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A NARRATIVA HISTÓRICA COMO FORMA DE ANÁLISE

Por:   •  25/11/2018  •  3.017 Palavras (13 Páginas)  •  253 Visualizações

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Aos muitos daqueles que desejam transformar os estudos histórico sem uma ciência, o uso contínuo que os historiadores fazem de um modo de representação narrativo é índice de um fracasso a um só tempo metodológico e teórico[6]

Ainda segundo o autor a narrativa é a forma do discurso que nada altera no conteúdo representado, seria uma forma de simular a estrutura e o processo dos eventos reais,

Dessa forma a narrativa representa o lado negativo da história, em que a pesquisa histórica se afastaria de qualquer possibilidade científica ao se aproximar do modo de representação narrativo. Muitos confundem a narrativa da história com a narrativa da ficção, tomando como base os objetivos que cabem a cada uma, vejo que como Hayden White afirma, o que distingue a história da ficção é o seu conteúdo e não a forma, ou seja, a forma de representar do narrador na ficção é uma invenção livre enquanto que para o historiador existe uma restrição que provém da documentação à disposição do historiador, que são vestígios de eventos históricos do passado e que, portanto, não podem ser inventados pelo historiador, somente questionados

O método histórico consiste em investigar os documentos afim de determinar qual é o enredo verdadeiro, ou mais plausível, que pode ser contado a respeito dos eventos, estes entendidos como evidência. Um relato verdadeiramente narrativo, segundo esse ponto de vista, é menos o produto dos talentos poéticos do historiador-pressupostos, quando se trata do relato narrativo de eventos imaginários- do que o resultado necessário de uma aplicação apropriada de um “método histórico”[7]

Ainda segundo o autor a narrativa é a forma do discurso que nada altera no conteúdo representado, seria uma forma de simular a estrutura e o processo dos eventos reais, assim entendendo que ao historiador cabe ‘fazer amarras’ por meio da narrativa nos eventos aos quais tem acesso nos documentos, pois o documento por si só não é história, e a representação dos eventos reais precisa da análise e da participação como já foi dito acima, do historiador, para que a história seja passível de apreciação, interpretação, discussão e mesmo possa dar prazer aos seus leitores.

Nem sempre uma ficção deixa de ter a sua importância para a história, pois ela expressa a narração livre do autor, que é sujeito em um tempo específico e que mesmo sem perceber, pode colocar traços de sua personalidade como também vestígios da realidade social em que vive e de propósito pode abordar a realidade por meio do seu imaginário, tal qual é, por exemplo, a obra de Aldous Huxley, Admirável mundo novo ou 1984 de George Orwell, em que os autores abordam a história por meio de ‘realidades imaginárias’ e criam os seus personagens de acordo com a sua visão subjetiva de eventos históricos reais e cenários políticos e sociais com os quais tiveram contato. Nesse caso, a contribuição seria em forma de documento, que o historiador se proporia a analisar por meio de uma problemática e representa-la por meio da sua narrativa.

No meu caso, se tratam de cartas escritas no século XVIII, mais precisamente requerimentos, para circular livros em Portugal e no Império Português, ou seja, produtos da censura literária estabelecida no período pelo poder estabelecido e concretizado em aparatos censórios bem elaborados, em teoria muito rigorosos.

A minha documentação, como as outras, não traz a história em si, traz vestígios de um período em que a repressão censória era marca do poder monárquico e religioso e que envolve vários paradoxos com relação ao que se proibia ou ao que se liberava para circular. Na minha problemática o foco é a circulação dos livros chamados lícitos, a princípio, pois ao que tudo indica, não há ocorrência de livros proibidos nas listas até aqui questionadas em minhas fontes. Mas a forma de representar esses eventos depende estritamente da narrativa que irei estabelecer a partir das respostas retiradas dos documentos, como fiz acima, pois a minha intenção não é simplesmente catalogar os documentos ou reproduzir as listas de livros evidenciadas em meus documentos mas problematizar as entrelinhas nestes, para escrever uma história da circulação de livros no Império Português do século XVIII, talvez desconstruindo alguns aspectos que já foram dados em histórias escritas sobre a mesma temática anteriormente, assim como o fez o autor ao qual citei no início deste texto.

Uma das correntes que rejeitaram a história narrativa foram os Analles, mas que fique claro que a história narrativa por eles rejeitada tinha como base uma temática política tradicional e representava aquilo que eles desprezavam em termos de metodologia da história, pois como o próprio Lucien Febvre, um dos fundadores desta escola, disse em um dos seus títulos, travavam ‘combates’ pela história, tinham um projeto que carregava muito do que chamavam de tradicional mas que inovava principalmente com relação às fontes vistas de forma mais ampla.

A acusação difundida entre os anallistes é a de que inerentemente a narratividade “dramatiza” ou “romanceia” seu objeto, como se eventos dramáticos não existissem na história, ou se existissem, não fossem adequados aos estudos históricos justamente por seu caráter dramático.[8]

É preciso saber que na historiografia enquanto disciplina problematizadora da história que se escreve, a contextualização é tão necessária quanto na escrita de histórias. Se pensarmos o cenário político-científico do período em que os anallistes se desenvolvem, veremos que a crítica deles não é simplesmente um ataque à narrativa como método, mas a todo um modelo, um projeto é colocado para substituir aquilo que não colaborava com a história enquanto ciência, sendo assim, penso que a forma narrativa de representar eventos históricos a qual me utilizo, não seja a mesma forma narrativa criticada, mas no entanto, as críticas levantadas atualmente, acabam aproveitando o mesmo conteúdo utilizado a partir da primeira metade do século XX, a narrativa sendo confundida com ficção, com romance ou drama, sendo colocada como pilar do anti-cientificismo. Entretanto, em períodos em que mesmo o conceito de ciência passa por discussões profundas acerca do que é e de a quem serve, não há muitas razões para nos preocuparmos, mesmo porque, se levarmos em conta a história da ciência se desenvolve graças aos embates e os ‘problemas’ levantados pelos sujeitos que defenderam projetos divergentes, assim como hoje.

Por outro lado, as contradições da crítica sobre a narrativa atual deixam lacunas para a escrita da história, uma vez que ao mesmo

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