é como um cinema a céu aberto, tanto a se ver e a se contar. Há também os barqueiros que fazem a travessia para o Parque das esculturas, regidos por normas instituídas por eles mesmos, um vem ao meu encontro e combinamos o preço da travessia, ele se dispõe a ir preparar o barco, e logo em seguida outro barqueiro aparece tentando subverter a ordem de chegada, digo que já combinei com o outro, ele insiste, mas mostro para ele que não vou mudar de ideia. O barqueiro volta e fazemos a travessia para o parque, ele segura minha mão e me fixo ao chão para não cair na água do mar, em seguida repete a ação com meu amigo. Nas pedras mais altas ficamos a admirar o desvanecer do sol e a

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