FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA MICROETNOGRAFIA
Por: kamys17 • 7/6/2018 • 962 Palavras (4 Páginas) • 321 Visualizações
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José Augusto, o “Ceguinho” é o mais “experiente”. Com 35 anos, vive desde pequeno naquela rua e é usuário desde os 12. Já foi preso inúmeras vezes por furtos e assaltos e já matou cinco pessoas. O apelido vem de seu problema de catarata não tratada que o deixou cego do lado direito. Ceguinho relatou que já foi de gangues, me mostrou cicatrizes dos tiros que já levou no pé, no braço, na coxa, no ombro e de raspão. É pai de quatro filhos e vive de bicos clandestinos e também do tráfico de drogas. Ele também já agrediu alguns meliantes que se “atreveram” a querer assaltar naquele perímetro da rua e atualmente está à procura dos bandidos que roubaram a casa da vizinha Claudinha, que para aterrorizá-la atearam fogo numa casa abandonada que ficava entre a dela e a dele.
Todos os quatro relatados acima são amigos, compartilham dos mesmos hábitos e têm experiências parecidas. Mas uma coisa em comum entre eles foi o que mais me chamou atenção: o fato deles não furtarem ou assaltarem nenhum de nós e ainda por cima formar uma espécie de “segurança” para esta rua, pois, Ceguinho com a ajuda dos outros rapazes já conseguiu até recuperar objetos roubados e devolvê-los aos donos. Eles cometem suas infrações em outros bairros e locais da cidade, mas naquele perímetro os moradores são poupados e respeitados por eles. Nenhum deles chegou a ser preso pelos assassinatos cometidos e vivem tranquilos na certeza de que, mesmo que a polícia tenha conhecimento dos seus atos, os prenderá no máximo por algum furto ou assalto.
A experiência de conversar mais a fundo com esses rapazes mostrou que, por trás daquela máscara de terror e medo estampada pelas drogas, há pessoas felizes, trabalhadoras, que se preocupam com seus entes, que respeitam seus conhecidos e que possuem perspectivas de vida positivas. Não são pessoas ruins, são pessoas que cresceram conhecendo aquela rotina, aquela cultura, que possuem históricos de violência em suas famílias e que carregam isso como um instinto de sobrevivência.
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