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Resenha de Bruno Latour

Por:   •  15/9/2019  •  Artigo  •  1.524 Palavras (7 Páginas)  •  518 Visualizações

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Resenha de Bruno Latour

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Resenha de GRAMSCI, Antonio. A organização da Escola e da Cultura. IN.: Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982, p. 117 – 157.

Textos como os de Gramsci merecem uma atenção especial, pois as circunstâncias históricas não são só relevantes para contextualização da obra deste autor como também estão inscritas na própria escrita dele. Lidar com os “Cadernos do Cárcere” (de onde é extraído o texto da presente resenha), quando o autor é um comunista num regime fascista, são os fatores (imprescindíveis) a considerar. Considera-se igualmente pertinente traçar correspondências destes textos com o conjunto da obra, tendo uma visão geral de como os estudos gramscianos da questão da “organização da cultura” se relacionam com a análise do conjunto das relações sociais das quais a educação e os intelectuais estão “organicamente” (ou não) imersos.

Antonio Gramsci (1) desenvolve seus estudos sob uma base filosófica, a saber: a filosofia da práxis. Para o autor, a “teoria” e a “prática” não deveriam estar dissociadas, o que implica em conceber, igualmente, que todo estudo deveria ser compreendido como político e/ou atendendo a certas práticas políticas (ainda que implicitamente). Sua própria atuação política reflete tal perspectiva. Gramsci possuía certa originalidade na leitura do Materialismo Histórico Dialético. Buscou desenvolver a questão do “intricamento” entre a superestrutura e estrutura econômica na teoria marxista, conforme podemos perceber nesta passagem (2):

- Todo grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria para si, ao mesmo tempo, organicamente, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e político: o empresário capitalista cria consigo o técnico da indústria, o cientista da economia política, o organizador de uma nova cultura, de um novo direito, etc. (GRAMSCI, 2001, p. 15).

Esta ampliação da noção de superestrutura como organicamente ligada ao “mundo da produção econômica” (3) também está contida no estudo da “organização da cultura”. A noção de organicidade, diz respeito a esta “função orgânica” que operam os intelectuais com sua organização da cultura no “grupo social” (4) correspondente. No caso específico com a qual trabalha Gramsci, se trata de uma análise das condições da Itália, ainda que podemos tirar linhas gerais de suas concepções. Com o desenvolvimento das forças produtivas, no meio urbano e rural, as escolas, enquanto centros de organização da cultura, passaram por uma “tendência” que se relaciona com as atividades praticas-intelectuais (práxis) no seio dessas transformações: “segundo a qual cada atividade prática tende a criar para si uma escola especializada própria, do mesmo modo como cada atividade intelectual tende a criar círculos próprios de cultura, que assumem a função de instituições pós-escolares especializadas em organizar as condições nas quais seja possível manter-se a par dos progressos que ocorrem no ramo científico próprio” (GRAMSCI, 1982, p. 119).

O fenômeno analisado por Gramsci diz respeito à “desordenada” especialização e particularização de escolas técnico-profissionais. Estas escolas surgem da “crise orgânica mais geral” (GRAMSCI, 1982, p. 118), onde a antiga divisão entre “escola clássica” (humanista, visava desenvolver a cultura geral e era destinada às classes dominantes e seus intelectuais) e “escola profissional” (destinada às classes instrumentais como qualificação da força de trabalho) perde o sentido. Surgem as “escolas técnicas” para a formação de intelectuais (de classes de transição, ou seja, as camadas médias, a “pequena burguesia”) que operariam profissões não manuais, de dirigência técnico-cultural da organização dos dois níveis superestruturais, a saber, a sociedade civil (nas instituições privadas, emprego dos especialistas que encaminhariam resoluções de ordem técnica) e o Estado (nas instituições públicas, emprego de funcionários em cargos administrativos-burocráticos e deliberativos).

Este fenômeno se relaciona com a divisão social do trabalho que Marx e Engels (2007, p. 37) nos falam: “o trabalho começa a ser distribuído, cada um passa a ter um campo de atividade exclusivo e determinado”. Interessante notar que a divulgação do manuscrito da “Ideologia Alemã” em publicação só veio posteriormente aos escritos de Gramsci. O filósofo italiano considera que essa divisão que, para Marx e Engels se apresenta como um poder estranho, é ampliação orgânica do desenvolvimento da “base industrial”, uma necessidade que passa a ser suprida “sem princípios claros e precisos, sem um plano estudado e conscientemente fixado”. Uma das consequências desta tendência seria a multiplicação incessante dessas “escolas técnicas” (privadas).

Diante dessas condições ele analisa uma tentativa de reforma educacional chamada de “escola ativa”. Esta reforma, segundo o autor, era reagente à forma tradicional, colocando o problema educacional idealistamente, isto é, fixando deontologicamente um tipo ideal de escola, pressupondo (mesmo que implicitamente) um certo inatismo indiferenciado nos indivíduos, portanto estabelecendo práticas pedagógicas abstratamente (fenômeno que, podemos dizer, não se restringe à Itália

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