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Etnografia, Ilha das Flores e Bruno Latour

Por:   •  18/4/2018  •  1.464 Palavras (6 Páginas)  •  389 Visualizações

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- Quanto à formação teórica do pesquisador:

O curta-metragem fora escrito e dirigido pelo cineasta Jorge Furtado, tem formação parcialmente autodidata, entretanto cursou medicina, psicologia, jornalismo e artes plásticas mas não concluiu nenhum dos cursos. A reportagem fora feita pelo Editoial J, o laboratório de jornalismo da Famecos/PUCRS. O livro, por sua vez, fora escrito por Bruno Latour, um antropólogo, sociólogo e filósofo da ciência e Steve Woolgar, sociologista. Partindo-se de tais considerações, podemos evidenciar que Latour (juntamente com Woolgar) apresenta uma capacidade teórica maior que a de Jorge Furtado e dos estudantes de jornalismo para a produção de uma etnografia.

- Quanto à exploração contida na obra:

Em Ilha das Flores, o problema a ser questionado seria, de certa forma, a mecânica da sociedade de consumo e a desigualdade social gerada a partir da mesma. A reportagem, por sua vez, busca problematizar a falta de veracidade nos dados contidos no curta-metragem citado anteriormente e na repercussão que este teve na vida dos moradores da suposta “Ilha da Flores”. Em A Vida de Laboratório, Bruno Latour busca questionar a ideia de que as ciências são fatos adquiridos e, por isso, não permitem estudos a respeito de como suas práticas se dão, impulsionado pela questão sobre o por que é tão difícil encontrar profissionais costa-marfinenses competentes para substituir profissionais franceses de uma empresa francesa situada na Costa do Marfim.

- Quanto às decisões tomadas:

No curta de Jorge Furtado, não fica claro como foi feita a coleta de dados sobre a cultura dos moradores da Ilha, mas ao assisti-lo, acredita-se que o cineasta tenha visitado a Ilha e tenha observado o que se passava por lá ou, até mesmo, que tenha pesquisado a respeito disso. Entretanto, ao assistir a reportagem (feita 22 anos depois), podemos afirmar que o curta não foi fiel à realidade e, se o foi, esta realidade não fora relatada pelos viventes da cultura em questão, uma vez que estes têm a palavra na reportagem e questionam muitos dos “fatos” apresentados no curta-metragem. Já o livro apresenta fatos descritos minuciosamente e vivenciados pelo pesquisador em sua experiência no laboratório química na Califórnia.

- Quanto à descoberta feita:

Como foi dito no tópico anterior, não podemos dizer que essa descoberta tenha sido feita de maneira correta por João Furtado em seu curta-metragem, uma vez que, apesar de ter enxergado uma ordem nas coisas que aconteceram (fato evidenciado pela maneira como o curta acontece), ele não foi capaz de descrever corretamente a realidade. Na reportagem, essa descoberta foi feita ao entrevistar os moradores da Ilha. No livro de Latour e Woolgar, podemos ver que no início, todas as situações que acontecem dentro do laboratório parecem, para o pesquisador, estranhas e sem sentido, uma vez que ele não conhece nada de laboratórios ou cientistas. Entretanto, ao longo do livro, ele começa a se familiarizar com os termos, rotinas, costumes e etc. dos cientistas naquele laboratório.

- Quanto à escrita da etnografia:

Apesar de não ser um texto escrito, “Ilha das Flores” é narrado e apesar de ser feito em terceira pessoa e apresentar uma suposta imparcialidade nos fatos expostos, mais uma vez não condiz com a realidade. O fato de este ter sido baseado em uma opinião de Furtado a respeito dos fatos invalida toda e qualquer característica que o curta tenha de etnográfico. “Ilha das Flores: depois que a sessão acabou” acaba complementando o que teria faltado no curta, uma vez que considera a história que é contada pelos Outros, os viventes da cultura da suposta “Ilha das Flores”, porém, assim como seu antecessor, não tem embasamento teórico, trata-se apenas de um esclarecimento sobre uma problemática. Em tratando-se do livro “A Vida de Laboratório: A produção dos fatos científicos” os fatos são descritos conforme vão acontecendo, de forma cronológica e descritiva de acordo com as anotações feitas pelo observador. Ele observa, recebe as informações-dados e, em seguida, após a descoberta, relaciona os fatos às teorias de modo a fazer da cultura que antes era estranha para si, tão familiar quanto possível, uma vez que agora ele a entende.

Referências Bibliográficas:

- LATOUR, Bruno., WOOLGAR, Steve. A vida de Laboratório: A produção dos fatos científicos; [tradução Angela Ramalho Vianna] – Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997.

- ILHA das Flores. Direção: Jorge Furtado, Produção: Casa de Cinema de Porto Alegre, 1989.

- ILHA das Flores: depois que a sessão acabou. Editorial J. Porto Alegre, 2011.

- https://pontourbe.revues.org/300

- http://www.cpaqv.org/epistemologia/metodoetnografico.pdf

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