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A CAMPANHA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO EM MASSA NA CUBA PÓS-REVOLUÇÃO

Por:   •  20/4/2018  •  11.770 Palavras (48 Páginas)  •  515 Visualizações

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Para tanto, a concepção pedagógica cubana era orientada pela filosofia marxista, mesmo que a Revolução tenha tardado a se admitir socialista, baseada na combinação entre estudo e trabalho, e pelo pensamento de José Martí, herói nacional que deu a vida pela independência do país. A evocação deste personagem da história de Cuba fora, sobretudo, uma maneira de articulá-lo aos anseios de uma nova sociedade, cuja construção seria garantida pelo governo, proporcionando, assim, plena adesão popular pautada na integridade de sua própria memória, além de recordar a forte tradição revolucionária deles característica desde as lutas contra o jugo colonial até a desvinculação dos desmandos norte-americanos sobre a ilha.

O preceito proposto por José Martí sobre a importância de vincular estudo e trabalho para a formação do homem levou à promoção da participação de estudantes universitários, e até mesmo de alunos do segundo grau, em trabalhos físicos. Era preciso substituir o vazio deixado, então, pelo abandono maciço dos campos de cana, quando surgiam outras oportunidades de emprego para os trabalhadores rurais. O nível médio de conhecimentos era baixo demais, mesmo depois da campanha de alfabetização, do auge da campanha de educação primária em massa ou, posteriormente, da campanha de educação secundária básica. Hoje, a educação superior se massificou, começando pelos médicos e educadores e continuando com os trabalhadores sociais, os da informática, os instrutores de arte - com a universalização dos estudos universitários para grande número de carreiras.

A partir disso, defendo que, apesar de ter infligido uma série de restrições ao pleno desenvolvimento econômico cubano, o embargo sofrido pela ilha acabou por oferecer as condições necessárias para a instauração de um projeto com tamanho êxito e vulto, uma vez que permitiu a universalização do ensino, o que não seria possível caso Cuba estivesse presa às determinações da política imperialista norte-americana. Esta, que apregoa uma política educacional voltada para a formação mão-de-obra barata que corresponda às demandas de um mercado de trabalho, que, por sua vez, respeita as imposições de um projeto de sociedade diferenciado do cubano, imputa aos países em desenvolvimento a posição de mero apoio de seus anseios. Uma vez livre deste jugo, Cuba poderia, enfim, pôr em prática um programa educacional afim ao seu próprio projeto de sociedade.

Chama a atenção o fato de um país como Cuba, ainda atrasado no que diz respeito ao seu nível de desenvolvimento econômico, apresentar índices de analfabetismo e escolarização que destoam dos demais países latino-americanos, haja visto que é comum a correlação entre “pobreza” e analfabetismo. Tendo em vista as singularidades de cada país, é relevante analisá-las, não enquanto fenômenos independentes, mas, segundo o contexto em que se inserem bem como os condicionantes históricos que as sustentam.

Cuba não reúne apenas qualidades, visto que seus próprios habitantes, seduzidos pelo aparente conforto e fartura forjado pelo capitalismo, almejam deixar seu país, convencidos de que alcançarão melhores condições de vida. A propaganda capitalista logra sucesso neste sentido, mas demonstra-se ficcional quando na sua prática de fato. A realidade dos fatos mostra-se ainda mais cruel além da ilha. A consolidação do processo revolucionário através da educação demonstrou-se promissora. Nesta primeira fase do esforço pela educação de que trataremos no presente trabalho, a ênfase na educação primária, a erradicação do analfabetismo e a interiorização das escolas apontam para a perseguição da hegemonia. Possui o duplo efeito de apropriação da revolução pelo povo cubano e de elevação do grau de conhecimento da força de trabalho para corresponder às necessidades dos caminhos que levam ao socialismo.

Em Cuba, o aspecto militar é decisivo, mas é frágil no sentido político. A Revolução Cubana está inscrita num contexto de ruptura com o capitalismo e marcha rumo ao socialismo. Um movimento que se pretendia, primeiramente, democrático-burguês, pretendera-se suficientemente madura para assumir a filosofia política revolucionária e a marcha para o socialismo[1]. A partir disto, a educação aparece como algo que virá a consolidar a vitória militar politicamente. Assim, tornaria politicamente hegemônica a derrocada da ditadura de Fulgêncio Batista. Pela educação, duas limitações da Revolução seriam superadas. Formando uma “nova mão-de-obra” e um “novo homem”, a herança colonial da dependência dos Estados Unidos e o isolamento político da liderança revolucionária militar seriam suplantados.

O novo homem e a nova sociedade pretendidos não consiste, no entanto, em produtos finais, mas no ponto de partida para o desenvolvimento efetivo do socialismo e a posterior superação deste pelo comunismo. E, somente uma revolução pedagógica seria capaz de minimizar os desconfortos iniciais a fim de que se alcançasse, visto que, sem repudiar a aceleração da do desenvolvimento, seria priorizada a aceleração da revolução. Fidel Castro propugnava, para tanto, o respeito aos princípios do marxismo-leninismo, fundando a combinação de dois fatores: a gestação de um “novo homem”, com uma postura diferente perante a vida; e o concomitante avanço técnico que viria a aumentar a produtividade e a proporcionar maior abundância de bens.[2]

Revolução e educação confundem-se em Cuba. Superestrutura e infraestrutura correspondem a si dialeticamente de maneira extremamente complexa. Uma vez que a educação é entendida como um meio de transmissão e acumulação de conhecimentos formais, percebe-se uma espécie de “revolução de cima para baixo” que indica a desarticulação entre o político e o militar na Revolução Cubana. A educação lograria articular o político e o militar, a vitória sobre Batista, as lideranças revolucionárias nacional-democráticas e as massas exploradas. A busca desta “revolução de cima para baixo” pela legitimidade popular faz com que as massas radicalizem as promessas de justiça social, apropriando-se da revolução, que passa a ter perspectivas de matizes mais radicais.

O primeiro objetivo do projeto em questão é a análise dos antecedentes históricos que remetem à tradição revolucionária cubana e que culminaram na Revolução de 1959 e, consequentemente, no singular projeto educacional cubano.

Em seguida, faz-se necessário explorar a relação entre o processo revolucionário e aquele de alfabetização, ou seja, de que maneira a tradição revolucionária cubana e o discurso dos agentes alfabetizadores influíram

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